Pensar Brasilia

DF deve ampliar potencial econômico para superar dependência de serviços

postado em 02/12/2012 15:30


Planejada e construída para receber a máquina administrativa federal, que antes ficava na cidade do Rio de Janeiro, Brasília apresenta índices que refletem os efeitos do crescimento urbano desordenado. O Distrito Federal tem o maior PIB per capita do país, por conta dos altos salários que o funcionalismo público proporciona, mas apresenta a pior distribuição de renda entre as unidades da Federação. Segundo dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), a diferença chega entre os mais ricos e os mais pobres pode chegar a oito vezes, quando se compara o Lago Sul com a Estrutural.

Atualmente, o Distrito Federal depende basicamente de um setor da economia. De acordo com dados da Codeplan, 93% do PIB vêm do setor de serviços. Dentro do setor, a Administração, Saúde e Educação públicas representam 59,55%. Já o setor agropecuário no Distrito Federal responde por apenas 0,47% do PIB local, dos quais 0,39% se referem à agricultura. A atividade industrial tem peso de 6,58%. Esstes dois setores exercem, portanto, pequeno impacto no desempenho global. Observa-se, ainda, que, por apresentar o maior PIB per capita entre os estados brasileiros, o DF é uma potência de oportunidades de investimentos neste setor, tanto em serviços quanto em comércio.

[SAIBAMAIS]Para o presidente da Codeplan, Júlio Miragaya, o principal desafio para o desenvolvimento econômico do DF é diversificar a sua estrutura econômica. Segundo ele, a região sente falta principalmente de um setor industrial dinâmico. O executivo aponta que uma das consequências da instalação de indústrias nas regiões administrativas seria a descentralização da atividade econômica no Plano Piloto.

;Temos que fazer o dever de casa. É preciso montar infraestrutura adequada para que as indústrias tenham interesse de vir para cá;, explicou Miragaya, que mencionou entre os principais entraves a falta de transporte urbano, a pouca oferta de energia e a inexistência de uma malha ferroviária. ;Se você tiver estrutura, você pode trazer até uma indústria automobilística;, acrescentou. Em seguida, seria necessário estudar os perfis econômicos das regiões administrativas do DF. Para Miragaya, no Plano Piloto, por exemplo, funcionaria bem um polo digital.

;A única saída é investir em inteligência, em indústria de ponta, em indústria limpa;, complementa o ex-professor de Arquitetura da UnB e ex-deputado distrital Salviano Guimarães ; que já participou de diversos governos do DF ao longo dos anos e atualmente dirige a Diretoria Administrativa e Financeira da Codeplan. Mas, para desenvolver essa vocação, segundo Guimarães, é necessário um investimento maciço tanto em infraestrutura ; principalmente em transporte ; quanto em educação.

De acordo com o professor de economia da UnB Roberto Piscitelli, multiplicar a indústria brasiliense não seria a principal saída. ;Temos que melhorar esse perfil, essa concentração de atividades econômicas, além de diversificar essas atividades de serviços, introduzindo alta tecnologia neles;, explica. Miragaya também concorda com a diversificação do setor de serviços, e sugere que Brasília poderia ser uma referência em saúde privada e educação por conta do alto poder aquisitivo local.

Segundo o professor da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) José Luiz Pagnussat, além da sua vocação natural como centro administrativo do país, o DF tem um espaço importante para industrialização e comércio, e poderia explorar ainda mais sua potencialidade como um polo irradiador econômico do Centro-Oeste. Mas Pagnussat sustenta que o DF deveria empenhar-se em outras vocações. ;Brasília poderia, por exemplo, ser um grande polo de relações internacionais, com sedes de organizações multilaterais internacionais;, exemplificou Pagnussat.

No ponto de vista do presidente da Codeplan, a sociedade e o poder público brasilienses, porém, não veem necessidade em atrair outros tipos de investimento para a cidade. ;É o gigantismo do setor público que atrofia todo o resto;, explica Miragaya. Salviano Guimarães sustenta inclusive que Brasília cumpriu a sua missão como a nova capital político-administrativa do País e que o momento é de investir para que o setor produtivo possa absorver uma mão de obra gestada no quadrilátero, que é altamente qualificada. ;Este investimento governamental e essa capacidadee de absorção de mão de obra no serviço público se exauriu e daqui para frente quem deve gerar emprego é a iniciativa privada;, completa.

Piscitelli sugere que, para o DF se desenvolver economicamente, é preciso mais visão política, além de um governo integrado e multidisciplinar com planejamento de médio e longo prazo. É necessário, ainda, que a sociedade civil se organize melhor para encontrar prioridades. ;Se o governo trouxer a classe empresarial para junto de si, buscar o conhecimento da academia e esses três setores trabalharem juntos, o desenvolvimento econômico do DF é inevitável;, arrisca Salviano Guimarães.

Mas aí tem que fazer o dever de casa. É preciso montar uma estrutura para que as indústrias tenham interesse de vir para cá;
Júlio Miragaya, presidente da Codeplan

Se o governo trouxer a classe empresarial para junto de si, buscar o conhecimento da academia e esses três setores trabalharem juntos, o desenvolvimento econômico do DF é inevitável;
Salviano Guimarães, ex-professor de Arquitetura da UnB e ativo participante de governos locais

Produto Interno Bruto
O Produto Interno Bruto é o principal indicador de análise do desempenho de uma economia e representa toda a renda gerada na economia pelos diversos agentes produtores, ou seja, corresponde ao valor a preços de mercado, de todos os bens e serviços finais produzidos em um território geográfico no período de um ano.

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