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Mercado de trabalho do DF é atípico, diz secretario adjunto do Trabalho

postado em 02/12/2012 16:00
Divino Valério, secretário adjunto da Secretária do Trabalho no GDF

Depois de passar por vários setores do governo, Divino Valério é, há quase 80 dias, secretário adjunto da Secretaria de Trabalho do Distrito Federal. A pasta é desafiadora: o desenvolvimento econômico de qualquer cidade passa por políticas públicas de geração de emprego e de renda. Com a massa de trabalhadores mais bem informada e qualificada do Brasil, uma população considerável que pendula diariamente entre o cinturão goiano e o Plano Piloto, além de um setor público ultradimensionado, o mercado de trabalho do Distrito Federal é atípico.

A meta é ousada: qualificar 27 mil pessoas até 2014. O número deve melhorar a qualidade dos serviços, diminuir a taxa de desemprego de 12,5% ; uma das mais altas do país ; e aumentar a geração de renda no Distrito Federal. Segundo dados da secretaria, as áreas que mais empregam são telemarketing, camareiro e garçom. Quanto a outros projetos para 2013, há estudos para a criação de cursos para formação de atendentes de farmácia, de vigilantes e um projeto de qualificação de trabalhadores para atuarem na futura Cidade Digital.

;Se não for pensado o Entorno como parte permanente do DF, todas as ações que nós estamos fazendo vão ficar aquém da real necessidade;, pondera Divino Valério, ao falar sobre a pressão que o cinturão goiano exerce na capital. Para o secretário, o principal desafio do governo vem de fora: gerar emprego e renda pra esta população flutuante que migra para Brasília todos os dias para trabalhar e em busca de emprego. A missão da secretaria para acelerar a criação de empregos no DF vai além da qualificação profissional da população da capital e do Entorno. ;E esse gargalo não depende somente da nossa política local. Eu defendo que é preciso uma política maior, do governo federal, porque nós temos outra especificidade: nós estamos falando de outro estado, de outro controle;, lembra o secretário adjunto em entrevista ao Correio.


Como funciona o mercado de trabalho no DF atualmente?
Primeiro, temos uma população eu chamaria de endógena, de dentro do DF, de mais de 2 milhões de habitantes e nós temos uma população chamada de exógena, da região metropolitana, que engloba os 22 municípios mais próximos. Nela, vivem mais de 1 milhão e 800 mil habitantes. Na somatória, temos aproximadamente 4 milhões de pessoas. Segundo, que o DF, por ter uma área tombada como patrimônio histórico e limitações naturais, não tem condições de abrigar grandes indústrias. Por último, nossa tendência de mercado evoluiu para criação pelo governo dos parques tecnológicos. Brasília, hoje, não é só uma cidade administrativa. A prova disso é que há mais de 15 anos não há um concurso público em larga escala, a cidade não parou de crescer e as empresas continuam aqui. A tendência é de crescimento de serviços, de autossourcing, de tecnologia e de outros setores. Agora, o comércio é muito forte.

[SAIBAMAIS]Qual é o nível dos candidatos em concursos públicos?
Em qualquer outro estado do Brasil, fazendo uma análise macroeconômica, a maioria dos concursos, se você pegar a lista dos participantes, é de nível médio. Você tem uma heterogeneidade de condições culturais para disputar naquela prova. Se você pegar no Distrito Federal, é diferente. Basta dizer que no DF a Polícia Civil tem que ter nível superior, a PM tem que ter curso superior. Então, os quesitos formação, preparação e capacitação são imperativos para que você tenha sucesso no mercado de trabalho do DF. Você tem que estar naturalmente preparado, capacitado, para estar apto.

Em que setores há maior empregabilidade?

Construção civil, serviços e comércio. Eu até analiso a construção civil com certa ressalva porque é um indicador fortíssimo, mas é importante entender a sua sazonalidade. Só o estádio gera uma quantidade altíssima de empregos. Terminada a obra, qual é a nossa preocupação? Tem que entender o mercado e dar continuidade a esse trabalhador pra ver se ele continua nessa área ou vai para outra profissão.

Como acelerar a geração de empregos nos próximos anos?
Na geração de empregos, o papel específico da Secretaria de Trabalho é dar condições técnicas e de desempenho ao indivíduo para enfrentar os desafios do mercado. O Governo do Distrito Federal realiza, em conjunto com o Ministério do Trabalho, programas específicos para atender essa demanda setorial. Quem determina a prioridade é o próprio mercado. Fazemos um estudo situacional e, em cima disso, se definem metas, quantidade de vagas, oportunidade, perfil, até idade mais apropriada para cada curso. Todos esse trabalho se embasa em diagnósticos do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), das empresas, dos sindicatos, do governo, e do conjunto da sociedade organizada e que trabalha no conjunto das indicações de tendências.

Quais são as ações do governo para atender a demanda do mercado?

Estamos às vésperas da Copa das Confederações. Depois, temos a Copa do Mundo e as Olimpíadas, que ocorrerão no Rio de Janeiro, mas terão reflexos aqui. O governo investe maciçamente em outros setores que precisam de mais competitividade, mas não possuem massa de mão de obra qualificada para supri-los. O Qualificopa é um exemplo. Você tem cursos de qualificação profissional para as classes C, D e E ; cozinheiro, padeiro, telemarketing, garçom ; e o %2bAutonomia para a qualificação de autônomos. Além disso, atuamos em conjunto com o programas do Ministério do Trabalho que também tem o seu conjunto de ações.

Por que o nível de desemprego do DF é maior que a média nacional?
Essas variações dependem muito do perfil de desenvolvimento do estado. São Paulo, por exemplo, é um estado histórico na área das indústrias, das grandes empresas. É natural que a oferta de trabalho e a demanda sejam outras. Outro fator importante é que no DF temos duas populações. Você tem uma população real e uma população virtual, que não é mensurada. Qual é a minha população real: 4 milhões de habitantes. Qual é a minha população declarada: 2,5 milhões. Porque aí entra a questão do Entorno.

Como a população do Entorno se insere no mercado de trabalho do DF?
A população do Entorno, principalmente as categorias C D e E, busca emprego no DF, só que não consta das estatísticas de Brasília. Para chegar a um dado mais aproximado, seria necessário que somássemos a população das cidades vizinhas. O desemprego deve ser medido em termos de 4 milhões de pessoas. Agora, mesmo com esse viés confuso, é importante se dizer que conseguimos garantir emprego a 90% dos que participaram de nossos cursos de qualificação. Na maioria deles, muitos dos alunos residem fora do DF, mas fazem o curso aqui.

Mas como essa pressão do Entorno acontece?

Esse limite é teórico. É preciso se criar oportunidades de emprego e renda para as cidades do Entorno. A procura pelos serviços é naturalmente diminuída na medida em que esses municípios tenham uma saúde de qualidade, um prontoatendimento, uma segurança capaz de garantir ao cidadão tudo aquilo que ele tem direito, uma cobertura do serviço público, mas é preciso lembrar que essa população trabalha, produz e gera muitos benefícios para Brasília. Agora, a solução técnica é dar condições para que essas pessoas possam ser atendidas nos municípios em que vivem.

Quanto o estado de Goiás está envolvido para resolver o problema do Entorno?

Olha, eu acredito que Goiás e Distrito Federal estão muito empenhados em resolver isso. Esses gargalos já estão em discussão. A maior prova disso é que os dois governos criaram secretarias do Entorno para servir de interface entre as duas unidades da Federação.

Dentro desse cenário, quais são os desafios da sua pasta para a geração de emprego?
Se pararmos para fazer uma análise mais crítica, não temos muitos espaços para instalação de grandes empresas ou de indústrias. Brasília concentrou-se muito em serviços. É uma cidade tombada como patrimônio histórico e com todas as áreas e setores bem delimitados. Isto inibeo processo de desenvolvimento. Mas nosso maior desafio é como gerar emprego e renda na região metropolitana. Aí é inverter o processo de serviços, todo centrado Plano Piloto. Qual é o maior desafio? Criar emprego e renda para as cidades do DF e principalmente para a região metropolitana. Segundo, a questão da capacitação da mão de obra desse pessoal nessas regiões do Entorno e terceiro, definir o perfil desse desenvolvimento econômico atrelado à qualificação profissional no próprio Entorno.

Mas qual é o caminho a seguir para vencer esses desafios?

É preciso definir novas áreas, criar outras fronteiras, gerar emprego e renda pra esta população flutuante. Aí sim haveria um equilíbrio entre oportunidade, o mercado e a renda. E esse gargalo é uma situação que não depende somente da nossa política local. Eu até defendo que é preciso uma política maior do governo federal. Porque nós temos outra especificidade: o Entorno está em outra unidade de Federação. Se nós não resolvermos os problemas de emprego e renda e desenvolvimento econômico da região, todos os esforços serão sempre insuficientes. Se você olhar o mapa demográfico, a cidade de Águas Lindas foi a terceira que mais cresceu nos últimos anos. E essa população migra para cá. Temos que discutir políticas públicas de emprego e renda para a região metropolitana. Aí sim, podemos fazer uma estatística baseada em pontos setoriais. É preciso envolver o estado de Goiás, o governo federal e discutir criação de obras de infraestrutura, áreas de desenvolvimento econômico, perfis. Quanto a nós, dentro desse macroestudo, cabe ajudar na questão da capacitação profissional, para que as empresas que se abrigarem no Entorno tenham mão de obra qualificada.

Qual é o futuro do emprego no DF?

Eu acho que todos esses obstáculos vão sendo rompidos, vencidos, executados. E eu vejo com muita tranquilidade um futuro muito próspero, muito bom, e sinceramente eu não consigo ver Brasília isolada mais. Hoje, você sai de carro daqui e vai para Luziânia e não vê nenhuma área de mata, é tudo casa. Então, essa linha é imaginária. Por isso, a gente adota esse pensamento holístico de que é preciso gerar emprego e renda para esta população da região metropolitana. Se não for pensado o Entorno como parte permanente do DF, todas as ações que nós estamos fazendo vão ficar aquém da real necessidade.

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