Pensar Brasilia

Brasília pode se transformar em um grande polo logístico para o agronegócio

postado em 02/12/2012 16:07
Doutor em ciências econômicas e sociais, Patrick Maurice Maury

A Brasília no século 21 cumpriu o papel desenhado estrategicamente por Juscelino Kubitschek quando decidiu transferir a capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central. Atualmente, dinamiza a maior fronteira agrícola brasileira, o cerrado, que se transformou num grande polo de desenvolvimento. Sua influência econômica ultrapassa os limites da recente Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride-DF), alcançando uma área muito maior que as fronteiras goianas e mineiras. Chega a afetar diretamente os estados de Tocantins e da Bahia.

Esta foi a tese defendida durante a quinta edição da série Pensar Brasília por Patrick Maurice Maury, doutor em ciências econômicas e sociais para a América Latina pela Universidade de Paris. Segundo ele, a vocação do Distrito Federal seria a de transforma-se em um grande polo logístico. Para isso, seria necessário estender as ligações ferroviárias para a malha Norte-Sul e ampliar a capacidade de carga das rodovias já existentes. ;Temos que pensar em outra escala, numa escala de influência que Brasília tem de fato no Brasil. E é nessa escala que está o futuro do crescimento da cidade;, acentuou Maury.

[SAIBAMAIS]O espaço geográfico e estratégico do Distrito Federal, dessa forma, propicia um maior investimento em logística não só em âmbito regional e nacional, mas internacional. O especialista pondera que Brasília poderia se aproveitar deste potencial, pois movimenta um valor considerável de recursos. ;Existe um buraco em relação à América Latina. São Paulo já está saturada, Rio de Janeiro não tem perspectiva. Onde estaria naturalmente a saída: Brasília.;

Durante o seminário, o francês defendeu ainda que é preciso encontrar a real vocação do Distrito Federal. No entanto, para desenvolver estas vocação, é necessário que as empresas e os governos da região se mobilizem para ver onde é importante atuar, ao invés de visar somente lucros pontuais. ;Se Brasília não for capaz hoje, em nível empresarial, de se organizar com Goiás, Minas Gerais, Tocantins e Bahia, todo mundo vai perder. Aí perde o país;, afirmou.

Ele alertou para a concorrência exercida por Goiás. ;Anápolis conseguiu a licença necessária para a construção de um aeroporto internacional de cargas e não há espaço para duas instalações similares em um distância tão pequena;, afirmou. Caso isso ocorra, a saída seria enfatizar a formação de um polo agroindustrial em Planaltina. (Leia mais ao lado)

O especialista sugeriu ainda que o poder público em geral deixe de lado a política de incentivos fiscais para atrair empresários para a capital, que, quando terminam, deixam o empresário livre para sair da região para encontrar um novo lugar mais competitivo. Na sua visão, o Distrito Federal, por suas peculiaridades, já é bastante atraente.

A cidade possui o maior PIB per capita do país, acima de R$ 50 mil e o DF movimenta uma riqueza de R$ 140 bilhões. Com uma área de influência que alcança 400 km, cria-se uma enorme capacidade para atrair investimentos. ;Tem a possibilidade de trazer a produção da região para cá porque de fato o mercado de luxo e de consumo de produtos sofisticados está aqui;, acrescentou. No mais, Brasília tem uma dinâmica que já atrai empresários do agronegócio e ainda concentra um capital intelectual relevante. ;Mas este potencial está muito encastelado dentro das universidades. Eles contribuem muito pouco para a construção da realidade, para mobilizar um modelo de desenvolvimento;, criticou.

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