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O lento avanço do ensino médio

postado em 09/09/2013 13:17

A população brasileira nunca mais terá tantos jovens quanto agora.O alerta dado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística( IBGE) no mês passado lembrou que o país deveria lançar mão dos jovens de hoje para construir a riqueza do Brasil de amanhã.O primeiro passo, a melhora da qualidade da educação, entretanto, está em marcha lenta. Há um ano, quando foi divulgado o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que revelou a estagnação do ensino médio, o governo federal anunciou uma reforma que, até agora, praticamente não saiu do papel. No bloco de propostas do Ministério da Educação (MEC) e do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Cosned), estava incluída a renovação do currículo e a mudança dos conteúdos para torná- los mais atrativos aos adolescentes. Os órgãos dizem que trabalham em um novo desenho para o ensino médio e que há uma série de ações em curso. Especialistas pedem urgência nessa modernização e mais incentivos aos estudantes que queiram investir na carreira de professor.

Autor deumartigo sobre a reforma feita na década de 1990, o professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) João dos Reis Silva Júnior destaca que a principal mudança tem que ser feita na formação dos docentes. Ele Cita um estudo da Fundação Carlos Chagas (FCC) que aponta que os alunos valorizam a profissão, mas buscam outra carreira por
Causa do baixo prestígio e da remuneração pouco atraente. ;Além de não querer ser professor, o estudante, quando chega no ensino superior, não consegue acompanhar o ritmo, por melhor que seja o curso de formação de docentes. E não consegue porque a formação escolar foi ruim. O índice de evasão na licenciatura é elevadíssimo;, avalia. E quem se forma, segundo ele, não vai dar aulas no ensino público. ;Por isso, pode reformar o ensino médio o quanto quiser. Se não melhorar o ensino superior, não resolve;, diz o acadêmico, pessimista.

Outra preocupação de Reis Silva é com o modelo educacional, cada vezmais alinhado com o mercado de trabalho. ;A prioridade na pesquisa aplicada em detrimento da ciência humana e a demanda por profissionais do setor produtivo fazem com que as universidades não sejam boas;, avalia. Segundo o professor, um exemplo é o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). ;Emvez de investir no ensino público de qualidade, o governo dá bolsa para o aluno cursar em um instituto privado;, analisa. O professor, entretanto, destaca que o processo de renovação dessa fase do ensino é constante. ;No governo Fernando Henrique, vivemos outro período de mudanças, que foi da educação infantil até a pós graduação;, acrescenta. Segundo ele, mesmo com dificuldades, a necessidade de atualização continua recorrente.

A diretora executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, reforça os pedidos por mudanças já. ;É evidente que precisamos mudar. Conseguimos ter algum avanço, mas muito lento. Não adianta muito termos bons indicadores nos anos iniciais para, no fim, os estudantes perderem o fôlego.;


A educadora, entretanto, ressalta que mudanças sólidas como as que o ensino médio precisam não são feitas do dia para a noite. ;Tem que ser estruturante porque o sistema tem um desenho que não tem respondido às políticas públicas. Essa é uma responsabilidade dos estados, que têm uma atuação muito limitada. Por isso, o governo federal é peça-chave.;

Novos programas
O Ministério da Educação, por outro lado, assegura que tem feito uma série de ações com o objetivo de consolidar as políticas de reformulação do ensino médio. Destaca a ampliação de escolas em tempo integral, do Pronatec e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Entre as propostas que devem sair em breve do papel estão os programas; Quero ser cientista; e ;Quero ser professor;. De acordo com o MEC, a ideia é estimular o estudo das disciplinas do ensino médio e incentivar a prática da docência. A previsão inicial é ofertar 30 mil bolsas em 2014 para estudantes do ensino médio.

Apasta acrescenta que tem debatido a questão com o Consed. Representante do conselho, a secretária de Educação do Ceará, Izola Cela, diz que os indicadores apontam para a necessidade de mudanças urgentes. Ela lembra que os alunos chegam ao 1; ano do ensino médio com uma base escolar absolutamente fragilizada. Frisa ainda que esses estudantes são jovens, ;mais vulneráveis ainda aos contextos sociais problemáticos e com demandas de renda e de sobrevivência;.

O MEC reconhece, porém, que o ensino médio ainda é um grande desafio.;Por isso, o ministério continuará trabalhando intensamente, em parceria com as redes de ensino, para superar gargalos históricos, como a adequação idade/série para jovens de 15 a 17 anos que ainda estão no ensino fundamental, bem como a busca ativa de mais de 900 mil jovens de 15 a 17 anos que ainda estão fora da escola;, promete a pasta,em nota.

Escola de ensino médio emSamambaia: Justiça suspendeu a aplicação do currículo novo a pedido do MP

Estados inovam
Sem diretrizes do governo federal e diante dos números alarmantes, alguns secretários de Educação promoveram reformas por conta própria no ensino médio, como no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal. No DF, foi adotada a semestralidade no pacote de renovação de toda a educação básica batizado de Currículo Em Movimento. Com a mudança, os estudantes passaram a dedicar metade do ano ao estudo de ciências exatas e a outra metade a disciplinas da área das ciências humanas. Apenas as aulas de português e matemática continuam sendo ministradas ao longo de todo o ano letivo. Os estudantes que ficam de recuperação têm a possibilidade de reforço no chamado contraturno. O novo sistema, entretanto, é alvo de severas críticas de especialistas, diretores de escolas e professores. O principal argumento é que a sociedade não foi convidada para debater as mudanças.

O Ministério Público moveu uma ação e, em resposta, a Justiça suspendeu a aplicação do currículo novo. Ainda assim, escolas como o Centro de Ensino Médio 111 do Recanto das Emas e mais41 instituições que aderiram às mudanças permanecemno sistema novo. A Secretaria de Educação recorreu da liminar. Em nota, a secretaria informou que o novo titular da pasta,Marcelo Aguiar, se reunirá com o MEC e com a Justiça para defender a continuidade da implantação do sistema de semestralidade na rede pública de ensino do DF: ;A intenção é dar continuidade à ação, mas estendendo mais o diálogo com a comunidade escolar, com o Ministério Público e coma Justiça;

No Rio Grande do Sul, as disciplinas passarama ser englobadas em um rol de áreas do conhecimento. Essa mudança foi sugerida pelo próprio ministro da Educação, Aloizio Mercadante. O secretário de Educação do estado, José Clóvis de Azevedo, tem argumentado que a mudança combate a evasão e a repetência. Ele acredita que, dessa forma, o ensino se aproxima da realidade do aluno.

Memória

Reformana promessa

Em agosto do ano passado, dias após a divulgação do resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o ministro Aloizio Mercadante anunciou que em dois meses apresentaria uma proposta de reforma para o ensino médio com o propósito de reformar a etapa mais delicada da educação básica.Na época, a principal proposta sugerida foi a de redesenho curricular, com adequação das disciplinas ao que é exigido no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O projeto transforma as 13 disciplinas obrigatórias em quatro áreas do conhecimento. A novidade, entretanto, já era antiga. Na época, o Correio informou que a mudança já tinha sido publicada no Diário Oficial da União oito meses antes, emjaneiro daquele ano.Umadas críticas ao sistema integrado de disciplinas é a dificuldade na formação do professor multidisicplinar.

Apesar das promessas, governo ainda não consegue atrair estudantes para as carreiras de professor ou de pesquisador

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