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Falta de infraestrutura afeta comunidade acadêmica na UnB do Gama

Professores reclamam que situação dificulta progressão de carreira e alunos dizem que problema diminui rendimento acadêmico. Falta de segurança também dificulta vida no câmpus

postado em 21/03/2016 18:09

Metade de um laboratório foi transformado em sala de aula

Poucas salas de aula, laboratórios inacabados, insegurança, estacionamento ruim e falta de cercamento no câmpus. Esses são alguns dos problemas enfrentados por professores e alunos da Universidade de Brasília (UnB) no Gama, desde a inauguração da sede definitiva em 2011.

Professor de engenharia eletrônica no câmpus Rafael Morgado conta que a falta de preocupação com a estrutura física vem de longa data. "Pensaram apenas em contratar professores e chamar alunos, mas não construíram uma infraestrutura que atendesse a demanda", comenta. Uma das principais reclamações é o estacionamento de terra que margeia os prédios. "Não tenho como instalar os computadores que preciso, pois vem muita poeira que pode danificar os equipamentos. Isso me impede de fazer minhas pesquisas aqui e, por muitas vezes, tenho que me deslocar até o câmpus Darcy Ribeiro para trabalhar", afirma. Ele também destaca a superlotação. "Existem turmas com mais de 100 alunos e isso é muito ruim para os estudantes. Muitos têm dificuldades para ver e ficam inibidos na hora de tirar dúvidas", diz.

Já para o professor Eberth Correa, que dá aulas de física há quatro anos no câmpus, o maior problema é a falta de segurança. "Furtaram peças do meu carro enquanto eu dava aula. Os estudantes e pais ficam preocupados com essa situação, porque acontece muito frequentemente", comenta. O docente informa que outro empecilho é a grande quantidade de alunos em oposição ao pequeno número de salas de aula. Eberth conta que teve que ceder a sala em que dava aulas extras e orientações para turmas de pós-graduação. "Antes conseguíamos fazer ajustes e adequar os horários, mas agora não dá mais. O número de alunos cresceu e não temos estrutura para atender a todos", afirma.

Para os dois, essa condição atrapalha a progressão de carreira do professor por não conseguir realizar pesquisas. "Quase todos os dias penso em sair de lá, já vi muitos colegas fazerem isso", comenta o professor Rafael Morgado. Para Eberth Correa não é diferente. "Já pensei em ir para outra profissão, pois a minha carreira está em jogo. Não tenho condições de ir a congressos porque não tenho apoio", comenta.

Dificuldades


David, formando de engenharia eletrônica teve crises de rinite alérgica por causa da poeira no câmpus

Aluno de engenharia eletrônica David Dobkowski, 24 anos, estuda há cinco anos na UnB do Gama. Ele conta que desenvolveu rinite alérgica nesse período e afirma que a doença foi causada pela poeira que se instala no câmpus. "É desconfortável. Já vi pessoas escorregando em sala de aula por causa da poeira e muita gente acaba desenvolvendo problemas respiratórios", comenta. Também presidente do diretório acadêmico de engenharia, David se forma este ano, mas já pensou em sair da universidade várias vezes. "É desmotivador ver que as autoridades não ajudam. Esses problemas até fazem com que nosso desempenho acadêmico caia", conclui.

Júlia, estudante de engenharia de energia reclama da falta de laboratóriosA estudante do 5; semestre de engenharia de energia Júlia Inácio, 19 anos, entrou na universidade com a expectativa de ter uma boa formação e, apesar de achar os professores excelentes, sente que a experiência não é completa. "Não temos uma infraestrutura adequada. Falta espaço para desempenhar as nossas atividades", comenta. Ela acredita que se o problema não for solucionado, não terá espaço para abrigar a demanda. "Entram muitos alunos, mas saem poucos", afirma. Júlia conta que os estudantes se sentem desvalorizados. "Temos muita gente de grande potencial, mas eles acabam ficando desestimulados com a situação", diz. Fora isso, Júlia também reclama da falta de segurança. "Já mandamos vários ofícios para que a administração do Gama providencie um policiamento mais frequente, mas isso não acontece", lamenta.

Violência

Relato de assalto no câmpus do Gama publicado no FacebookUma estudante do câmpus foi assaltada na última sexta-feira (18) no estacionamento da universidade. Ela e uma colega foram abordadas próximo à entrada do prédio por volta das 17h por dois homens armados. Um deles jogou a jovem no chão , tomou a bolsa dela e levou o carro, que havia sido comprado há um mês. Ainda segundo o relato da jovem em uma página do Facebook, ao pedir para que os homens paressem, um deles a ameaçou com uma faca e o outro apontou uma arma para a colega dela. (Confira na imagem o relato completo)

Direção reconhece a falta de infraestrutura

O diretor do câmpus do Gama, Alessandro Borges, admite os problemas apontados por alunos e professores, mas, segundo ele, existem condições mínimas necessárias para as atividades dos mais de 3 mil alunos que utilizam 97% da estrutura já construída. "Estamos funcionando normalmente e a equipe se empenha muito para manter a universidade", relata. Para ele, o maior problema é a falta de espaço. Alessandro conta que, para suprir a demanda, metade de um laboratório foi transformada em sala de aula e o espaço que deveria ser uma lanchonete virou laboratório, provisoriamente. "Não dá para fazer mais cursos, palestras e pesquisas, mas as aulas acontecem normalmente", diz. Alguns equipamentos estão em um galpão fora do câmpus por falta de espaço, mas o diretor garante que a universidade oferece transporte para que sejam utilizados por estudantes e professores.

Estacionamento não pavimentado gera poeira dentro do prédio

Sobre o estacionamento, Borges comenta que no próximo 5 de abril a administração do câmpus começará a montar um cronograma para a pavimentação das vagas. Quanto à falta de cercamento do câmpus, o diretor conta que a empresa que ganhou a licitação faliu. "Agora estamos enfrentando um novo processo de licitação", explica. Portanto, não há data prevista para que a área seja cercada.

Segundo o diretor de gestão de infraestrutura (DGI), André Luiz Aquere, a construção do prédio no câmpus ainda não foi realizada também porque o IBRAM não liberou a licença. "Foram feitas as exigências de uma documentação que já foi entregue, mas enquanto não tivermos a autorização não podemos licitar", explica. (leia nota abaixo do Ibram)

Licença ambiental

Em nota, o Instituto Brasília Ambiental informa que, de acordo com o processo número 391.000.013/2007, que trata de obra no câmpus da UnB Gama, foram expedidas a Autorização Ambiental n; 89/2008, com validade de 210 dias e a Licença de Instalação (LI) n; 05/2011, com validade de um ano, ou seja, até Abril de 2012.

Foi ainda firmado o Termo de Compromisso (TC 008/2013) para compensação florestal. Nem todas as cláusulas do referido Termo de Compromisso foram cumpridas, motivo pelo qual não foram renovadas as referidas Licença e Autorização ambientais, que já se encontram vencidas.

No momento estão em curso tratativas entre o IBRAM e a UnB Gama para a regularização da situação ambiental. O IBRAM aguarda protocolo, por parte da Universidade, de toda a documentação comprobatória de cumprimento das condicionantes da Licença de Instalação e também do Termo de Compromisso para que seja dado prosseguimento à análise do processo. Sem tal documentação, que é de inteira responsabilidade da UnB Gama, não é possível a emissão de Licença Ambiental que subsidie a construção de novos prédios e/ou estacionamentos.

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