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UnB retomará debate sobre verificação de cotas para negros e índios em 2018

Possibilidade de criação de uma banca de verificação deve ser o maior desafio da universidade após a investigação de fraudes ao sistema por pessoas que se autodeclararam negras ou indígenas. Próximo encontro da comissão responsável está marcado para janeiro

Otávio Augusto
postado em 28/12/2017 06:00
UnB vai reavaliar sistemas de cotas em 2018

A criação de mecanismos para coibir fraudes no sistema de cotas e a definição de critérios para a verificação da autodeclaração de candidatos que se dizem pretos, pardos ou indígenas deve movimentar a Universidade de Brasília (UnB) no próximo ano. O debate ganhou corpo com a investigação de 100 supostas fraudes, como o Correio revelou na edição de ontem. O caso retoma o debate da volta das bancas de verificação, que funcionaram até 2012. Especialistas apontam que essa pode ser a melhor ferramenta para inibir irregularidades.

O pano de fundo é o aumento do número de cotistas na universidade após a implementação da Lei de Cotas. Um levantamento da universidade, feito a pedido da reportagem, mostra que, nos últimos cinco anos, auentou em 883% o número de estudantes de escolas públicas com alta renda que são pretos, pardos ou indígenas ; passou de 378 para 3.719. Os de baixa renda incluídos no mesmo grupo saltaram de 139, em 2013, para 2.279, este ano (veja quadro).

O Ministério Público Federal (MPF) acompanha a averiguação das denúncias e colabora para a formulação de ferramentas que garantam lisura ao processo. Na segunda semana de janeiro, representantes da universidade, do MPF, da comissão de sindicância que apura as irregularidades e de integrantes de movimentos negros devem se reunir para debater a resolução para a situação.


A possível volta das bancas de verificação está no centro do debate ; hoje, o critério é a autodeclaração. Todos concordam que a universidade sacramentar a raça dos seus alunos definindo quem é negro e quem não é constitui uma tarefa espinhosa. O receio é de haver constrangimento e discriminação durante a aferição. Normalmente, as bancas de verificação analisam o estudante levando em consideração a cor da pele e outras características, como textura de cabelo, formato do nariz e dos lábios.

Avaliação

Na opinião do professor José Jorge de Carvalho, do Departamento de Antropologia da UnB e idealizador do sistema de cotas, a banca é a melhor forma de coibir fraudes. ;O constrangimento, que é usado como argumento contrário, não é motivo para não ter. Quando se passa no raio-x do aeroporto há constrangimento. Não há ofensa na verificação. A banca é o mecanismo que diminui o erro;, pondera.

[SAIBAMAIS]Indira Quaresma, conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil, foi coordenadora da Comissão de Igualdade Racial e avalia ser necessário o mecanismo. ;Há negros que se sentem constrangidos. Mas, infelizmente, há casos de fraude. Tem que cercar de todas as formas para garantir a promoção social para o grupo que tem direito;, explica. Ela destaca que quem frauda o sistema de cotas pode responder pelo crime de falsidade ideológica.

A professora Francisca Cordélia, do Departamento de Linguística da UnB, é estudiosa do sistema de cotas e seus efeitos. Ela é enfática na defesa das bancas. ;A verificação é feita por profissionais que são preparados para essa função. Temos a dificuldade de identificação racial no Brasil, mas essa é a principal forma de evitar fraudes;, destaca.

O chefe de Gabinete da Reitoria, Paulo César Marques, defende que o trabalho da comissão de sindicância ; composta por dois professores e um servidor da universidade para avaliar as denúncias de fraude ; e a verificação das bancas não criam nenhum tipo de constrangimento ou injustiça aos alunos. ;A questão é um assunto público, numa instituição pública. Faremos a investigação das fraudes com todo cuidado e adotaremos o melhor critério de verificação para os cotistas;, garante.

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