Trabalho e Formacao

A nova cara do empreendedor

Pesquisa revela perfil do jovem empresário brasileiro. Maioria dos profissionais que encaram o mercado está na casa dos 30 anos, tem curso superior e é do sexo masculino

postado em 15/09/2014 10:19
Aos 28 anos, Mateus emprega 28 funcionários e criou duas marcas de franquia (Janine Moraes/CB/D.A Press   )
Aos 28 anos, Mateus emprega 28 funcionários e criou duas marcas de franquia


Mateus Modesto abriu a primeira empresa aos 17 anos. Na época, ele trabalhava no escritório administrativo de um posto de gasolina e, ao descobrir que a loja de conveniência seria fechada, resolveu tomar a frente do negócio. Hoje Mateus é publicitário, tem 28 anos, deixou para trás as lojas de conveniência para criar a própria franquia, tem três unidades no DF e pretende inaugurar outras duas até o fim do ano. ;Percebi que havia um deficit no mercado do fast food. O consumidor que tem necessidade de comer fora de casa não encontra opções que pode consumir todos os dias sem comprometer a saúde;, explica. Foi assim que ele criou as marcas Tasko e Tomatzo ; a primeira oferece sanduíches e saladas frescas, e a outra é especializada em culinária italiana ; e passou a empregar 28 funcionários. ;Todos são empresários na minha família. Talvez isso tenha me motivado a ser empreendedor. Para me manter atualizado, busco cursos de empreendedorismo e fiz uma pós em finanças;, conta.

Mateus é um dos 36 mil jovens donos do próprio negócio no país, e as características desses empreendedores podem ser mais conhecidas por meio do Perfil do Jovem Empreendedor Brasileiro, relatório divulgado este mês pela Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje). A pesquisa foi realizada em junho junto a 5.181 pessoas de 18 a 39 anos nas 27 unidades federativas. O perfil apontado pela pesquisa indica que, assim como Mateus, a maioria dos jovens que empreendem no Brasil é do sexo masculino, tem de 26 a 30 anos e possui curso superior completo. Eles preferem abrir empresas no segmento de serviços, empregam até nove funcionários e faturam até R$ 60 mil por ano (veja quadro).

Vivian abriu uma clínica e sentiu falta de  aprender sobre empreendedorismo na faculdade (Janine Moraes/CB/D.A Press)
Vivian abriu uma clínica e sentiu falta de aprender sobre empreendedorismo na faculdade


Conhecimento prático
De acordo com a pesquisa, 44% dos jovens empreendedores contam com ensino superior completo e outros 40% são pós-graduados. Segundo Ananda Carvalho, coordenadora geral do estudo da Conaje, mesmo com diplomas acumulados, esses empreendedores continuam com dificuldades na gestão. ;Quando o jovem decide empreender, busca consultoria para gerir o próprio negócio, já que tem uma série de dúvidas práticas,; afirma. Ela acredita que a metodologia de ensino no país não forma o profissional para essa finalidade. ;Não existe nada na educação formal no Brasil que incentive o empreendedorismo como geração de renda. Nem a academia, nem a educação de base formam o jovem para ser empreendedor.;

Vivian Modenese, 28 anos, abriu o primeiro negócio no início deste ano: uma clínica odontológica. Ela concorda que a educação com viés empreendedor seria uma vantagem para quem quer começar. ;Hoje, além de todos os desafios de empreender, ainda tenho que correr atrás da minha formação,; reconhece. ;Eu já tinha alugado a clínica, mas, na faculdade, a gente só aprende a ser técnico, não tem a visão empreendedora. Fiz um curso de gestão de cinco dias. Isso abriu a minha mente e decidi me dedicar apenas à gestão da clínica;, justifica. Atualmente, Vivian está terminando um MBA em gestão de clínica odontológica e coordena uma equipe de oito dentistas.

Capital inicial
Entre os entrevistados que ainda não empreendem, 35% dizem que a principal razão é a falta de dinheiro. Na hora de abrir a empresa, 47% contaram com recursos da família e apenas 25% obtiveram financiamento junto a um banco. Márcio Diaz Abreu, professor no MBA de gestão empresarial da Fundação Getulio Vargas, afirma que a burocracia e a dificuldade de acesso ao crédito são ;a face perversa que atrapalha o brasileiro que tem espírito empreendedor;. Ele relaciona a problemática à preferência dos jovens pelo segmento de serviços no momento de abrir um negócio. ;São áreas mais fáceis de as pessoas entrarem, principalmente quando jovens, porque você precisa de um investimento menor de capital;, analisa.

De acordo com a pesquisa da Conaje, 48% dos jovens empreendedores estão inseridos no segmento de serviços, e apenas 3% optaram pelo agronegócio. Pequenas e microempresas, que empregam no máximo nove funcionários são a grande maioria, em contraste com 1% referente a grandes empresas. ;Normalmente, as grandes empresas são mais famosas, mas o que movimenta mesmo a economia são companhias com meia dúzia de funcionários;, afirma o professor Abreu. A gerente de capacitação empresarial do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-DF), Olívia Castro, relembra que as micro e pequenas empresas correspondem a 99% dos empreendimentos no país, são as responsáveis por 27% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e empregam 52% dos trabalhadores brasileiros com carteira assinada. ;Mesmo no período da crise econômica internacional, essas companhias continuaram crescendo e empregando, contribuindo para manter a economia aquecida;, afirma.

Empresários juniores
Segundo a pesquisa, entre os potenciais jovens empreendedores, 28% fazem parte de empresas juniores. É o caso de Henrique Tagliari, 21 anos, atual presidente da AD, empresa júnior de consultoria em administração da Universidade de Brasília (UnB). Ele acredita que a participação no movimento empresa júnior é o que mais o incentiva a empreender futuramente. ;A experiência de liderança e inserção no mercado de trabalho acaba despertando um jeito diferente de encarar as coisas com mais autonomia.;

Daniela Georg, 20 anos, é estudante de publicidade na UnB e umas das coordenadoras do projeto Marco Zero, que tem por objetivo desenvolver o potencial empreendedor de estudantes. ;Queremos dar ferramentas e criar uma rede de pessoas que têm essa vontade para que possam empreender juntas;, explica. Daniela acredita que a participação no projeto é um diferencial. ;Comecei a ler muito material sobre empreendedorismo, a participar de palestras e a conhecer pessoas. Consegui ver como essas redes funcionam na prática, o que faz diferença para qundo eu for abrir o meu negócio;, finaliza.
Palavra de especialista
Empreendedoras mais maduras


Constatar que apenas 28% dos jovens empreendedores são mulheres não me surpreende. O perfil da mulher empreendedora é outro. Quando ela decide empreender, está em outro momento da carreira e da vida, em uma fase mais madura. Isso faz com que a escolha pelo empreendedorismo seja mais consciente. Por isso, eu não vejo esse dado de uma maneira negativa, até porque acredito sinceramente que o empreendedorismo seja um comportamento que a pessoa assume ao longo da vida profissional.;

Carolina Rezende, fundadora da Mulher de Negócio, escola de empreendedorismo feminino

Pesquisa revela perfil do jovem empresário brasileiro. Maioria dos profissionais que encaram o mercado está na casa dos 30 anos, tem curso superior e é do sexo masculino

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