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No rastro da causa do mal de Alzheimer

postado em 30/07/2009 07:10
A geneticista molecular e neurocientista chinesa Jie Shen, da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, produziu camundongos mutantes, com mutações nos genes presenilinas -- ligados às formas hereditárias do mal de Alzheimer. Como resultado, percebeu uma alteração na liberação de neurotransmissores (substâncias químicas excretadas pelo cérebro) e no funcioamento dos neurônios desses roedores. Em entrevista ao Correio, por e-mail, Shen falou sobre a importância da pesquisa para a compreensão das causas do Alzheimer e de outras doenças neurodegenerativas.

De que modo as mutações nos genes presenilina podem interferir na ativação da demência?
As presenilinas são os principais genes das formas hereditárias do mal de Alzheimer e abrigam 90% de todas as mutações relacionadas à doença. As mutações são predominantemente herdadas. Para entender como as presenilinas causam Alzheimer, nós realizamos uma série de análises genéticas para descobrir as funções desses genes no cérebro. Temos de conhecer as funções desses genes antes de entendermos as disfunções causadas pelas mutações relacionadas às formas hereditárias do mal de Alzheimer. Nosso trabalho anterior havia demonstrado que as presenilinas são necessárias para a sobrevivência da memória e dos neurônios no cérebro de camundongos adultos. Enquanto isso, a inativação de presenilina causa perda progressiva de memória e neurodegeneração dependente da idade, dois fatores-chave do mal de Alzheimer. Baseado nessa pesquisa, propomos que as mutações nas presenilinas causam a doença, por meio de uma perda parcial do mecanismo de função. Nós estudamos as funções sinápticas desempenhadas pelas presenilinas, desde a transmissão sináptica e a plasticidade, que definem a aprendizagem e a memória.

Qual é a ligação entre a liberação de neurotransmissor e mutações na presenilina? Que danos essas mutações provocam à atividade cerebral?
Nós não sabemos como as mutações na presenilina afetam a liberação de neurotransmissores. Nós não temos avaliado o efeito das mutações na liberação de neurotransmissores e não há relatos de liberação de neurotransmissores em ratos com presenilina alterada.

De que modo suas descobertas podem ajudar a explicar e tratar a demência, além de desordens neurodegenerativas?
Nós acreditamos que talvez tenhamos identificado mudanças patogênicas precoces, anteriores à neurodegeneração. Isso fornece novos alvos para terapias em desenvolvimento, a fim de atrasarem defeitos funcionais do cérebro e a neurodegeneração comum a algumas desordens.

Como a senhora realizou a pesquisa? Vocês analisaram o cérebro de camundongos?
Esse estudo é parte de nossa pesquisa de longo prazo sobre os mecanismos da demência e da neurodegeneração. Nós usamos um método genético para estudar o mecanismo de demência e neurodegeneração e essas duas linhas mutantes são a quarta geração de camundongos sem presenilina (nós aumentamos a restrição da inativação de presenilina de todas as células a um subtipo de neurônios do hipocampo). Nesse estudo em particular, analisamos pedaços de hipocampo de camundongos mutantes.

De que modo seu estudo pode lançar luz na compreensão da atividade cerebral e das desordens neurológicas?
Nosso estudo destacou a importância da disfunção pré-sináptica nas desordens neurológicas, uma área de pesquisa que era ignorada. Nosso estudo forneceu dados sobre como a atividade cerebral normal é modulada. Por exemplo, demonstramos que as presenilinas regulam a liberação de neurotransmissores.

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