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Atentados em série paralisam Lahore

Invasões coordenadas a instalações do governo e explosão de carro-bomba deixam 50 mortos

postado em 16/10/2009 08:47
Foi um 15 de outubro que as autoridades paquistanesas poderiam considerar o "dia da blasfêmia". Para os grupos fundamentalistas islâmicos, a data será lembrada como um desafio ao poder do Estado e uma prova cabal de que ninguém está a salvo no país. O drama que paralisou Lahore, capital da província de Punjab, começou pouco depois das 9h (0h em Brasília), quando de 10 a 15 extremistas vestidos de negro - entre eles três mulheres - escalaram os muros da Academia de Treinamento de Policiais de Manawan, situada às margens da Rodovia Bedian, na periferia. Levavam consigo armas e mochilas. Depois de uma intensa troca de tiros, nove policiais, quatro militantes e uma pessoa ainda não-identificada acabaram mortos. Quase no mesmo instante, um comando de quatro terroristas invadiu o prédio da Agência de Investigação Federal, também atirando. Seis oficiais de segurança e um terrorista morreram nos combates. Enquanto isso, mais de 20 homens armados também atacavam o quartel-general da Força de Elite Paquistanesa. A incursão terminou com cinco terroristas, um policial e um civil mortos. Também pela manhã, um carro-bomba destruiu a delegacia de polícia Cantt, em Kohat (noroeste). A explosão custou a vida de 11 pessoas, incluindo crianças que estudavam numa escola próxima, e feriu 11. O ministro do Interior do Paquistão (1), Rehman Malik, reagiu com fúria às 50 mortes de ontem. "O inimigo começou uma guerra de guerrilha", declarou. "A nação inteira deve se unir contra esse bando de terroristas, e queira Deus que os derrotemos". Malik revelou que dois grupo assumiu a autoria da onda de atentados em Lahore: a facção auto-denominada de Amjad Farooqi, supostamente alinhada ao Tehrik-i-Taliban Pakistan (o Talibã paquistanês), e o Lashkar-e-Jhangvi, que recrutou o suicida responsável pelo assassinato da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto. Logo após visitar os locais dos ataques, o analista de segurança Hasan-Askari Rizvi afirmou acreditar em uma operação conjunta. "O Talibã e outros grupos aliados baseados no Punjab lançaram essa ofensiva para demonstrar que são fortes e capazes de agir em qualquer lugar que desejarem", explicou ao Correio, por e-mail. "Também pretendem desmoralizar as agências de segurança". Células dormentes Assim como o recente atentado contra o quartel-general do Exécito, em Rawalpindi, a ação de ontem também teve o nítido objetivo de desviar o foco do Waziristão do Sul. "Os terroristas querem impedir as agências do governo de realizar a incursão nesta região, bastião do Talibã paquistanês", comentou Rizvi. O especialista lembrou que Lahore já foi alvo de ataques, inclusive a academia militar de Manawan. "Esses atentados significam que o Talibã reativou suas células dormentes no Punjab, que agora estão em ação. Provavelmente veremos mais ataques nas próximas duas semanas", acrescentou. Dessa vez, o modus operandi surpreendeu o analista. Rizvi contou que o Paquistão jamais registrou três atentados coordenados em um mesmo dia. "Essa é uma situação totalmente nova". Tudo aconteceu a 220km de Rawalpindi, mas Murtaza Chaudhry, estudante de 22 anos, podia perceber o medo. "A situação aqui é horrível", disse ao Correio, por meio da internet. Segundo o jovem, a cidade está repleta de postos de controle - uma tentativa do governo de impedir novas explosões suicidas e incursões de comandos terroristas. "Todos os postos estão lotados de policiais. Eles vistoriam os carros, em busca de bombas", relatou. "Nós esperamos que os próximos ataques ocorram aqui. Nosso ministro da Informação, Iftikhar Hussain, nos alertou sobre isso". Hasan-Askari Rizvi acusa as agências de inteligência de não serem capazes de visualizar a insurgência islâmica, ainda que soubessem da possibilidade de ataques duas semanas atrás. "Agora que os terroristas mudaram suas táticas, as agências terão de atualizar suas técnicas e reforçar a vigilância em instalações do governo", aconselhou. 1 - Ajuda bilionária O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, promulgou uma lei de ajuda ao Paquistão de US$ 7,5 bilhões depois que o Congresso assegurou que o plano de assistência não viola a soberania paquistanesa. A promulgação da lei ocorre depois de vários dias de polêmica. O ministro paquistanês das Relações Exteriores, Shah Mehmood Qureshi, viajou a Washington para assinalar as preocupações de um setor da opinião pública e do Exército, temerosos de que o pacote de assistência comprometa a soberania do país. "Esta lei é um sinal tangível do amplo apoio americano ao Paquistão, como ficou demonstrado ao ser aprovada de maneira unânime pelas duas câmaras do Congresso", indicou o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, por meio de um comunicado.

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