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Talibãs enviam recado a Obama

postado em 31/10/2009 09:34
Ele se intitula vice-emir do Emirado Islâmico do Afeganistão. Na hierarquia da milícia fundamentalista Talibã, à frente dele figura apenas o Mulá Omar, sogro do terrorista saudita Osama bin Laden. Por meio do mulá Brader Akhund, a facção que semeou o terror no país entre 1996 e 2001 rompeu com o silêncio sobre os planos dos Estados Unidos. A mensagem de número 2.625, publicada no site oficial da facção, é recheada de ironia e ameaças. O extremista tenta fustigar a moral do presidente norte-americano, Barack Obama - o mandatário Nobel da Paz deve decidir nos próximos dias se enviará mais 40 mil soldados para combater a insurgência. [SAIBAMAIS]O texto do mulá Akhund começa alertando os Estados Unidos sobre um suposto plano lançado pelo senador Carl Levin, diretor do Comitê de Serviços Armados no Capitólio, segundo o qual Obama pretende dar dinheiro a talibãs para encorajá-los a abandonar a resistência. "Nós gostaríamos de dizer a Obama que isso é uma velha arma que já fracassou. Os invasores britânicos a utilizaram no século 19, mas falharam; a ex-União Soviética a usou, também falhou. O povo mujahid e os mujahedin nas linhas de frente têm vasta experiência de três décadas e conhecem todas as táticas usadas pelo inimigo", adverte. O talibã vai além, debocha da "sofisticada e moderna tecnologia" dos EUA e lembra que os aliados e "pistoleiros internos" querem deixar o campo de batalha, diante da incapacidade de se defenderem. Por fim, anuncia cinco pontos para os "ditadores moribundos" da Casa Branca. De acordo com o mulá Akhund, os mujahedines têm "guerreado" contra os americanos baseados em suas crenças e ideias. O segundo tópico sustenta que "os mujahedin do Emirado Islâmico do Afeganistão não são mercenários e pistoleiros de alguém como os homens armados dos invasores e de seus suplentes". O vice-líder talibã explica que os mujahedin têm conduzido a jihad para obterem a independência do país e o estabelecimento da sharia (lei islâmica). "Essa guerra se encerrará quando todos os invasores deixarem nosso país e um governo islâmico baseado nas aspirações de nosso povo for formado", alertou. Ele também lembra Obama para evitar gastar seu tempo com meios não pragmáticos e recomenda que o presidente se foque em medidas que forneçam uma solução realística. "Retire todas suas forças de nosso país orgulhoso e ponha um fim ao jogo da colonização, pelo derramamento de sangue de muçulmanos inocentes, sob o injustificável nome do terrorismo", aconselhou, no terceiro ponto do comunicado. O quarto item adverte a Casa Branca de que um gasto militar "imenso" estará sob seus ombros, se Washington quiser manter a presença militar no Afeganistão. "Seu povo vai enfrentar mais problemas e sofrer de doenças psicológicas", ameaça. Por fim, mulá Akhund afirmou que a "heroica nação afegã não é como poucos conhecidos afegãos-americanos que venderam seu país e receberam treinamento das células da CIA por muitos anos". "Neste país, vender uma nação quid pro quo por dinheiro e por espaço no governo não apenas é um crime de acordo com o islã, mas também um insulto e uma infâmia históricos. Tradicionalmente, é um ato vergonhoso e imperdoável", concluiu. Uma estimativa do Pentágono divulgada ontem pela rede de TV CNN revela que cada um dos 40 mil soldados enviados ao Afeganistão custarão US$ 500 mil aos cofres públicos - o reforço representaria uma despesa extra de US$ 20 bilhões ao ano. Baixas Enquanto o comunicado do Talibã era divulgado, a milícia continuava semeando a insegurança no Afeganistão. Na província de Nangarhar (leste), uma bomba plantada em uma estrada atingiu um táxi e matou nove civis. De acordo com a polícia local, parte do carro ficou enterrada. O alvo seria um líder tribal que estava dentro do veículo. Em entrevista ao Correio, pela internet, o tradutor afegão Sayed Abdul Wakil disse acreditar que o número de soldados norte-americanos mortos em combate seja muito maior que o divulgado pelo Pentágono. "Meus amigos, o povo de minha tribo, meus parentes, aos amigos de meus amigos, meus colegas de escola vivem em partes diferentes do país. E são testemunhas de dezenas de estrangeiros mortos pelo Talibã toda semana em ataques diferentes", comentou.

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