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Cristina Kirchner é ameaçada de morte

Pilotos do helicóptero que levava a presidenta captaram suposta ordem de execução pelo rádio, na última sexta-feira

postado em 15/12/2009 08:34
"Matem a égua, matem-na". "Idiotas, matem o peixe". Estas foram as mensagens emitidas por uma tranquila voz masculina aos pilotos do helicóptero que transportava a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, no trajeto de sua residência, na província de Buenos Aires, à Casa Rosada, sede do governo. A viagem, que não costuma durar mais de oito minutos, ocorreu na última sexta-feira. Desde então, transformou-se em um pesadelo para Cristina e para os membros do governo. "O que aconteceu é muito grave. Foi um gesto intimidativo contra a presidenta", alertou o chefe de gabinete, Aníbal Fernández. As supostas ameaças foram denunciadas ontem pela Promotoria Pública argentina. O órgão apresentou uma denúncia para que a Justiça investigue as interferências no sistema de comunicações do helicóptero. "Estamos falando de equipamentos que somente podem ser usados a partir de outra aeronave ou de um lugar onde se administre informação de algum aparelho DHF, que são os que permitem colocar-se dentro da mesma frequência", explicou Aníbal à emissora Rádio 10. No áudio difundido pelos principais meios de comunicação do país, também se pode ouvir cinco segundos da marcha militar Avenida de las Camelias, um dos hinos associados à ditadura argentina, de 1976 a 1983. O chefe de gabinete não descarta a possibilidade de que as ameaças estejam vinculadas ao julgamento do ex-capitão de fragata Alfredo Astíz e de outros 18 militares, acusados de delitos de lesa humanidade. Os crimes teriam sido cometidos na Escola Superior de Mecânica da Marinha (Esma), onde funcionou o maior centro clandestino de detenção da ditadura argentina, no bairro portenho de Nuñez. Astíz também é conhecido como o "Anjo da Morte". Militares As suspeitas contra os militares aumentam à medida que, na mesma sexta-feira do deslocamento de Cristina, foi concluído outro processo contra seis militares aposentados condenados à prisão por delitos de lesa humanidade - em um processo considerado "histórico" pelo governo e pelas organizações humanitárias. O caso das ameaças contra Cristina será qualificado como "delito de ação pública" e investigado pelo juiz Ariel Lijo, com a intervenção do promotor Eduardo Taiano. "Em qualquer país do mundo isto é muito sério, e no nosso também", completou o chefe de gabinete. Cristina fez um discurso ontem sobre o uso das reservas do Banco Central para pagar a dívida externa, mas não comentou o episódio das ameaças aos jornalistas presentes. Sem maioria no Chile Dois dias depois do primeiro turno das eleições no Chile, os candidatos que disputarão a presidência em 17 de janeiro já atualizaram suas páginas na internet com novos slogans. "Todos pelo Chile, todos por Frei", destaca a página da Concertação, bloco político de centro-esquerda cujo candidato, Eduardo Frei, obteve, no domingo, 29,6% dos votos. "Quero gritar: Viva a mudança" é o novo lema do vencedor do primeiro turno, o empresário bilionário, Sebastián Piñera (1), do bloco de direita Coalizão pela Mudança, que conquistou 44,05% dos votos. Desde ontem, os dois candidatos começaram a buscar apoio dos derrotados no primeiro turno. Se ainda não se pode prever quem será o novo presidente do Chile - embora o favoritismo seja de Piñera -, uma coisa é certa: ele terá que negociar com o Congresso para governar, já que nenhum dos principais blocos conseguiu maioria absoluta no parlamento. A Concertação ficou com 19 dos 38 senadores, superando a Coalizão pela Mudança, com 16 senadores. Os três assentos restantes ficaram com dois senadores independentes e um do Movimento ao Socialismo. Na Câmara dos Deputados, o bloco de direita ficou com 58 dos 120 deputados, superando os 54 da Concertação. A grande novidade é que, depois de 36 anos, o Partido Comunista conseguiu voltar ao Congresso, elegendo três deputados. No Chile, ainda vigora um sistema binominal instaurado na ditadura do general Augusto Pinochet, que muitas vezes deixa de fora os candidatos que não pertencem aos dois principais blocos políticos. A presidenta do Chile, Michelle Bachelet, qualificou a conquista dos comunistas como a derrota "da exclusão". "Ainda que não se tenha conseguido modificar o sistema binominal, derrotou-se a exclusão", disse. Mudanças Rodrigo Pinochet, neto do ex-ditador chileno, ficou de fora do Parlamento. Ele apresentou uma candidatura independente a deputado no distrito de Las Condes, em Santiago. No entanto, a direita elegeu Cristián Monckeberg (35%) e Ernesto Silva (27%).A filha do ex-presidente chileno Salvador Allende, Isabel Allende Bussi, 64 anos, conquistou vaga no Senado pela região de Atacama. Ela obteve 28% dos votos. O segundo turno provocou mudanças no gabinete de Bachelet. A presidenta concordou com a renúncia da ministra da Secretaria Geral de Governo, Carolina Toha, que integrará a equipe da campanha de Frei. A embaixadora do Chile na França, Pilar Armanet, ocupará seu lugar no ministério. (V V) 1 - Como Lula O candidato da direita chilena, Sebastián Piñera, afirmou ontem querer para seu país um modelo de governo mais próximo do aplicado no Brasil, no México ou no Peru, e distante do liderado por Hugo Chávez, na Venezuela, ou por Daniel Ortega, na Nicarágua. "Na região foram configurados dois grandes modelos: um deles é dirigido por pessoas como (Hugo) Chávez na Venezuela (...); outro, é o representado por governantes como (Felipe) Calderón no México, (Luiz Inácio) Lula no Brasil, Alan García no Peru e até Michelle Bachelet no Chile", disse Piñera. "Acho, definitivamente, que o segundo modelo é o melhor para o Chile, porque tem a ver com democracia, estado de direito, liberdade de expressão, alternância do poder sem caudilhismos, na parte política."

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