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Conflito provoca fuga para o Brasil

Cidade fronteiriça no Mato Grosso do Sul recebe 800 famílias e pede estado de emergência

postado em 30/04/2010 08:11
A crise de segurança pública no Paraguai começa a afetar diretamente os brasiguaios ; agricultores brasileiros radicados no país ; e a repercutir em cidades fronteiriças do Mato Grosso do Sul. Brasileiros e descendentes que vivem no país vizinho estão voltando, assustados com a violência associada ao narcotráfico e à ação de um grupo armado esquerdista em campanha por reforma agrária. A prefeita de Itaquiraí, Sandra Cassone (PT), veio na segunda-feira a Brasília pedir que seja declarado ;estado de emergência; na cidade, que tem 16 mil habitantes. ;Ela deve retornar na semana que vem para obter uma resposta do governo federal;, disse ao Correio, por telefone, o vice-prefeito, Aldo Farina. ;Está chegando muita gente nos últimos dias. Já vieram 800 famílias e a previsão é de alcançar 1.200;, completa Farina.

Cidade fronteiriça no Mato Grosso do Sul recebe 800 famílias e pede estado de emergênciaAs famílias estão acampadas perto da BR-163, sob cobertura de lona. Farina diz que a prefeitura está ajudando na medida do possível, mas observa que ;a situação é complicada;. ;No mês passado, assentamos 1.234 famílias que vieram de outros municípios;, ressaltou o vice-prefeito. ;Agora, boa parte vem do Paraguai, mas não conseguimos mais suportar. Estamos preocupadíssimos: não há remédio e alimentos que suportem, falta tudo!”

Zelmo de Brida, prefeito da vizinha Naviraí, diz que ;não está percebendo; a chegada de mais famílias. ;Nosso município não é o mais próximo do Paraguai;, pondera. Para ele, a razão de as famílias irem para Itaquiraí pode estar ligada à política anterior de assentamentos. ;Ali já tem muitos assentamentos do Movimento dos Sem Terra (MST), mas nós aqui não temos isso;, disse. Brida acrescenta que, ;de momento;, não tem essa preocupação, nem planos para receber mais deslocados.

A instalação de brasileiros com fazendas no norte do Paraguai criou um desafio para os governos dos dois países, nas últimas décadas. Na semana passada, a crise se agravou depois que o senador liberal Roberto Acevedo sofreu um atentado na cidade de Pedro Juan Caballero ; os dois suspeitos detidos são os brasileiros Eduardo da Silva e Nevailton Cordeiro. Agentes da inteligência brasileira afirmaram ao Correio que não há indícios de que os acusados estejam ligados à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), mas a narcotraficantes paraguaios. Cerca de 90% da maconha paraguaia é trazida ao Brasil, segundo a Polícia Federal.

Pedro Juan Caballero se une ao município de Ponta Porã (MS), e os dois somam quase 200 mil habitantes. Na cidade paraguaia, um funcionário de uma casa de câmbio, que se identifica pela inicial R., conta que na quarta-feira chegaram 150 militares para reforçar o policiamento. ;Eles estão examinando documentos das pessoas nas ruas do centro;, disse à reportagem, por telefone. Apesar de denúncias de que algumas rádios locais estariam insuflando os ânimos da população contra os brasiguaios, R. considera que não há um clima de hostilidade. ;Não é nada contra os brasileiros. As pessoas se sentem mais seguras com mais controle nas ruas;, indica. Já os paraguaios que se dirigem ao Brasil não têm problemas para entrar em Ponta Porã. ;Para nós está tudo normal;, ressalta a brasileira A., que trabalha em um hotel na fronteira.

Apesar da aparente normalidade, Ponta Porã receberá na próxima segunda-feira os presidentes Fernando Lugo e Luiz Inácio Lula da Silva, que tentarão estabelecer uma política comum de segurança fronteiriça e combate ao narcotráfico. ;Esse assunto se impõe depois dos últimos acontecimentos violentos que tiveram como vítima o senador Robert Acevedo;, indicou o ex-chanceler e atual assessor da Presidência paraguaia, Hamed Franco.

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