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FBI suspeita de soldado

Bradley Manning, militar preso em maio, teria vazado documentos secretos sobre o conflito no Afeganistão

postado em 29/07/2010 08:47
Um soldado de apenas 22 anos é o principal suspeito de ter vazado para o site WikiLeaks os mais de 91 mil relatórios secretos sobre a atuação das forças americanas no Afeganistão. O jovem Bradley Manning, que já havia sido detido no fim de maio por ter acessado cerca de 260 mil documentos ;classificados; e repassado grande parte deles ao mesmo site, está na mira do Pentágono e do FBI (polícia federal americana). O militar, que é analista de inteligência, teria conseguido entrar no chamado Secret Internet Protocol Router Network ; um sistema ao qual só é permitido o ingresso de altos oficiais, por meio de senhas e até de barreiras físicas. O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, no entanto, não confirmou a origem dos relatórios, assegurando não conhecer a identidade do ;delator;.

De acordo com a rede de TV CNN, o Pentágono já abriu uma investigação criminal no Exército para saber se foi Manning quem realmente divulgou as informações, e descobrir como ele teria conseguido acesso ao restrito sistema ; a fim de punir possíveis colaboradores e evitar casos semelhantes no futuro. Os relatórios, elaborados entre 2004 e 2009 e publicados no WikiLeaks, mostram que o número de mortes de civis no Afeganistão(1) foi muito maior do que é divulgado pelos Estados Unidos. Os documentos admitem ligações de autoridades do Paquistão com a milícia fundamentalista Talibã e revelam que as forças dos Estados Unidos mantêm unidades secretas destinadas a capturar e a matar líderes insurgentes.

Julian Assange, fundador do WikiLeaks, exibe reportagem no jornal The Guardian: mistério sobre Dave Lapan, porta-voz do Pentágono, confirmou que o jovem militar é uma ;pessoa de interesse; na investigação para determinar como os documentos foram parar na internet. ;Ele é alguém que estamos acompanhando de perto;, disse Lapan. O fundador do site envolvido sustentou que trabalha de modo a garantir o sigilo de quem publica os documentos. ;Nunca sabemos a fonte das informações. Nosso sistema está desenhado de modo a manter o sigilo;, afirmou Assange à Associated Press, assumindo, contudo, que o caráter anônimo pode provocar preocupações sobre a veracidade dos documentos.

Assassinato colateral
No início deste mês, o Exército americano anunciou que iria apresentar acusações contra Manning, que estava lotado no Iraque por transferir dados sigilosos para seu computador e ;entregar informação de defesa nacional para fontes não autorizadas;. O soldado foi detido depois que o jornalista e ex-hacker Adrian Lamo mostrou às autoridades de defesa mensagens trocadas com o suspeito. Nelas, Manning conta ter enviado ao site WikiLeaks vários documentos e um vídeo sobre ;assassinato colateral;, que mostra o ataque de um helicóptero americano a um grupo de supostos insurgentes. Na ação, duas crianças ficaram feridas, e muitos homens morreram ; inclusive dois funcionários da agência Reuters. Manning chegou a ficar mais de um mês preso no Campo Arifjan, no Kuweit, sem acusação formal. Se condenado, ele poderá pegar até 52 anos de prisão somente por esse primeiro vazamento.

Para alguns, no entanto, o jovem já é considerado um ;herói;. Um grupo que se diz não ligado a governos ou a partidos já criou o blog ;Help Bradley Manning;, no qual mantém uma petição on-line ; com mais de 2,5 mil assinaturas ; em prol da libertação do militar, e uma campanha para arrecadar fundos para a defesa de Manning. ;O verdadeiro heroísmo não merece punição;, defende o blog, que aceita contribuições de, no mínimo, US$ 20 para ajudar o destemido delator.

1 - Bin Laden na ativa
Os relatórios divulgados no site WikiLeaks mostram que, ao contrário do que afirmam os serviços americanos de inteligência, há pistas relativamente recentes da atuação de Osama bin Laden na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Um documento de agosto de 2006, por exemplo, indica que reuniões de Bin Laden com Mohammed Omar (líder dos talibãs afegãos) e os mulás Dadullah e Barader eram ;realizadas uma vez por mês na cidade de Quetta (Paquistão) ou em povoados da zona fronteiriça;. No mesmo ano, o líder da rede terrorista Al-Qaeda ofereceu como prêmio uma esposa a Kari Najimulah, de 28 anos, por sua ;excelência; na fabricação de bombas. Outro relatório, de 2004, indica que ;três terroristas receberam de Bin Laden a missão de organizar atentados suicidas contra (o presidente afegão, Hamid) Karzai;.

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