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Artigo: "Estamos perdendo a guerra para o narcotráfico"

postado em 31/08/2010 07:00
; Alejandro Echartea

Meu nome é Alejandro Echartea e gostaria de informar-lhes algo sobre a situação aqui no estado de Tamaulipas. Os enfrentamentos com o crime organizado -- cartéis do narcotráfico -- não são algo novo. A narcocultura é algo cotidiano, algo visto desde a década de 1970, seja em narcocorridos (canções populares com o tema do narcotráfico), seja em filmes nos quais pistoleiros e traficantes são tratados como heróis e glorificados. A atual onda de violência começou no início de 2004, quando o Cartel de Sinaloa -- com sede na costa do Pacífico mexicano -- tentou expandir suas operações ao território ocupado pelo Cartel do Golfo. Nessa ocasião, o grupo dos Zetas, braço armado do Cartel do Golfo, foi formado para enfrentar o Sinaloa. Durante anos, prosseguiu-se esse enfrentamento entre cartéis, com eventuais intervenções do Exército mexicano, realizando detenções e apreensões de drogas. Isso até que Felipe Calderón assumiu a presidência e, como parte da estratégia de combate ao narcotráfico, enviou o Exército às ruas, em dezembro de 2006.

[SAIBAMAIS]A partir do momento em que o Exército passou a combater o narcotráfico, a violência se recrudesceu. Chegou-se a acusar o presidente Calderón de combater apenas alguns cartéis para proteger outros. Os grupos de delinquentes aprimoraram seus métodos contra os inimigos e passou a atacar a população civil. Em dezembro de 2009, presume-se que houve uma divisão entre o Cartel do Golfo e seus sicários, os Zetas. O estado atual de violência é a causa disso. Durante aquele ano, o candidato a prefeito de Valle Hermoso, Mario Guajardo, foi assassinado. Em dezembro de 2007, o irmão dele, Juan Antonio Guajardo, havia sido executado na cidade de Río Bravo, também na fronteira.
Neste ano, no meio do processo eleitoral para eleger governador, deputados e prefeitos, a participação cidadã diminuiu por causa do terror do crime organizado. O Instituto Eleitoral de Tamaulipas (Ietam) assinalou que a taxa de abstenção ficou em 60%. Na segunda-feira 28 de junho, o candidato a governador, Rodolfo Torre Cantú, foi executado a poucos quilômetros de Ciudad Victoria. O ataque também matou o deputado Enrique Blackmore Smer e dois guarda-costas. Nos últimos meses temos visto ataques a alguns prefeitos. Em Ciudad Victoria, a vida noturna diminuiu visivelmente. É comum ver viaturas militares e da Polícia Federal pelas ruas, e agentes carregando rifles. A psicose é tamanhã que até mesmo a mídia local não se atreve a relatar o que acontece. Na semana passada, a emissora de TV Televisa, a maior do país, foi atacada. O site do governo de Matamoros tinha uma página de informações sobre esses ataques, mais foi fechado alguns meses atrás.
As informações mais recentes incluem a execução de Marco Antonio Leal, prefeito de Hidalgo (Tamaulipas), e os combates de mais de 12 horas em Pánuco, no estado vizinho de Veracruz. Às 15h50 de hoje (17h50 em Brasília), corre o boato de que alguma coisa acontecerá à noite em Ciudad Victoria e não se aconselha a sair de casa. No geral, o sentimento por aqui é de que o governo está perdendo a guerra contra o narcotráfico. Há cerca de 15 milhões de jovens sem emprego, sem estudos e vivendo na pobreza. Eles são usados pelos cartéis para engrossar sua fileira de sicários. Alguns grupos pagam até US$ 500 por semanas aos pistoleiros.

Alejandro Echartea é ilustrador de um jornal de Ciudad Victoria (estado mexicano de Tamaulipas) e ativista político

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