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Pastor desiste de queimar Alcorão

Agência France-Presse
postado em 09/09/2010 18:22

Gainesville - O pastor evangélico da Flórida Terry Jones desistiu nesta quinta-feira (9/9) de queimar exemplares do Alcorão em um protesto previsto para o próximo sábado, afirmando que chegou a um acordo com um imã para a mudança do local da construção da mesquita prevista para o ;Marco Zero;, em Nova York.

"Vou viajar no sábado para lá (Nova York) e me reunirei com o imã da mesquita do ;Marco Zero;. Ele concordou em mudar o local" do templo muçulmano, disse Terry Jones à imprensa na pequena igreja evangélica em Gainesville.

"Sentimos que é um sinal do que Deus quer que façamos. Os americanos não desejam uma mesquita neste lugar e, é claro, os muçulmanos não querem que queimemos o Alcorão", disse Jones.

Um porta-voz do imã Feisal Abdul Rauf, clérigo moderado por trás do projeto de US$ 100 milhões do Centro Cultural Islâmico de Nova York, imediatamente negou qualquer acordo com o pastor Terry Jones.

"Não sabemos nada sobre isto", disse à AFP Daisy Khan, uma das principais promotoras do centro cultural islâmico e mulher de Abdul Rauf.

Questionada sobre a possibilidade de desistir de construir o centro na localização atual, a duas quadras do local dos ataques do 11 de Setembro, Khan afirmou que não há planos de mudanças. "Nossa posição é aquela expressada pelo imã ontem (quarta-feira)".

O imã Feisal Abdul Rauf afirmou na quarta-feira lamentar a polêmica e disse que não teria promovido o projeto se soubesse com antecedência quanta "dor" ele iria causar.

Apesar disso, ele frisou que o projeto de construção do centro seguirá como o planejado.

"Se mudássemos a localização, o discurso dos radicais venceria", completou Abdul Rauf, imã de Nova York há mais de 25 anos e conhecido por tentar construir pontes entre a sociedade ocidental e a islâmica.

O pastor Terry Jones, líder de uma pequena igreja de cerca de 50 membros na Flórida, planejava queimar 200 livros do Alcorão no próximo sábado, no nono aniversário dos ataques de 11 de setembro de 2001, que deixaram mais de três mil mortos.

Os planos de queimar o Alcorão no sábado originaram críticas em todo o planeta e levantaram temores de que poderia desencadear uma reação no mundo islâmico.

O Departamento de Estado alertou os cidadãos americanos para potenciais demonstrações antiamericanas em muitos países. A Interpol também alertou sobre "consequências trágicas" caso o evento realmente ocorresse.

O secretário-geral da Interpol, Ronald Noble, disse que existe "a grande possibilidade de ataques violentos contra pessoas inocentes".

Em resposta, milhares de afegãos protestaram em uma pequena cidade próxima a Cabul nesta quinta-feira, gritando slogans antiamericanos e anti-cristãos.

O presidente americano, Barack Obama, declarou que se a queima do livro sagrado ocorresse, o fato facilitaria o recrudecimento da Al-Qaeda. "Podem ocorrer graves atos de violência em locais como o Paquistão ou o Afeganistão. Isto pode fazer aumentar o recrutamento para a Al-Qaeda", advertiu Obama.

O secretário americano da Defesa, Robert Gates, telefonou ao pastor Terry Jones para alertar que se a promessa for cumprida, colocará em risco a vida de soldados americanos.

Gates "expressou séria preocupação de que prosseguir com a queima do Alcorão porá em risco a vida de nossas forças, especialmente no Iraque e no Afeganistão, e instou a ele que não prossiga com isto", revelou o secretário de imprensa, Geoff Morrell.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, também manifestou sua preocupação com as possíveis consequências da queima do Alcorão. Netanyahu pediu que "tais atos irresponsáveis não sejam realizados", ressaltando que "minam a tolerância religiosa e a paz".

O presidente da Indonésia, Bambang Yudhoyono, pediu a Obama que impeça a queima do livro sagrado muçulmano; e a Índia solicitou às autoridades americanas que tomem "fortes medidas" para deter o pastor.

Em Bagdá, o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, condenou a medida, que "poderá ser considerada um pretexto pelos extremistas para que cometam mais assassinatos".

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