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Senegal realiza primeira homenagem às vítimas do tráfego negreiro da África

Agência France-Presse
postado em 27/04/2011 17:20
Dacar - O tráfego negreiro foi oficialmente lembrado pela primeira vez nesta quarta-feira (27/4) no continente africano em uma cerimônia discreta em Dacar, marcada por um lançamento de flores no Oceano Atlântico em memória das vítimas, constatou um jornalista da AFP.

Essa cerimônia batizada de "Atlântico negro" aconteceu em um navio que realiza a travessia entre Dacar e Goreia, ilha símbolo do tráfego negreiro, de onde partiam para o continente americano milhares de escravos.

O evento contou com a presença de dirigentes do Ministério senegalês da Cultura e da Fundação do Memorial do Tráfego Negreiro, com sede em Bordeaux, antigo grande porto negreiro francês.

O encarregado dos Assuntos Políticos da Embaixada dos Estados Unidos em Dacar, Michael Makalou, igualmente participou da cerimônia, ao longo da qual flores foram jogadas no oceano, após um minuto de silêncio e a leitura de poemas em homenagem às vítimas.

A Ilha de Goreia e sua famosa "Casa dos Escravos" estão inscritas desde 1978 na lista do patrimônio mundial da Organização das Nações Unidas pela Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

"Pela primeira vez, Senegal e África relembram o tráfego negreiro. O Atlântico negro marca um momento importante na história da humanidade e a reconciliação da África consigo mesma", declarou Karfa Diallo, presidente da Fundação do Memorial do Tráfego Negreiro, no início da cerimônia.

"Pensamos em Goreia porque era um terminal, mas também pensamos naquilo que aconteceu por toda a África", onde eram capturados os escravos, declarou por sua vez Amady Bocoum, diretor de patrimônio cultural do Ministério senegalês da Cultura. "Toda a África está envolvida e todos aqueles que são por outro lado a diáspora", acrescentou.

Segundo ele, "é preciso lembrar o passado para compreender as raízes do presente, mas é igualmente importante construir um discurso prospectivo e de superação" pela África, continuou Bocoum.

Ele discursou ante uma plateia composta principalmente por alunos de um colégio de Ouakam, bairro de Dacar, a bordo do navio transportando dezenas de pessoas.

"Lanço essas flores em memória dos meus ancestrais" escravizados ou mortos por causa do tráfego negreiro, declarou à AFP Malick Sow, estudante de 13 anos.

A data 27 de abril foi escolhida porque corresponde à da abolição do tráfego negreiro nas colônias francesas, em 1948.

Senegal aprovou em março de 2010 uma lei criminalizando o tráfego negreiro, fazendo desta antiga colônia francesa o primeiro país africano a se dotar de tal legislação, inspirada na lei votada em 10 de maio de 2001 na França, por iniciativa da deputada de origem guianesa Christiane Taubira-Delannon.

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