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FBI revela prisão do "informante"

Correio Braziliense
postado em 24/06/2011 07:30 / atualizado em 30/09/2021 10:05

Ele figurava no topo da lista dos 10 fugitivos mais procurados pelo FBI, a polícia federal norte-americana. Com 11 nomes falsos e um apelido, tinha sobre si uma recompensa de US$ 2 milhões. Entre as décadas de 1970 e 1980, James “Whitey” Bulger cometeu 19 assassinatos na região de Boston (Massachusetts), enquanto comandava a gangue de Winter Hill, uma organização criminosa que praticava extorsão, tráfico de drogas e outras atividades ilegais. Sua história inspirou o personagem Costello, interpretado por Jack Nicholson, do filme Os infiltrados — a obra de Martin Scorsese levou dois Oscars em 2007.

Bulger, hoje com 81 anos, conseguiu escapar do FBI após receber a informação do agente aposentado John Connolly sobre a iminente captura. Após 16 anos em fuga, ele finalmente foi detido em Santa Monica, na Califórnia. No apartamento do terceiro andar de um prédio à beira-mar, as autoridades apreenderam mais de 20 armas e centenas de milhares de dólares em dinheiro.

Na cidade de 90 mil habitantes, o gângster levava uma vida pacata, ao lado da namorada, Catherine Creig, de 60 anos. O passado de bandido se misturou com o de um dos mais valiosos informantes do FBI: Bulger forneceu importantes dados sobre a máfia New England, rival da Winter Hill. Os vizinhos não suspeitavam de quem se escondia ali. Em entrevista ao Los Angeles Times, Barbara Gluck descreveu o morador do lado como “constantemente furioso”. Ao mesmo tempo, via em Catherine e em Bulger um casal “muito atraente”. A vizinha contou que a namorada do gângster revelou-lhe certa vez que ele sofria de mal de Alzheimer.

Amigo
O jornal Boston Herald trouxe o depoimento de Janus Goodwin, que cultivava uma amizade de 15 anos com o criminoso, sem suspeitar de sua real identidade. “Eu imaginava que fossem pessoas legais. É óbvio, eu estava errado”, disse. De acordo com Goodwin, o casal pagava US$ 1,1 mil por mês de aluguel. Duas semanas atrás, colocaram um aviso na porta: “Por favor, não bata a qualquer hora”. O amigo pensava que o motivo da recomendação era o estado de saúde bastante debilitado de Bulger. Familiares de vítimas da gangue de Winter Hill celebraram o fim da caçada ao algoz. “Eu agradeci a Jesus — ele finalmente foi pego”, declarou ao mesmo periódico Eileen Davis, cuja irmã de 26 anos foi estrangulada por Bulger.

Por telefone, o norte-americano Clinton Van Zandt — ex-agente do FBI por 25 anos — afirmou ao Correio que a prisão do gângster representa uma redenção. “Bulger esteve envolvido com o crime organizado, mas sabia de tudo o que ocorria no FBI, no mais alto nível”, explicou. Segundo ele, o homem que impôs o terror em Boston fazia o jogo duplo com maestria. “Por definição, ser um bom informante exige o envolvimento em atividades criminosas”, emendou. Van Zandt crê que Connolly violou normas do FBI. “Ele fez o que todo mundo deveria: manter um informante de grande importância”, disse.

Bulger e Catherine compareceram à Corte Federal, no centro de Los Angeles, e responderam a algumas perguntas do juiz John McDermott. Questionado se conhecia as acusações contra ele, o gângster respondeu: “Eu tenho todas elas aqui”. A Justiça decidiu manter o casal preso, sem direito a fiança.

 

Ouça a entrevista com Clinton Van Zandt, ex-agente do FBI

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