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Presidente iraniano promete defender seu governo após prisões ordenadas

postado em 30/06/2011 08:03
O artigo 110 da Constituição da República Islâmica do Irã determina que, entre os deveres e poderes da Liderança, está a ;demissão do presidente, de acordo com os interesses do país, após a Suprema Corte considerá-lo culpado de violar os seus deveres constitucionais;. O mesmo texto estabelece que todas as autoridades do país devem subserviência à Liderança ; uma referência ao aiatolá Ali Khamenei. O presidente Mahmud Ahmadinejad ignorou as leis, ergueu-se ontem contra os ultraconservadores e chegou a citar o guia supremo da nação, ao repudiar as recentes detenções de integrantes do governo e de seu próprio gabinete. ;Espero que a reputação das pessoas seja protegida, em particular a dos membros do governo que trabalham as 24 horas por dia e não têm tempo para se defender;, declarou. ;Sinto-me obrigado a defender o gabinete, que constitui uma linha vermelha. Se querem tocar nele, eu o defenderei;, avisou, sem revelar que medidas pretende tomar. ;Do nosso ponto de vista, essas manobras são políticas, e está claro que objetivam colocar pressão sobre o governo;, acrescentou.

O novo capítulo do imbróglio político envolvendo Ahmadinejad e Ali Khamenei teve como estopim a prisão de várias pessoas ligadas ao chefe de gabinete da Presidência do Irã, Esfandiar Rahim Mashaeie. Os assessores foram acusados de corrupção, crimes financeiros e bruxaria. O regime dos aiatolás exigiu a cabeça de Mashaie, considerado liberal e nacionalista ao extremo, mas o presidente se negou a demiti-lo. ;Mais de 30 autoridades do grupo de Ahmadinejad estão na prisão, por terem discordado de Ali Khamenei;, afirmou ao Correio o advogado iraniano Mostafaei Mohammed, que defendeu a viúva Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento ; a pena foi comutada para cinco anos de prisão. ;Pela Constituição, Ahmadinejad pode mudar seu gabinete. Ele quis fazê-lo, ao demitir Heydar Moslehi (ministro da Inteligência), mas o aiatolá não aceitou;, emendou. Mostafaei acredita que se o presidente não obedecer o líder supremo, ficará em apuros.

Após a detenção do ex-vice-chanceler Mohammad Sharif Malekzadeh, que apresentou sua demissão logo após ser nomeado, os deputados ultraconservadores pediram a demissão do ministro das Relações Exteriores, Ali Akbar Salehi. A interferência nos assuntos do Executivo elevou a tensão em Teerã. O diretor da Área de Livre Comércio de Aras, Alireza Moghimi, e o vice-ministro das Indústrias e Minas, Afshin Ronaghi, são outros dois aliados de Ahmadinejad que amargam a cadeia. Com a autoridade colocada em xeque pelo aiatolá, Ahmadinejad pode acabar como pato manco, um líder sem representatividade. As próximas eleições presidenciais iranianas estão marcadas para 2013.

Nova era
Por e-mail, a iraniana Farideh Farhi ; cientista política da Universidade do Havaí ; afirmou à reportagem que Ahmadinejad e seus assessores estão bastante isolados. ;Ele não enfrenta apenas os ultraconservadores ou os linha-dura, mas os conservadores tradicionais que estão ligados aos setores comerciais (bazaars). Além disso, ele está isolado do centro e da esquerda;, explicou. Segundo ela, o presidente tenta apostar as fichas no dinheiro controlado pelo governo, na ameaça de expor outras autoridades, e no custo de sua remoção para um sistema que apoiou sua reeleição. ;O Judiciário está prendendo seus assessores e o Parlamento impõe limites em suas políticas e o ameaça com um impeachment. Para alguns, o Irã já vive uma era pós-Ahmadinejad.;

A especialista iraniana lembra que Ahmadinejad acreditava que Ali Khamenei aceitaria a demissão de Moslehi. Como o aiatolá refutou o afastamento do ministro, o presidente ficou 11 dias sem trabalhar. ;O incidente foi um divisor de águas, pois mostrou que Khamenei poderia conviver com a renúncia de Ahmadinejad. É bem possível que o presidente seja convocado pelo Parlamento para explicar a crise e enfrente um voto de não confiança;, aposta Farhi. ;Espero que todos ajudem para que a calma volte;, disse Ahmadinejad. A permanência do presidente provavelmente depende desse apelo.



Teerã testou mísseis capazes de levar ogiva nuclear
O Irã realizou testes secretos com mísseis que poderiam transportar carga nuclear. A denúncia foi feita ontem pelo ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, em audiência na Câmara dos Comuns. ;O Irã também fez testes secretos de mísseis balísticos e lançamento de foguetes, incluindo testes com mísseis capazes de transportar carga nuclear, em violação da Resolução n; 1.929, das Nações Unidas;, declarou Hague. Na terça-feira, Teerã lançou 14 mísseis balísticos de curto e médio alcance, durante um de seus tradicionais exercícios de ;defesa; destinados a demonstrar a força do país e a dissuadir Israel e os Estados Unidos de atacarem a República Islâmica.

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