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Soldados brasileiros são alvo de denúncias de abuso de conduta no Haiti

postado em 17/12/2011 14:57
Pela primeira vez desde que desembarcaram no Haiti, em 2004, os soldados brasileiros são alvo de denúncias de abuso de conduta. O relatório de uma organização não governamental baseada em Porto Príncipe apontou que oito militares do Brasil que integram a missão da ONU espancaram três haitianos durante uma revista de rotina, na madrugada da última quarta-feira. Segundo a Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos, as vítimas teriam sido obrigadas a tirar a roupa e recebido chutes e golpes com uma espécie de facão. O comando do Exército abriu sindicância e uma investigação paralela está sendo conduzida pela chefia da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah).

A imprensa haitiana divulgou imagens dos três jovens que denunciaram a agressão. Em uma delas, dois rapazes aparecem de bruços, com ferimentos nas costas e nas nádegas. Conforme o depoimento de um deles, o trio estava parado em uma rodovia, por causa de um problema mecânico no carro, quando foi abordado pelos soldados brasileiros. Depois da revista, os militares teriam levado os jovens para uma plantação de banana. ;Disseram para eu tirar a camiseta e me atingiram com um facão. Depois, pegaram os outros dois para bater;, contou uma das vítimas, em depoimento transcrito pelo site Defend.ht. Além de apanharem, os jovens tiveram documentos, dinheiro e telefones celulares subtraídos pelos agressores.

[SAIBAMAIS]Até ontem, os militares denunciados pela ONG permaneciam em suas funções ; eles nem sequer tinham sido identificados. O grupo só será afastado se ;a inconsistência atual das denúncias for revertida no curso da apuração;, segundo informou o Comando do Contingente Brasileiro. O batalhão também disse estar oferecendo uma linha telefônica exclusiva para que a comunidade ofereça mais dados sobre o caso. Outra investigação está sendo conduzida pela Minustah. O comandante militar da missão, o general brasileiro Luiz Eduardo Ramos, veio a Brasília, na manhã de ontem, para uma conversa com o ministro da Defesa, Celso Amorim, que não comentou as denúncias e se limitou a dizer que as medidas administrativas estão sendo tomadas. A investigação da ONU é conduzida por oito pessoas, civis e militares, e os resultados devem sair dentro de três a cinco dias.

Eliana Nabaa, chefe do escritório de informação pública da Minustah, disse ao Correio estar muito preocupada. ;Somos os protetores dos haitianos, estamos na terra deles e, caso isso seja confirmado, trata-se de uma conduta absolutamente condenável;, ressaltou. Em setembro, um vídeo mostrando abuso sexual contra um jovem por cinco soldados uruguaios chocou os integrantes da missão de paz.

Para Eliana Nabaa, o episódio envolvendo os brasileiros, se for confirmado, deve ser tratado com a máxima seriedade. ;Nós treinamos os soldados a partir de um código de disciplina bastante rígido. Mas muitas pessoas ignoram essas coisas, esquecem limites e obrigações;, lamenta. Sylvie Wildenberg, porta-voz da ONU para o Haiti, reconhece que esse tipo de denúncia mancha a imagem de centenas de bons soldados. ;Se isso for confirmado, infelizmente, vai gerar um grande descrédito e uma percepção ruim;, disse à reportagem. ;Mas é cedo para qualquer conclusão, e é nosso dever olhar para todas as alegações, considerando a nossa política de conduta zero;, ponderou.

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