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Opositor ucraniano torturado entra em lista de procurados da Polícia

Seu caso desencadeou uma onda de condenações na Europa e nos Estados Unidos

Agência France-Presse
postado em 31/01/2014 19:58

Kiev - Um dos integrantes mais ativos da oposição ucraniana, Dmytro Bulatov, denunciou ter sido crucificado depois de ser mantido em poder da polícia durante uma semana, e ainda pode ser preso por organizar tumultos.

Seu caso desencadeou uma onda de condenações na Europa e nos Estados Unidos. Ele soma-se a outros registros de abusos cometidos pelas forças de segurança, sendo pelo menos um terminado em morte.

Até o momento, 33 pessoas que participavam da onda de manifestações sem precedentes contra o governo são consideradas desaparecidas, segundo a ONG SOS Euroma;dan que registra os casos. Mas não é possível confirmar esse número.

Crucificado e cortado


"Eles me crucificaram, cortaram minha orelha e fizeram cortes no meu rosto. Fui agredido em todo o corpo. Mas, graças a Deus, estou vivo", declarou nesta sexta-feira Dmytro Bulatov, de acordo com imagens das redes de televisão Kanal 5 e 1%2b1.

Nas imagens, o rosto do manifestante aparece muito ferido, as mãos estão inchadas e a roupa, ensanguentada.


Este pai de três filhos, de 35 anos, estava desaparecido desde 22 de janeiro, e foi deixado na quinta em um bosque perto de Kiev.

Ele conseguiu chegar a uma aldeia para pedir socorro.

O Ministério do Interior indicou nesta sexta-feira que não descarta "uma encenação de sequestro (...) com o objetivo de provocar uma reação negativa na sociedade".

Hospitalizado, o militante foi colocado na lista de pessoas procuradas pela Polícia por "organização de tumultos massivos". Com isso, Bulatov pode ser preso.

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Dmytro Bulatov é um dos líderes do Automa;dan, movimento de manifestantes em carros, que organizou ações ousadas diante da residência do chefe de Estado, nas proximidades de Kiev.

A Casa Branca manifestou sua "consternação com os indícios evidentes de torturas" infligidas em Bulatov. A chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, reagiu no mesmo sentido.

Ela ligou o caso de Bulatov ao do militante Yuri Verbitski, que teve o corpo encontrado em um bosque na mesma região com sinais de tortura, no dia 22 de janeiro.

Verbitski foi barbaramente agredido e morreu de hipotermia. Um outro manifestante, que estava com ele e também sofreu agressões, conseguiu sobreviver.

Ashton levou a crer que os agressores já tinham vítimas definidas.

Um dos líderes da oposição, Vitali Klitschko, visitou Bulatov no hospital e denunciou um "ato de intimidação" contra os opositores mais ativos contra o regime.

Outros integrantes do Automa;dan fugiram da Ucrânia, dizendo-se ameaçados.

A jornalista Tetiana Tchornovol, espancada em dezembro, também era integrante do movimento.

"Cerca de vinte carros de militantes foram queimados durante a noite de quinta para sexta-feira", disse à AFP Serguei Poiarkov, uma outra liderança do movimento.

"Ninguém se sente mais em segurança", disse.

[SAIBAMAIS]A ONG Human Rights Watch declarou nesta sexta ter registrado 13 casos nos quais a Polícia agrediu deliberadamente ou alvejou com balas de borracha jornalistas que cobriam os protestos, ou médicos. ONGs ucranianas falam em 60 casos.

O movimento de protesto começou no final de novembro, depois da decisão repentina do presidente ucraniano, Viktor Yanukovytch, de desistir de assinar um acordo de associação com a UE, negociado durante meses, em troca de uma aproximação com a Rússia, que concedeu um crédito de 15 bilhões de dólares e uma redução do preço do gás a Kiev.

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