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Ucrânia: centenas de pessoas fazem festa para soldados pró-russos

"O Exército está com o povo", gritaram as pessoas reunidas no centro de Slaviansk, no leste da Ucrânia

Agência France-Presse
postado em 16/04/2014 17:31
Ativistas pró-russos bloqueiam coluna de homens ucranianos que montam em blindados na cidade ucraniana oriental de Kramatorsk
Slaviansk - Aos gritos de "Vocês são heróis" e "Nós te amamos", centenas de pessoas receberam triunfalmente nesta quarta-feira (16/4) em Slaviansk (leste) seis blindados e misteriosos soldados que chegaram para reforçar o lado pró-russo, em meio a temores de um ataque das forças leais a Kiev.

"O Exército está com o povo", gritaram centenas de pessoas reunidas no centro desta cidade de 140 mil habitantes, que no sábado passou para o controle de rebeldes pró-russos que invadiram a Prefeitura, a delegacia de polícia e a sede local dos serviços secretos.

Na terça-feira (15/4), a tensão aumentou com a aproximação de forças leais ao governo de Kiev, no primeiro sinal visível da operação lançada para desarmar ativistas pró-Rússia e recuperar o controle de edifícios públicos. Foram mobilizados na região dois helicópteros, cinquenta blindados e tanques, e cerca de 300 homens das unidades especiais da Polícia e dos serviços secretos.

"Agora, estamos protegidos pelos militares e não apenas por civis. Felizmente, o Exército veio em nosso auxílio! Se os soldados de Kiev chegarem até aqui, vamos formar um escudo humano com outras mulheres para proteger a nossa cidade", garante Natalia Teslenko, de 53 anos.

[SAIBAMAIS]Sobre os blindados eram exibidas a bandeira russa e a da República de Donbass, auto-proclamada pelos ativistas pró-russos do leste do país que defendem uma anexação de sua região à Rússia, ou pelo menos uma autonomia maior dentro de uma federação Ucrânia.

Os habitantes trazem água e cigarros para os soldados. Jovens mulheres deixam flores sobre os tanques. Muitas pessoas fotografam a cena.

Homens fortemente armados


Não se sabe exatamente a origem destes soldados, se são ucranianos que desertaram do Exército regular para se juntar aos pró-russos ou integrantes das unidades especiais da GRU (serviços especiais do Exército russo) que atuam ilegalmente na Ucrânia, uma teoria defendida por Kiev e o Ocidente.

Um homem uniformizado que se apresenta sob o pseudônimo de "Balu" afirma que estes militares são desertores do Exército ucraniano e voluntários da Crimeia.

"Eu sou um membro das forças de autodefesa da Crimeia. Outros dez estão na mesma situação que eu, e cerca de 150 soldados são ucranianos", declara a alguns jornalistas.

"Balu" afirma que os tanques foram bloqueados pela população em Kramatorsk, a cerca de vinte quilômetros de distância. "Nós tomamos o controle dos tanques e os soldados passaram para o nosso lado", garantiu.

No total, 100 homens podem ser vistos. Equipados com coletes à prova de balas, armas, fuzis Kalashnikov com mira telescópica, lançadores de foguetes anti-tanques, eles tomaram posição ao redor dos tanques.

Todos usam o mesmo uniforme, sem qualquer sinal distintivo, e a maioria tem o rosto coberto por um capuz preto.

Todos possuem uma fita de São Jorge, nas cores preto e laranja, sinal de que são aliados dos ativistas pró-russos. Fora "Balu", eles se recusam a falar com jornalistas.

Um caça passa voando baixo, sem provocar nada além de escárnio das pessoas.

Mas os moradores de Slaviansk temem as informações, em parte confirmadas, que indicam um agrupamento em massa das forças ucranianas na região de Kramatorsk na tarde de terça-feira.

"Iremos permanecer aqui, com os tanques, até que o povo possa decidir seu futuro através de um referendo", disse "Balu" sob os aplausos da pequena multidão ao seu redor.

"Contamos com vocês, não queremos viver sob um regime fascista imposto por Kiev", declara uma aposentada preocupada com uma possível operação militar das forças ucranianas.

"O Exército ucraniano não vai atirar contra o povo. Aqueles que podem fazer isso são mercenários, fascistas. Nós os esmagaremos", tranquilizou "Balu".

Na entrada da cidade, os civis armados são mais numerosos do que no dia anterior, e as barreiras e controles estão mais rígidos.

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