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Diante da situação no leste da Ucrânia, país reintroduz o serviço militar

O presidente interino, Olexander Turchynov, assinou o decreto que entrou em vigor imediatamente "levando-se em conta a degradação da situação no leste e no sul

Agência France-Presse
postado em 01/05/2014 13:57
Donetsk - A Ucrânia reinstaurou nesta quinta-feira (1;/5) o serviço militar diante da situação crítica no leste rebelde, onde militantes pró-Rússia invadiram mais um prédio oficial de Donetsk, agredindo policiais.

Alarmado com a ameaça à integridade territorial da Ucrânia, o presidente interino, Olexander Turchynov, reintroduziu o serviço militar, eliminado há apenas um ano, "ao considerar a degradação da situação no leste (...), o aumento da força das unidades armadas pró-russas, e a tomada ou bloqueio de edifícios da administração pública, de unidades militares, de comunicações e transportes".

O Fundo Monetário Internacional, que havia aprovado na quarta um plano de ajuda de 17 bilhões de dólares, admitiu que esse plano deve ser "revisado" em caso de perda de regiões do leste do país.

[SAIBAMAIS]Pouco antes em Donetsk, principal cidade da região rebelde, a sede da Procuradoria regional foi ocupada em menos de uma hora por uma multidão de manifestantes pró-Rússia, deixando clara, mais uma vez, a impotência das autoridades ucranianas diante das ações de separatistas na província.

Os policiais, que tentavam proteger o prédio, foram atacados antes de deixar o local, desarmados, alguns aos prantos, constataram jornalistas da AFP.


De acordo com a imprensa, homens armados e encapuzados tomaram durante a noite a sede da Procuradoria da cidade de Gorlivka. Eles levaram computadores e queimaram documentos.

Os rebeldes pró-russos, hostis ao governo que assumiu em Kiev após a derrubada do presidente Viktor Yanukovytch, mantiveram o seu avanço nos últimos dias. Eles assumiram o controle de pontos estratégicos (Prefeitura, sedes da Polícia e dos serviços de segurança) em mais de dez cidades.

Neste 1; de maio, as tradicionais celebrações do Dia do Trabalho deram a cada campo a oportunidade de defender suas bandeiras.

Em Kiev, a mobilização foi pequena, apesar da gravidade da crise neste país de 46 milhões de habitantes que deixou a União Soviética e se tornou independente em 1991.

Cerca de 2.000 pessoas se reuniram pacificamente gritando palavras de ordem em favor da unidade da Ucrânia.

Já em Moscou as manifestações reuniram por volta de 100.000 pessoas na Praça Vermelha. "Tenho orgulho do meu país", "Putin tem razão", indicavam os cartazes exibidos pelos manifestantes.

O mesmo clamor patriótico podia ser visto em Simferopol, capital da península da Crimeia, anexada à Rússia em março. Cerca de 60.000 pessoas participaram de uma passeata agitando bandeiras russas e exibindo cartazes com frases como "Nós somos a Rússia", "Putin é nosso presidente".

Em Kharkiv (leste da Ucrânia), 2.000 pró-russos percorreram as ruas do centro gritando "Ucrânia sem fascistas", "Russo, língua do Estado".

Intervenção

Em Slaviansk, reduto rebelde separatista do leste ucraniano que Kiev tenta controlar há mais de duas semanas, os rebeldes ainda mantêm em seu poder uma equipe de observadores da Organização pela Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE).

As negociações com representantes da OSCE "se desenvolvem muito bem", declarou durante a noite à imprensa o prefeito autoproclamado da cidade, Viatcheslav Ponomarev.

Mas ele se negou a responder quando os 11 inspetores da OSCE serão liberados.

A chanceler alemã, Angela Merkel, havia pedido antes ao presidente Putin que "faça uso de sua influência" no caso dos observadores mantidos como "reféns" (sete estrangeiros e quatro ucranianos).

Mobilizados

A batalha entre Kiev e Moscou é travada nas frentes militar, econômica e diplomática.

Em Kiev, as autoridades realizaram exercícios militares durante a noite de quarta para quinta-feira. Integrantes das unidades especiais da guarda presidencial, a bordo de cerca de dez blindados, cercaram o prédio do Parlamento, e atiradores de elite chegaram ao teto de paraquedas.

Preocupado em eliminar os argumentos dos separatistas, o governo ucraniano anunciou que pretende organizar um referendo sobre a unidade da nação ucraniana e sobre a descentralização junto com a eleição presidencial antecipada de 25 de maio.

A Rússia chamou a ideia de "cínica" e repetiu que Kiev deve parar de "realizar operações militares contra seu próprio povo", referindo-se à operação "antiterrorista" iniciada pelas autoridades no leste.

Kiev havia anunciado na quarta-feira que suas Forças Armadas haviam sido colocadas em "estado de alerta total" para o combate, diante da ameaça de uma intervenção russa e para tentar impedir o alastramento da insurreição para novas regiões do sul e do leste.

Moscou advertiu para "as consequências catastróficas" em caso de uma ampla operação no leste. Ele pediu que Kiev, os Estados Unidos e a União Europeia "não cometam erros criminosos".

O Ministério ucraniano das Relações Exteriores anunciou na quarta que o adido militar russo em Kiev havia sido "detido" quando tentava obter informações secretas sobre a cooperação entre a Ucrânia e a Otan.

Ele foi declarado "persona non grata" e deve deixar a Ucrânia "rapidamente".

Os ocidentais concederam suporte financeiro à Ucrânia aprovando um empréstimo de 17 bilhões de dólares do FMI.

"Se o governo central perder o controle efetivo do leste", uma ajuda financeira adicional poderá ser "necessária", ressaltou a instituição financeira.

Entre as condições impostas pelo FMI está um aumento de 50% no preço do gás, que entrou em vigor nesta quinta-feira. Um novo aumento de 40% deve acontecer em dois anos.

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