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Golpe de Estado na Tailândia após 7 meses de crise política e protestos

Em um comunicado, a instituição militar garantiu que tem como objetivo "restaurar a paz e a ordem pública", sem procurar explorar a situação

Agência France-Presse
postado em 22/05/2014 16:45
Bangcoc - O Exército tailandês tomou o poder nesta quinta-feira e suspendeu a maioria das liberdades civis após sete meses de crise política e protestos que causaram um impasse. O primeiro-ministro deposto, Niwattumrong Boonsongpaisan, e seu governo receberam a ordem de se apresentar ao novo regime, que adotou o nome de Conselho Nacional para a Manutenção da Paz e da Ordem.

O Exército também ordenou que os manifestantes dos dois lados, acampados em Bangcoc, fossem para suas casas, e proibiu qualquer concentração de mais de cinco pessoas. Os manifestantes começaram a obedecer às ordens durante o início da noite. O novo Conselho também suspendeu a Constituição, mas decidiu manter o Senado, afirmando que isso permitirá governar o país sem problemas.

Depois de menos de três dias de lei marcial, destinada, de acordo com o Exército, a forçar o diálogo entre os atores civis da crise política, o poderoso chefe do Exército, o general Prayut Chan-O-Cha, apareceu durante a tarde na televisão para explicar que o golpe era necessário "para o país voltar ao normal".

O general destacou a violência no país, que deixou 28 mortos desde o início da crise no ano passado, principalmente durante manifestações. "Todos os tailandeses devem manter a calma e os funcionários públicos devem continuar a trabalhar como de costume", acrescentou. Mas um toque de recolher foi decretado em todo o país a partir desta madrugada.

Todas as emissoras de televisão e rádio precisaram interromper suas programações e difundir boletins do novo regime militar. "O objetivo é fornecer informações precisas à população", leu um porta-voz militar na televisão, que exibe apenas fotos de soldados em um fundo branco entre as declarações lidas pelo militar.

As redes sociais também vão ser submetidas ao controle dos militares. O conteúdo considerado "crítico" vai ser bloqueado. A Tailândia sofreu 18 golpes de Estado ou tentativas em cerca de 80 anos. O último, em 2006, contra o ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, desencadeou uma série de crises políticas, levando às ruas inimigos e simpatizantes do bilionário, que continua no exílio, apesar de sua figura dividir o país.

A crise atual é apenas o último ato. Ela começou no outono com protestos exigindo a saída de sua irmã Yingluck, primeira-ministra desde 2011. Deposta pela justiça no início de maio, ela foi substituída por um governo interino que sobreviveu a duras penas, muito contestado pela oposição. O anúncio do golpe de Estado nesta quinta foi feito duas horas depois da retomada das negociações entre os partidos políticos e os líderes dos manifestantes dos dois lados em um complexo militar na capital mantido sob forte esquema de vigilância. Pouco antes, a confusão reinou entre os jornalistas no local, quando os líderes políticos de ambos os lados foram levados sob escolta militar.

Onde está o primeiro-ministro?

O local onde se encontra o primeiro-ministro interino Niwattumrong Boonsongpaisan, representado por ministros nas negociações, não é conhecido e nenhum representante pode ser encontrado. O Exército estabeleceu na terça-feira a lei marcial, imediatamente denunciada por alguns como um golpe de Estado, reforçando o poder das autoridades militares.

Em um comunicado, a instituição militar garantiu que tem como objetivo "restaurar a paz e a ordem pública", sem procurar explorar a situação para um golpe de Estado. "A situação me preocupa e eu não posso deixar as coisas continuarem sem solução", declarou na abertura da sessão de negociações o general Prayut, que durante meses se recusou a ceder aos ditames de golpe pedido pelos manifestantes da oposição.

Durante as negociações, o líder do movimento pró-governo dos Camisas Vermelhas, Jatuporn Prompan, propôs um referendo nacional sobre a melhor opção para sair da crise. Mas os dois lados, que concordaram em sentar-se à mesma mesa pela primeira vez em sete meses de crise, parece irreconciliável. Os partidários do governo insistem na necessidade de eleições o mais rápido possível, já que as de fevereiro foram invalidadas pela justiça devido às perturbações causadas pelos manifestantes. Já os manifestantes querem um primeiro-ministro neutro, nomeado pelo Senado, na ausência da câmara baixa do Parlamento, dissolvida em dezembro.


Reação internacional

Após a imposição da lei marcial, os Estados Unidos haviam considerado que a situação na Tailândia não podia ser comparada a um golpe de Estado, mas a comunidade internacional já tinha expressado sua preocupação. Mas nesta quinta, o secretário de Estado americano, John Kerry, condenou com firmeza "o golpe de Estado militar", advertindo para o risco de consequências "negativas" entre Washington e Bangcoc, dois países aliados.
"Não há justificativa para este golpe de Estado militar", denunciou em um comunicado.

E o presidente francês François Hollande condenou a tomada do poder pelo Exército e fez um apelo por "um retorno imediato à ordem constitucional" e pela organização de eleições, segundo um comunicado do Eliseu. O chefe de Estado também pediu que "os direitos e liberdades fundamentais do povo tailandês sejam respeitados". Já a União Europeia pediu um "retorno rápido a um processo democrático legítimo" na Tailândia. Em um comunicado, o porta-voz da representante da diplomacia da UE, Catherine Ashton, afirmou que devem ser organizadas rapidamente "eleições sem exclusão e com credibilidade".

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