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Kiev denuncia invasão russa e Ocidente ameaça Moscou com sanções

O Conselho de Segurança da ONU se reuniu em caráter de emergência para discutir a crise, enquanto os líderes europeus pediram que Moscou mude de estratégia para não sofrer "consequências muito graves"

Agência France-Presse
postado em 28/08/2014 18:20
O Conselho de Segurança da ONU se reuniu em caráter de emergência para discutir a crise, enquanto os líderes europeus pediram que Moscou mude de estratégia para não sofrer
Donetsk - Washington e seus aliados ameaçaram Moscou com novas sanções, nesta quinta-feira, (28/8), diante de uma "clara" incursão de forças russas na Ucrânia, enquanto Kiev pedia ajuda militar "de envergadura" aos países ocidentais. "É evidente aos olhos do mundo inteiro" que forças russas estão na Ucrânia, afirmou o presidente americano, Barack Obama, em entrevista coletiva nesta quinta-feira, anunciando também que em setembro receberá seu colega ucraniano, Petro Porochenko, na Casa Branca.

"A incursão russa que acontece hoje na Ucrânia pode produzir apenas mais sanções" contra a Rússia, frisou Obama. "A Rússia é responsável pela violência no leste da Ucrânia. A violência é estimulada pela Rússia. Os separatistas são treinados pela Rússia. São armados pela Rússia, são financiados pela Rússia", insistiu o presidente. Ele descartou uma ação de tropas dos Estados Unidos na Ucrânia, mas prometeu defender os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Também nesta quinta à noite, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente Obama concordaram, em uma conversa por telefone, que o comportamento da Rússia na Ucrânia "não pode ficar sem consequências" - anunciou Berlim. "Eles disseram que estão muito preocupados com várias informações sobre a chegada de novos soldados russos e de material militar russo" ao leste da Ucrânia - declarou em uma nota o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, acrescentando que "a chanceler e o presidente concordaram que um comportamento desses não pode ficar sem consequências".

Merkel confirmou para o presidente Obama que a situação ucraniana estará na ordem do dia do Conselho Europeu, no próximo sábado, em Bruxelas, e que os europeus discutirão a possibilidade de "novas sanções" - relatou seu porta-voz.

Ucrânia pede ajuda militar

O Conselho de Segurança da ONU se reuniu em caráter de emergência para discutir a crise, enquanto os líderes europeus pediram que Moscou mude de estratégia para não sofrer

[SAIBAMAIS]Hoje, a Ucrânia pediu ajuda militar "de envergadura", depois de acusar a Rússia de enviar suas tropas para o leste do país. A acusação foi desmentida por Moscou. O Conselho de Segurança da ONU se reuniu em caráter de emergência para discutir a crise, enquanto os líderes europeus pediram que Moscou mude de estratégia para não sofrer "consequências muito graves".

O presidente ucraniano descreveu a situação como "extremamente difícil", mas preferiu evitar o pânico. Ao mesmo tempo, o governo anunciou que o serviço militar obrigatório será retomado no outono. Os temores de uma guerra aberta entre ambos os países cresceram nas últimas horas, com acusações detalhadas por parte da Otan. De acordo com a organização, mais de mil soldados russos estão na região.

Esses soldados, que muitas vezes não usam insígnias, podem ser identificados por sua conduta, de "militares profissionais", comentou uma fonte de alta patente da Otan, insistindo em que há cada vez mais informações sobre soldados russos mortos nos combates.

"Eles operam equipamentos sofisticados, aconselham os separatistas, e os soldados avançam até 40 ou 50 km em território ucraniano", descreveu esse oficial, que informou que o fornecimento de armas aos rebeldes também teria aumentado "tanto em volume quanto em quantidade". Uma fonte diplomática acrescentou que embaixadores para a aliança farão uma reunião de emergência na sexta-feira.

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É a primeira vez que a Rússia é acusada de invasão direta na Ucrânia, depois de meses de suspeitas de Kiev e dos países ocidentais de que Moscou fornecia ajuda militar aos separatistas pró-russos que enfrentam o Exército ucraniano no leste do país. Autoridades americanas acusaram as tropas russas de promoverem uma contraofensiva relâmpago, que levou rebeldes pró-Moscou a conquistarem faixas territoriais, invertendo o jogo do conflito que já dura quatro meses.

Pouco antes, as autoridades ucranianas afirmaram que as tropas russas haviam tomado o controle na véspera da estratégica cidade fronteiriça de Novoazovsk, 100 km ao sul do reduto rebelde de Donetsk. O presidente Poroshenko também havia mencionado a captura das localidades de Amvrosivka e Starobecheve, a sudeste de Donetsk.

"Está claro que a situação é extremamente complicada (...) mas controlável, o suficiente para não cair no pânico e manter a cabeça fria", declarou Poroshenko, no início da reunião, depois de anunciar consultas entre os Estados-Maiores ucraniano e russo, nesta quinta. "Estamos em condições de nos defendermos", garantiu Poroshenko, acrescentando que o país está em negociações para o fornecimento de armas.

Reação internacional

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, advertiu que a incursão russa, da qual há "cada vez mais evidências", terá consequências. "Um número cada vez maior de tropas russas intervêm diretamente nos combates em território ucraniano", tuitou na manhã desta quinta-feira o embaixador americano em Kiev, Geoffrey Pyatt. "A Rússia também enviou seus sistemas de defesa aérea mais avançados", relatou.

Em uma entrevista coletiva, o presidente francês, François Hollande, ressaltou que a presença de soldados russos em território ucraniano, se confirmada, é intolerável e inaceitável.

O primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, já havia pedido na quarta à Otan "ajuda prática e (...) decisões cruciais na cúpula" prevista para 4 de setembro.

Um líder dos separatistas admitiu na quarta-feira que soldados russos lutavam junto com os insurgentes. "Juntaram-se a nós muitos soldados russos que preferem não passar suas férias na praia, mas nas fileiras com seus irmãos, lutando pela liberdade do Donbass", declarou o "primeiro-ministro" da autoproclamada República Popular de Donetsk, Alexander Zakharchenko, em um comunicado publicado na Internet.

Nas frentes de batalha, ataques com morteiros provocaram a morte de 11 civis nas últimas 24 horas no reduto separatista pró-russo de Donetsk, anunciaram nesta quinta-feira as autoridades locais. "Como consequência dos disparos de artilharia contra bairros de Donetsk, 11 civis morreram e 22 ficaram feridos", informou a Prefeitura em um comunicado.

Os combates entre o exército ucraniano e os rebeldes pró-russos no leste da Ucrânia deixaram mais de 2.200 mortos desde meados de abril - metade deles no último mês, segundo a ONU. Segundo uma associação de mães de soldados russos, 400 homens morreram, ou ficaram feridos na Ucrânia.

Tropas russas se espalham

Kiev indicou que as tropas russas assumiram na quarta-feira o controle da importante cidade fronteiriça de Novoazovsk, assim como de uma série de aldeias vizinhas ao longo da faixa sudeste da fronteira. Um comandante de voluntários pró-Kiev disse que as tropas do governo foram cercadas em Ilovaysk, cerca de 50 quilômetros a sudeste de Donetsk, e que estavam quase sem munição.

O Exército ucraniano também informou que um batalhão russo havia estabelecido seu quartel-general perto de uma aldeia na mesma região, enquanto as autoridades locais de Donetsk indicaram que bombardeios intensos na quarta haviam deixado 26 mortos.

As últimas prováveis manobras russas suscitam temores de que Moscou esteja tentando ir além da Crimeia, anexada em março, apesar da indignação de grande parte da comunidade internacional.

"O mais recente fluxo de notícias do leste da Ucrânia sugere um aumento do risco de que o presidente russo possa ir além da anexação da Crimeia e da desestabilização do governo pró-ocidental em Kiev. Os russos estariam a ponto de ocupar partes do sudeste da Ucrânia", disse Christian Schulz, analista do banco Berenberg.

O chanceler russo, Serguei Lavrov, afirmou na quarta-feira que o Kremlin não está interessado em desmantelar a Ucrânia.

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