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Quase 70 mil curdos da Síria fogem para refúgios na Turquia em 24 horas

A Turquia abriu a fronteira aos refugiados sírios que começaram a fugir da cidade e da região de Ain al-Arab (Koban em curdo), cercada pelos combatentes do EI

Agência France-Presse
postado em 21/09/2014 09:40
Mursitipinar - Os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) cercaram neste domingo (21/9) uma importante cidade curda da Síria depois de assumir o controle de 60 localidades da região, o que provocou a fuga em massa de milhares de curdos em direção à fronteira turca.

O êxodo provocou incidentes e muitos postos de fronteira estavam fechados, enquanto milhares de refugiados esperam para entrar na Turquia.

Desde sexta-feira, quase 70.000 curdos da Síria buscaram refúgio na Turquia, anunciou o Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas (Acnur).

A tomada da cidade Ain al-Arab (Kobaneh em curdo), terceira localidade curda mais importante da Síria - perto da fronteira com a Turquia -, é crucial para o EI, já que permite ao grupo jihadista controlar uma ampla região da fronteira Síria-Turquia.

Com 35.000 homens recrutados em vários países, muitos deles ocidentais, o grupo sunita extremista continua conquistando regiões na Síria e no Iraque, apesar do anúncio do governo dos Estados Unidos de que pretende destruir o EI com uma ampla coalizão internacional.

De acordo com o diretor da ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman, a cidade de Kobaneh está totalmente cercada pelo EI, que desde terça-feira assumiu o controle de 60 localidades dos arredores.



Os jihadistas, que têm armas pesadas e tanques, enfrentam os combatentes curdos que defendem Kobaneh com a ajuda de outros curdos procedentes da Turquia. Os confrontos deixaram mais de 70 mortos nos dois lados, segundo a ONG.

Os combates provocaram a fuga em massa dos civis de Kobaneh e das proximidades para a Turquia, informou o OSDH.

Postos fechados

As forças de segurança turcas dispersaram neste domingo centenas de jovens curdos que protestavam na fronteira. A polícia usou gás lacrimogêneo e jatos d;água para afastar os manifestantes, que responderam com pedras e montaram barricadas.

Muitas passagens na fronteira foram fechadas, incluindo uma usada pelos combatentes curdos para lutar na Síria, mas duas permaneceram abertas.

Segundo o Acnur, centenas de milhares de pessoas podem entrar na Turquia nos próximos dias. A oposição síria advertiu para o perigo de "limpeza étnica" nas áreas conquistadas pelo EI.

"As ruas de Kobaneh estão praticamente vazias e existe uma grande sensação de medo", afirmou à AFP Mustefa Ebdi, um sírio curdo que já viajou diversas vezes entre a localidade e a fronteira.

"Vários civis, incluindo idosos e deficientes, foram executados, mas não temos um número exato", completou, sem conter as lágrimas.

Ele também denunciou saques cometidos pelo EI.

"Milhares de homens armados estão preparados para defender a cidade até a última gota de sangue. Mas o que eles podem fazer contra as armas pesadas do EI?", questiona Mustefa Ebdi.

"Bastaria um avião americano para lutar contra estes bárbaros. Onde está a coalizão contra o EI? Devem salvar o povo curdo", implorou.

O objetivo do EI com a tomada de Kobaneh é reforçar a presença no norte da Síria, onde já controla uma grande área.

Desde 8 de agosto, as forças dos Estados Unidos bombardeiam as posições do EI no Iraque. Na semana passada, o presidente Barack Obama anunciou um novo plano contra o grupo jihadista, com ataques também na Síria, mas que não começaram até o momento.

O presidente americano, que negou o envio de tropas terrestres, deseja primeiro treinar e equipar a oposição síria para lutar contra o Estado Islâmico, o que pode levar tempo.

No Iraque, as forças oficiais iniciaram neste domingo uma operação para conter a ofensiva dos jihadistas sunitas em Fallujah, região oeste do país.

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