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Malala inspira garotas a lutarem pela educação e se consolida como exemplo

A garota, de apenas 17 anos, é a mais jovem laureada com o Nobel da Paz

Rodrigo Craveiro
postado em 20/10/2014 08:52
A garota, de apenas 17 anos, é a mais jovem laureada com o Nobel da Paz
O jinriquixá ; carrinho de duas rodas puxado por um homem ; parou diante do Pearl Continental Hotel, na cidade de Peshawar, em 3 de dezembro de 2011. Vestida com o uniforme escolar, a menina de 14 anos desembarcou, cumprimentou ativistas da organização não governamental Aware Girls, entre elas Gulalai Ismail, e subiu ao púlpito. ;Em seu discurso, ela disse que existe uma desigualdade de poder entre homens e mulheres, e que essa lacuna precisa ser preenchida para pôr fim à violência;, afirmou Gulalai ao Correio. Exatamente 311 dias depois, a mesma garota foi surpreendida por um militante do Talibã dentro do ônibus, em Mingora, no Vale do Swat (norte do Paquistão), ao retornar da escola. ;Quem é a Malala?;, questionou o extremista. ;Eu sou Malala;, respondeu. O homem disparou-lhe um tiro à queima-roupa na cabeça. Vieram a batalha pela vida, a comoção internacional e a coragem de seguir adiante na luta pela educação. No último dia 10, o Nobel da Paz sacramentou o mito. Aos 17 anos, Malala Yousafzai se tornava uma estadista sem Estado, a personificação de uma causa maior.

Malala com o pai, Ziauddin, e os irmãos, no hospital: tiro na cabeça

[SAIBAMAIS];Os talibãs acharam que aquelas balas nos silenciaram. Mas falharam e, então, do silêncio vieram milhares de vozes;, afirmou a estudante, vestida com o véu e o xale da ex-premiê paquistanesa Benazir Bhutto, em discurso na ONU, em 12 de julho de 2013. Gulalai não esconde o orgulho pela compatriota e colega. Ambas guardam semelhanças: começaram no ativismo com a mesma idade, 13 anos, e foram alvo de atentados. ;O triunfo de Malala é uma vitória das meninas, das mulheres e da educação. Malala veio do noroeste do Paquistão, onde o analfabetismo feminino chega a 35%. Em Khyber-Pakhtunkhwa, onde ela nasceu, 65 em cada 100 garotas estão fora da escola;, lamentou a presidente da Aware Girls. Ao menos 1.030 escolas foram destruídas pelo Talibã naquela província entre 2009 e 2013.

Política
Comparada a Benazir Bhutto, Malala não esconde as pretensões políticas. ;Eu quero me tornar a premiê do Paquistão;, declarou. A adolescente crê que a melhor forma de combater o terror e defender a educação seja por meio da política. ;Um médico só pode ajudar uma comunidade, um político pode auxiliar um país;, disse.



O Nobel coloca sobre Malala uma responsabilidade vitalícia, um pacto que ela resolveu assumir. ;Mas também lhe dá uma plataforma mais sólida para seu trabalho, algo que fará com que ela continue a ser escutada por toda a vida;, aposta Harpviken. ;Malala mostrou integridade moral e comprometimento necessários para cumprir com esse papel;, acrescenta. Com a propriedade de quem escreveu um livro com a própria Malala, Patricia McCormick ; coautora da biografia Malala: the girl who stood up for education and changed the world (;Malala: a garota que se levantou pela educação e mudou o mundo;) ; conta que a laureada ajudou a montar uma escola em um campo de refugiados sírios. ;As crianças costumam ficar nesses locais por sete anos, sem educação. Malala acha que isso lhes define um futuro de desesperança e oportunidades limitadas, o que pode levar à criação de nova geração de terroristas.;

Patricia McCormick
Exemplo de coragem
;Malala é um exemplo vivo de coragem, não se trata de uma personagem histórica. Ela é uma jovem real que se manifestou pelo direito de ir à escola. E manteve a campanha, apesar das ameaças de morte e do sofrimento real. Agora ela vive no Reino Unido, onde frequenta uma escola bem diferente daquela no Paquistão. E ainda mantém uma agenda exigente para falar sobre os direitos das crianças ; ao mesmo tempo, faz o dever de casa como qualquer outro estudante.;
Co-autora da biografia Malala: The girl who stood up for education and changed the world (;Malala: a garota que se levantou pela educação e mudou o mundo;)


Kristian B. Harpviken
Um caminho para mudanças
;Por meio de seu exemplo, Malala inspirou inúmeras garotas no Paquistão que desejam a educação e querem se levantar por seus direitos. Ela atrai atenção internacional aos desafios, bem como à força das garotas e mulheres paquistanesas. Se as forças domésticas se reunirem com o apoio construtivo internacional, tomando como exemplo o compromisso de Malala, isso terá o potencial de conduzir uma mudança fundamental na sociedade paquistanesa.;
Presidente do Instituto de Pesquisas da Paz (Prio), em Oslo, e ex-diretor do Comitê Norueguês do Afeganistão, em Peshawar.


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