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Exército francês enfrenta escândalo por estupro de crianças africanas

Segundo uma fonte judicial francesa, seriam 14 militares suspeitos dos crimes

Agência France-Presse
postado em 30/04/2015 15:42
O exército francês, acostumado a intervir na África, enfrenta um escândalo potencialmente devastador na República Centro-africana, onde alguns soldados foram acusados de estuprar crianças em 2014.

O presidente francês, François Hollande, afirmou nesta quinta-feira que será implacável caso sejam confirmadas as acusações de que soldados franceses estupraram crianças e mulheres na República Centro-africana em troca de comida.

A França enviou tropas para a República Centro-Africana em dezembro de 2013, quando o país estava mergulhado na violência após um golpe que derrubou o líder Francois Bozizé.

A operação Sangaris tinha como objetivo acabar com os confrontos entre milícias cristãs e muçulmanas no país. Participaram na operação, que recebeu a aprovação da ONU, 2.000 soldados franceses.

"Se algum militar se comportou mal, serei implacável. Desde que recebemos as primeiras informações, o ministério da Defesa e eu mesmo colocamos em andamento uma investigação e comunicamos à justiça", declarou o presidente Hollande.

Em julho de 2014, o ministério francês da Defesa recebeu um relatório elaborado por membros do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos sobre estes crimes.

Segundo uma fonte judicial francesa, seriam 14 militares suspeitos dos crimes.

E de acordo com uma ONG, soldados do Chade e da Guiné Equatorial também estariam envolvidos no escândalo.

As acusações de estupro foram feitas por seis crianças com idades variando de 9 a 13 anos. Quatro afirmaram ter sido estupradas e duas disseram ter testemunhado os fatos.

Na véspera, um porta-voz da ONU informou que investigadores de direitos humanos da organização conduziram uma investigação no ano passado depois de importantes acusações de abuso e exploração sexual por soldados franceses na República Centro-Africana.

De acordo com o porta-voz adjunto da ONU, Farhan Haq, um funcionário da organização foi suspenso por ter vazado, em julho 2014, os resultados da investigação para as autoridades francesas.

O relatório confidencial documenta a exploração sexual de menores por parte de soldados franceses estacionados na República Centro-Africana, incluindo detalhes sobre as vítimas e dos soldados envolvidos.

O ministério da Defesa francês confirmou que Paris abriu sua própria investigação após a da ONU e garantiu ter "tomado todas as medidas necessárias para estabelecer a verdade".

O jornal britânico The Guardian recebeu o relatório da ONU das mãos da coordenadora da ONG americana Aids-Free World, Paula Donovan.

O documento traz os testemunhos das seis crianças, considerados muito credíveis, sobre os eventos que ocorreram no aeroporto de M;Poko (Bangui), entre dezembro de 2013 e junho de 2014, segundo o ministério da Defesa.

"As crianças disseram que estavam com fome e acreditavam que poderiam conseguir comida com os soldados" franceses, indicou Donovan à AFP. Os soldados teriam lhes dado comida e, por vezes, pequenas quantidades de dinheiro em troca de sexo.

Ainda segundo Donovan, o informe da ONU cita soldados do Chade e da Guiné Equatorial que poderiam estar envolvidos.

Algumas das crianças descreveram com precisão seus agressores, o que em princípio deveria permitir a identificação dos envolvidos.

Por sua vez, o arcebispo de Bangui, Dieudonné Nzapalainga, falou de um ou dois soldados diretamente envolvidos no estupro de crianças. "Pelo que eu ouvi seria um ou dois soldados diretamente envolvidos, mas é muito cedo para dizer", disse.

"Cada instituição tem suas ovelhas negras. Não devemos difamar o exército francês como um todo, que é um grande exército", disse o arcebispo.

O relatório chamado "Crianças abusadas sexualmente por soldados das forças internacionais" foi transmitido à França por um funcionário sueco da ONU, Anders Kompass, em reação à inércia da organização.

Por essa razão, Kompass foi suspenso das suas funções e submetido a um inquérito administrativo interno.

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