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Trinta pessoas acusadas de "terrorismo" após confrontos na Macedônia

Conflitos deixaram 22 mortos durante o fim de semana. Dezenas de casas também foram destruídas e fachadas incendiadas

Agência France-Presse
postado em 11/05/2015 12:48
Kumanovo - A justiça da Macedônia acusou nesta segunda-feira de "terrorismo" 30 pessoas detidas em Kumanovo (norte), após violentos confrontos entre as forças de segurança e um grupo armado de origem albanesa, que deixaram 22 mortos no fim de semana.

Dezenas de casas destruídas, fachadas incendiadas e grivadas de tiros de metralhadoras e armas automáticas testemunham a violência dos confrontos onde o grupo se refugiou.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apelou nesta segunda-feira "todas os protagonistas ao máximo de contenção e a evitar toda declaração ou ação que poderia fazer a tensão aumentar", segundo seu porta-voz.



Esta antiga república iugoslava, cuja população é majoritariamente eslava, possui 2,1 milhões de habitantes, um quarto de origem albanesa.Nesta segunda-feira, os moradores que fugiram dos bairros de maioria albanesa de Kumanovo, onde aconteceram os combates do fim de semana, retornavam para suas casas, muitas delas destruídas.

"As explosões de granadas me acordaram. Minha esposa, nossos seis filhos e eu nos escondemos no porão. Fomos resgatados pela polícia mais tarde", relatou Bafti Ramadani, de 57 anos.De acordo com a polícia, os insurgentes usaram lança-granadas e explosivos.

Detidos durante os combates, trinta pessoas foram "acusadas de terrorismo e de ameaça à ordem constitucional e à segurança", segundo um comunicado da Promotoria.A promotoria de Macedônia informou que 18 kosovares estão entre as 30 pessoas de origem albanesa indiciadas por "terrorismo".

"Dezoito são kosovares, 11 são cidadãos macedônios - dois deles viviam no Kosovo - e o outro é da Albânia, mas residia na Alemanha", informa um comunicado.

Alguns são acusados de "posse ilegal de armas e de explosivos", segundo o comunicado.O governo do Kosovo condenou "qualquer envolvimento" de seus cidadãos nos distúrbios da Macedônia.

"A presidente Atifete Jahjaga e o primeiro-ministro Isa Mustafa condenam qualquer envolvimento de cidadãos do Kosovo nos incidentes na Macedônia", afirma um comunicado.

As forças especiais abandonaram nesta segunda-feira Kumanovo, na fronteira com o Kosovo, depois da repressão ao grupo de insurgentes de origem albanesa.

Pouco após os confrontos em Kumanovo, um comunicado publicado pela imprensa macedônia de língua albanesa, afirmava que os combates foram conduzidos pelo Exército Nacional de Libertação (dos albaneses da Macedônia, UCK), e que pretendia fazer parar a agressão da polícia contra inocentes.O UCK da Macedônia, criado durante o conflito de 2001, não existe mais oficialmente.

Este foi o confronto mais violento na Macedônia em 14 anos, o que provocou uma forte inquietação na União Europeia e na Otan, que temem a repetição de um conflito similar ao de 2001, que envolveu durante seis meses as Forças Armadas macedônias e rebeldes albaneses que exigiam mais direitos.

No domingo, a polícia anunciou o fim da operação depois de "neutralizar um grupo terrorista".Das 22 vítimas fatais do fim de semana, oito eram policiais e as outras 14 integrantes do grupo armado.Trinta e sete policiais ficaram feridos e seu estado de saúde é estável.

Os combates violentos de Kumanovo acontecem em meio a uma grave crise política na Macedônia, país candidato a entrar na União Europeia (UE) há 10 anos.

A este respeito, o comissário europeu para a Expansão, Johannes Hahn, declarou à imprensa que "este ataque não pode e nem deve tirar a atenção da situação política muito séria no país".

Ele indicou que pediu ao governo e à oposição que "comecem a resolver a crise", e considerou que os últimos acontecimentos "não devem ser utilizados para torná-lo ainda mais complexo, misturando as tensões étnicas".

"A Macedônia enfrenta a crise política mais grave desde sua independência em 1991", afirmou à AFP Biljana Vankovska, analista política especializada em questões de segurança.

A oposição de esquerda acusa o governo de corrupção e de espionagem telefônica de mais de 20.000 pessoas, incluindo líderes políticos, jornalistas e autoridades religiosas.

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