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Foto de bebê encontrado morto se torna símbolo da crise migratória

Ao menos 12 imigrantes sírios e oito crianças morreram nesta quarta-feira (2/9) na costa da Turquia, na tentativa de fugir do Estados Islâmico e da guerra civil no país

Agência France-Presse
postado em 02/09/2015 17:07
Atenas, Grécia - A foto de um menino afogado em uma praia da Turquia, após o naufrágio de duas embarcações com refugiados sírios, gerou comoção na Europa, confrontada a uma pressão crescente para gerenciar a chegada de milhares de refugiados ao continente.

Ao menos 12 imigrantes sírios e oito crianças morreram nesta quarta-feira (2/9) na costa da Turquia, na tentativa de fugir do Estados Islâmico e da guerra civil no país

As duas embarcações que naufragaram tinham saído da cidade turca de Bodrum com destino à ilha grega de Kos, porta de entrada da União Europeia.



A guarda costeira turca foi alertada por gritos de passageiros dos barcos e conseguiram resgatar os corpos de 12 pessoas, entre eles o de um menino pequeno que jazia de bruços na praia.

No naufrágio morreram cinco menores e sete adultos, enquanto 15 pessoas puderam ser resgatadas. A fotografia de um agente turco carregando o menino foi difundida por meios de comunicação e pelas redes sociais com a hashtag #KiyiyaVuranInsanlik (A humanidade é um fracasso, em turco).

Ao menos 12 imigrantes sírios e oito crianças morreram nesta quarta-feira (2/9) na costa da Turquia, na tentativa de fugir do Estados Islâmico e da guerra civil no país

Um dos agentes de resgate disse à AFP que as autoridades turcas colheram o depoimento da família do menino e acreditam que todos procediam da cidade síria de Kobane.

"O bote que levava o menin oe sua família era para quatro pessoas, mas havia 15 refugiados a bordo", explicou o funcionário. "Não havia fortes ventos, o mais provável é que entraram em pânico e que muitos não soubessem nadar", prosseguiu.

Meios de comunicação turcos reportaram que o menino se chamava Aylan Kurdi e que tinha três anos. Jornais de toda a Europa repercutiram a comoção provocada pela imagem e a foto estampou a primeira página de vários deles nesta quarta-feira.

Na Espanha, o jornal El Mundo destacou que a foto "já faz parte do álbum migratório da infâmia", enquanto o El Periódico escreveu que a imagem ilustrava "o naufrágio da Europa".

Para o britânico The Guardian, a foto resume "todo o horror e o drama humano vividos na costa europeia".

"Se imagens tão fortes quanto a de um menino sírio morto, arrastado pelas ondas, não mudarem a atitude da Europa frente aos refugiados, o que poderá fazê-lo?", questionou o The Independent.

Na Itália, o jornal La Repubblica reproduziu a imagem no Twitter, intitulando-a "Uma foto para calar o mundo".

O diretor do serviço de emergências da ONG Human Rights Watch, Peter Bouckaert, explicou porque decidiu compartilhar a imagem no Twitter, apesar do duro drama que retrata.

"Alguns dizem que a foto é muito ofensiva para ser compartilhada na internet ou publicada nos jornais. Mas para mim, o que parece ofensivo é uma criança afogada morta na praia, quando mais poderia ser feito para evitar a sua morte", expressou.

Êxodo contínuo
Enquanto isso, milhares de refugiados conseguiam chegar à costa da Europa. Cerca de 4.500 pessoas chegaram nesta quarta-feira ao porto de Pireu, em Atenas, com o objetivo de continuar seu périplo rumo ao norte da Europa, em um novo episódio da grave crise migratória que divide os países europeus. Outros 3 mil puderam ser salvos pela guarda costeira italiana no Mediterrâneo nas últimas 24 horas.

Lesbos, assim como Kos, também no Egeu, se tornaram o porto de entrada na Europa de refugiados que fogem através da Turquia dos conflitos armados no Oriente Médio e na África.

A maioria quer continuar viagem para o norte da Europa através dos Bálcãs, na crise migratória mais grave no continente desde a Segunda Guerra Mundial.

Desde o começo do ano chegaram à Grécia 160.000 pessoas do total de cerca de 350.000 que, segundo se estima, teriam cruzado o Mediterrâneo, uma rota na qual morreram dois mil migrantes.

Enquanto isso, na Hungria, um dos países de entrada para os migrantes que querem chegar à Alemanha, a tensão continua crescendo e duas mil pessoas permaneciam acampadas em frente à estação de Keleti, em Budapeste, ou em uma zona de trânsito do edifício, depois que a polícia os impediu de abordar os trens.

A tentativa dos migrantes de chegar à Alemanha se explica pela decisão do governo de Berlim de não devolver aos sírios o país por onde entraram na União Europeia, neste caso a Hungria, e examinar seus pedidos de asilo.

Segundo as autoridades alemãs, nesta terça-feira, 3.709 pessoas sem visto chegaram ao país vindos de Áustria e Hungria, uma cifra recorde.
Espaço Schengen ameaçado?

Viena elevou o tom nesta quarta-feira contra a decisão alemã, que vai contra os acordos de Dublin, segundo o qual o candidato a asilo deve apresentar seu pedido ao Estado-membro onde entrou pela primeira vez à União Europeia.

"Sempre adverti contra uma suspensão dos acordos de Dublin (...) Estamos vendo os efeitos agora", lamentou o ministro do Interior, Johanna Mikl-Leitner, em entrevista ao jornal Die Presse.

Para fazer frente à chegada de milhares de pessoas que fogem da guerra, da perseguição e da pobreza no Oriente Médio e na África, "o mais importante é levar paz e estabilidade", disse o primeiro-ministro, David Cameron.

"Não penso que a resposta seja receber mais e mais refugiados", afirmou, em declarações à BBC. O risco de que esta crise ameace a liberdade de trânsito na UE, um dos maiores feitos da construção europeia, começa a surgir.

A atual crise migratória está "destroçando" o espaço Schengen de livre circulação, afirmou o chefe da diplomacia eslovaca, Miroslav Lajcak.

A implantação de uma resposta conjunta de todos os países europeia será o tema central de uma reunião, em 14 de setembro, entre os 28 países da União Europeia.

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