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Pai de menino sírio afogado relata os momentos de desespero no mar

"Tentei nadar em direção a eles, mas não os encontrei", conta Abdallah, pai e único sobrevivente da família

postado em 03/09/2015 14:15


Abdallah Kurdi, pai de Aylan, menino sírio de três anos que foi encontrado morto em uma praia na Turquia, e cuja foto comoveu o mundo, contou como que toda a tragédia ocorreu. O menino morreu afogado na quarta-feira (2/9) após o naufrágio de uma embarcação de refugiados sírios.

[SAIBAMAIS]Abdallah foi o único que conseguiu sobreviver de toda família que estava na embarcação. Aylan, o irmão Ghaleb, de 5 anos, e a mãe Rihanna não resistiram ao naufrágio. Muito emocionado, o pai relata os momentos de desespero no mar, "meus filhos escorregaram de minhas mãos. Estava escuro e todo mundo gritava. Foi por isso que minha esposa e meus filhos não escutaram minha voz. Tentei nadar em direção a eles, mas não os encontrei;.

Segundo ele, a família pagou duas vezes para atravessar da Turquia para a ilha grega de Kos. ;Numa delas, os guardas nos pararam. Aí fomos libertados. Da segunda vez, os organizadores não cumpriram com a promessa e não trouxeram o barco. Então, conseguimos um barco por nossos próprios meios", relatou à agência de notícias turca Dogan.

O barco, no entanto, naufragou. "Depois de navegarmos 500 metros, começou a entrar água no barco. Nossos pés ficaram molhados. Criou-se um pânico, e quando as pessoas tentaram ficar de pé, a situação piorou", contou.



Só após desembarcar em terra firme que Abdallah teve notícia da família. Ele foi até os hospitais para onde os corpos foram levados e lá foi informado da morte dos dois filhos e da esposa. Os corpos serão encaminhados para a cidade síria de Kobane, onde serão enterrados nas próximas 48 horas.

A família será enterrada na cidade síria de Kobane

Aylan, o irmão e os pais moravam em Damasco quando o país entrou na crise e na guerra em 2011. Em 2012 deixaram a cidade e foram para Aleppo e, quando os combates começaram, partiram para Kobane. Mas a cidade curda foi alvo do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), que tentou, em vão, conquistá-la no outono de 2014, repelidos pela forte resistência.

A família migrou então para a Turquia e, assim que o cerco a Kobane pelo EI terminou em janeiro, retornaram para a cidade, esperando dias mais tranquilos. Mas, em junho, os jihadistas lançaram uma nova ofensiva contra Kobane, onde os combates fizeram mais de 200 mortos.

Tentaram migrar para o Canadá com a ajuda de uma tia que vive no país. Teema Kurdi, que reside em Vancouver há 20 anos, disse que entrou com um pedido de imigração na condição de refugiado para o irmão, a cunhada e as duas crianças. "Tentei servir de avalista, com ajuda de amigos e vizinhos, para as garantias bancárias, mas não conseguimos", explicou Kurdi ao jornal Ottawa Citizen.

O serviço de imigração canadense rejeitou o pedido de refúgio em junho, segundo Kurdi, devido à complexidade dos pedidos de asilo procedentes da Turquia. Consultado a respeito, o secretário de Imigração canadense, Chris Alexander, afirmou que o número de refugiados aumenta rapidamente e que cerca de 2,5 mil refugiados sírios foram acolhidos pelo Canadá este ano.

Depois de ter o pedido de imigração negado, a família tentou fugir pelo mar. Na travessia, a embarcação naufragou e todos, menos Abdallah, morreram afogados. As embarcações tinham saído da cidade turca de Bodrum com destino à ilha grega de Kos, porta de entrada da União Europeia.

Abdallah Kurbi espera no necrotério onde estão os filhos e a esposa

A guarda costeira turca foi alertada por gritos de passageiros dos barcos e conseguiram resgatar os corpos de 12 pessoas, entre eles o do pequeno Aylan, que estava de bruços na praia da Turquia. A cena foi fotografada e gerou comoção no Canadá e na Europa, trazendo uma pressão crescente para gerenciar a chegada de milhares de refugiados ao continente.

A fotografia de um agente turco carregando o menino foi divulgada por meios de comunicação e pelas redes sociais com a hashtag #KiyiyaVuranInsanlik (A humanidade é um fracasso, em turco).

No naufrágio morreram cinco menores e sete adultos. Outras 15 pessoas foram resgatadas.

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