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Papa Francisco prepara sua viagem mais delicada, a Cuba e EUA

Segundo fontes do Vaticano, o pontífice argentino aproveitou o recesso de verão para cinzelar seus discursos

Agência France-Presse
postado em 05/09/2015 11:57

O papa Francisco prepara a mais delicada viagem de seu pontificado, que em duas semanas o levará da Praça da Revolução, em Havana, para o Congresso dos Estados Unidos e da ONU.

Segundo fontes do Vaticano, o pontífice argentino aproveitou o recesso de verão para cinzelar seus discursos - e em particular o que fará diante do Congresso norte-americano, onde nem todos são favoráveis %u200B%u200Bà reaproximação com Cuba.
[SAIBAMAIS]
A etapa em Cuba, de três dias (19-22 de setembro), é apresentada como a mais fácil. Na ilha do Caribe uma recepção calorosa é esperada, dado que o regime deve se beneficiar com a visita e os cubanos são muito gratos ao papel desempenhado por Francisco na reconciliação com os Estados Unidos.

Depois de receber João Paulo II e Bento XVI, os cubanos darão as boas vindas ao papa argentino, que falará sobre reconciliação em Havana, Holguín e Santiago.

Nos Estados Unidos, no entanto , a chegada de Francisco provoca reações mistas.

Parte da classe política americana pode lhe reservar uma recepção fria: primeiramente, porque Jorge Bergoglio escolheu visitar Havana antes de Washington - quando o Congresso ainda não suspendeu o embargo a Cuba.

Além disso, alguns norte-americanos veem o papa como um "marxista", por sua encíclica "Laudato si" sobre a defesa do meio ambiente, e os discursos virulentos contra o ultraliberalismo econômico, a finança cega e exploração desenfreada dos recursos naturais por parte das multinacionais em sua recente passagem pela América do Sul.

Francisco será o primeiro papa a falar para o Congresso dos Estados Unidos. Lá, espera-se que ele faça uma forte reclamação sobre a responsabilidade de Washington para limitar a poluição e em favor de uma transição dos combustíveis fósseis para energias renováveis.

Pedidos na ONU


Na ONU, Francisco vai ter a oportunidade de desenvolver seu programa social e ambiental contra a "cultura do descarte" e a "globalização da indiferença".

Nesse sentido são esperados vários pedidos, começando com um compromisso firme na conferência climática COP 21, que ocorrerá no final do ano em Paris.

Ele também vai advogar por um diálogo recíproco com o Islã e em defesa dos cristãos perseguidos no mundo.

Deve também recomendar ações coordenadas contra o tráfico de pessoas e em favor dos imigrantes. A questão é muito sensível nos Estados Unidos, onde muitos políticos conservadores querem limitar drasticamente o influxo de imigrantes de países latino-americanos.

Alguns políticos conservadores temem inclusive que o papa toque num tema extremadamente sensível, como o acordo nuclear com o Irã, pendente de aprovação em Washington.

O programa papal prevê também encontros com os excluídos da maior potência econômica mundial: pessoas sem teto, famílias de imigrantes, presidiários.

O papa visitará o "Marco Zero", onde foram cometidos os ataques do 11 de setembro de 2001 em Nova York e canonizará um missionário espanhol franciscano, Fray Junípero Serra, que teve um importante papel na evangelização dos índios da Califórnia no século XVIII.

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Por último, na Filadélfia, Francisco vai participar do encerramento do encontro mundial das famílias católicas. Para a ocasião é aguardada a chegada de uma multidão, que irá ouvir sua mensagem sobre o casamento e a família, antes da abertura em Roma do sínodo de bispos do mundo inteiro dedicado a estes temas.

O papa conta com a simpatia de 87% dos católicos norte-americanos, e de 66% dos cidadãos do país, segundo uma pesquisa de opinião.

Mas não tem tanto apreço entre alguns bispos norte-americanos, que lamentam a falta de apoio em sua linha dura contra a administração Obama sobre o tema do aborto, contracepção e casamento gay.

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