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Em entrevista, ganhadores do Nobel da Paz falam da importância do prêmio

Por telefone, dois vencedores do prêmio falaram com exclusividade ao Correio sobre a importância do Nobel da Paz como forma de coroar as esforços do Quarteto de Diálogo Nacional

Rodrigo Craveiro
postado em 10/10/2015 12:19
;Eu ficaria muito feliz.; Assim Abdessattar Ben Moussa, presidente da Liga Tunisiana de Direitos Humanos (LTDH, pela sigla em francês), respondeu ao pedido de entrevista. ;O prêmio vai para todos os tunisianos;, declarou, por sua vez, Mohamed Fadhel Mahfoudh, presidente da Ordem dos Advogados da Tunísia. Por telefone, ambos falaram com exclusividade ao Correio sobre a importância do Nobel da Paz como forma de coroar as esforços do Quarteto de Diálogo Nacional para levar a democracia representantiva a um país castigado por 23 anos de ditadura de Zine El Abidine Ben Ali. O regime erodiu os direitos humanos e levou as instituições do país à derrocada. Mahfoudh creditou a honraria a todos os tunisianos. ;Esta é uma mensagem muito boa para todos os povos que têm dificuldades;, disse. Ben Moussa conta que a LTDH foi fundada em 1977, se impôs aos obstáculos criados pelo regime de Ben Ali e ajudou a redigir a Constituição. ;O diálogo foi o único caminho para a democracia;, reforçou o advogado.



O que representa o Prêmio Nobel da Paz para a sua organização? O senhor esperava por isso?
Mohamed Fadhel Mahfoudh: Não. Ninguém imagina que pode ganhar tal prêmio. Mas nós estamos orgulhosos por esse prêmio e achamos que a Tunísia demonstrou uma transição democrática muito boa. Nós achamos que o prêmio vai para todos os tunisianos, não somente para o Quarteto. O prêmio vai aumentar a democracia e a liberdade. Estamos orgulhosos. Creio que os tunisianos estão se sentindo assim também.

Abdessatar Ben Moussa: É uma coisa boa para mim e para todo o país. Para toda a África também, porque é a primeira vez que uma organização de direitos humanos e outras entidades (do continente) são consagradas com um prêmio pela busca da paz.



Qual foi o papel desempenhado pela sua entidade no processo de diálogo na Tunísia?
Mohamed Fadhel Mahfoudh: Nós somos uma grande organização na Tunísia, que possui credibilidade histórica e tem se baseado na paz em meu país entre a sociedade civil e a classe política.

Abdessatar Ben Moussa: A Liga Tunisiana dos Direitos Humanos (LTDH) foi criada em 1977. Esta a primeira liga em uma nação árabe da África. Durante a época de (Zine El Abidine) Ben Ali, nós não podíamos trabalhar. A liga foi um importante movimento militante. Nós começamos a trabalhar muito bem neste processo ao lado de outras organizações.



O senhor poderia enumerar os obstáculos para que o seu país alcançasse o atual grau de democracia?
Mohamed Fadhel Mahfoudh: A Tunísia vai pelo caminho da democracia, a liberdade é uma realidade. Essa é uma mensagem para todo mundo e para todas as pessoas. O estabelecimento da democracia foi algo difícil. Há alguns anos, a sociedade civil e a classe política tiveram um papel muito bom para fundar a democracia, da qual temos orgulho agora.

Abdessatar Ben Moussa: Na época de Ben Ali, a Liga militou pelos direitos humanos, pela democracia e pelo fim da opressão. Ben Ali fechou todas as entidades de direitos humanos, afetando nossa privacidade para trabalhar. O diretor do comitê era impedido de viajar. Havia uma série de dificuldades. Depois da revolução, nós participamos da transição e da redação da Constituição.

A Tunísia é um exemplo de democracia representativa na África?
Mohamed Fadhel Mahfoudh: Sim, essa é a nossa esperança, para todas as pessoas que experimentam dificuldades por conta de problemas políticas. Esperamos que todas as adversidades sejam sanadas com compromisso.

Abdessatar Ben Moussa: Eu acho que o diálogo, a experiência do Quarteto, foi uma boa coisa para a Líbia, para a Síria e para a África. Foi o único caminho para a democracia. Não havia outra forma de alcançar a democracia. A democracia é uma coisa boa contra o terrorismo.

Com o caminho para a democracia pavimentado, quais são as prioridades?
Abdessatar Ben Moussa: Eu creio que as prioridades da Tunísia incluem o respeito aos direitos humanos e a abordagem econômica de problemas sociais. Há dificuldades na economia. Em termos de políticas sociais, a sociedade civil é importante, a sua militância.

Por que a Primavera Árabe foi um sucesso em sua nação e falhou em outras regiões?
Abdessatar Ben Moussa: Isso se deve a dois fatores. Em primeiro lugar, existe na Tunísia uma sociedade civil militante e independente. Em segundo lugar, na Tunísia, nós temos partidos políticos, enquanto que no Egito os militares estão no poder e na Síria há uma guerra civil. O diálogo foi possível na Tunísia. Em outros países, como na Líbia, não há uma sociedade civil nem um Estado.

De que modo o Nobel da Paz pode ajudar a Tunísia a obter a prosperidade?
Mohamed Fadhel Mahfoudh: Esta é uma mensagem muito boa para todos os povos que têm dificuldades, é uma mensagem positiva. Eu acho que a Tunísia vai investir no simbolismo desse prêmio para ter prosperidade.

Abdessatar Ben Moussa:
Há várias coisas. Por exemplo, o processo de reconciliação. Há um problema de conciliação no país. A sociedade civil e o nosso Quarteto podem trabalhar nesse sentido. A legislação também pode atuar em conformidade com a Constituição. Também pontuaria o respeito aos direitos humanos. O Quarteto pode trabalhar de várias maneiras. A sociedade civil pode trabalhar rumo a um bom futuro para a Tunísia. (RC)

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