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Trabalho da comissão vaticana contra pedofilia pode atingir toda sociedade

O objetivo da comissão é ir além do ambiente do clero, explicou a psiquiatra infantil francesa Catherine Bonnet

Agência France-Presse
postado em 13/10/2015 11:22
Dois especialistas da comissão vaticana contra a pedofilia garantiram nesta terça-feira (13/10) à Agência France Presse (AFP) que seu trabalho e experiência adquiridos na assistência às vítimas, promovida pelo papa Francisco, pode se estender à toda a sociedade. O objetivo da comissão é ir além do ambiente do clero, explicou a psiquiatra infantil francesa Catherine Bonnet.

[SAIBAMAIS]"Toda criança, todo adolescente, pode ir a uma igreja para pedir ajuda, seja porque um sacerdote ou alguém que trabalha nela abusou dele ou porque sofreu abusos em sua casa", afirma a especialista. "Isso não quer dizer que se queira evitar o problema (da pedofilia na Igreja)", reconhece a psiquiatra, autora do livro "As crianças amordaçadas", sobre a infância maltratada.

As declarações de Bonnet foram feitas ao término de uma reunião no Vaticano da Comissão Internacional para a Proteção de Menores, convocada pelo papa Francisco. Durante sua recente viagem aos Estados Unidos, o papa recebeu cinco vítimas de abusos sexuais, dos quais apenas dois foram cometidos por sacerdotes, o que gerou mal-estar e críticas entre as associações de defesa.

"Temos um trabalho específico dentro da Igreja católica. Toda criança que entrar em uma igreja deve se sentir segura e deve poder revelar com segurança o que tiver que revelar", afirma.

Para Bonnet, a decisão do Papa de criar uma comissão específica foi um ato "valente" e demonstra "a determinação de Francisco". "Uma grande oportunidade formar parte de seus assessores diretos", comentou. "Estamos apenas no início, será um trabalho muito longo. Há vontade nas dioceses. Para algumas pessoas trata-se de um problema ocidental. Eu acho que não", disse.

Violência psicológica, física e sexual
O conceito de menor no direito canônico é muito mais amplo e engloba inclusive adultos frágeis, explica a especialista. Engloba não apenas os menores de 0 a 18 anos, mas também "todas as pessoas vulneráveis", afirma.

"As crianças com deficiências e os adultos com deficiências são muito mais propensos a sofrer abusos", observa. "Frequentemente começa com uma violência psicológica: não é bonita, não serve para nada, ninguém te quer. Depois passam sucessivamente aos abusos sexuais", resume Bonnet.

Os tabus
Para o filipino Gabriel Dy-Liacco, psicoterapeuta, membro da comissão vaticana, a pedofilia é um tabu na sociedade asiática. "Também nos países em desenvolvimento", reconheceu em uma conversa com a AFP. Um simpósio sobre o tema foi organizado em agosto nas Filipinas pela comissão.

"Foi um passo muito positivo, porque ajuda os bispos a entender melhor o problema e a buscar formas mais eficazes de combatê-lo", explicou. "É muito bom que a Igreja se comprometa com a mudança, sobretudo pela influência que tem no Terceiro Mundo", acrescentou.



"O coração do problema é do tipo cultural. É difícil saber como vai evoluir. Mudar a cultura não ocorre em uma semana ou um ano", reconheceu. A comissão, que se reuniu de 9 a 11 de outubro em Roma, organizará conferências na América Central antes de uma reunião plenária em Roma em fevereiro de 2016.

O grupo, formado por 17 pessoas, não se ocupa de casos individuais e realiza um trabalho interdisciplinar (professores, psicólogos, psiquiatras, trabalhadores sociais, direito civil e professores de direito canônico) com o objetivo de acabar com o fenômeno da pedofilia dentro da Igreja que desprestigiou a milenar instituição.

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