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Turquia bombardeia zonas controladas por curdos no norte da Síria

Arábia Saudita e Turquia já haviam advertido que poderiam lançar uma operação terrestre na Síria

Agência France-Presse
postado em 13/02/2016 20:25
O governo turco cumpriu suas ameaças e bombardeou, neste sábado, uma zona controlada pelas milícias curdas no norte da Síria, assim como alvos do governo sírio no noroeste do país.

O ataque pode complicar a resolução da crise no país.

Arábia Saudita e Turquia já haviam advertido que poderiam lançar uma operação terrestre na Síria. O anúncio provocou alertas por parte do presidente Bashar al-Assad e alarme em Estados Unidos e Rússia.

De Munique, onde participa da Conferência Anual de Segurança, o secretário de Estado americano, John Kerry, advertiu que as decisões que forem tomadas nos próximos dias podem abrir as portas para "um conflito mais amplo".

"Estamos em um momento fundamental" entre a guerra e a paz, insistiu Kerry.

Washington pediu à Turquia que suspenda esses ataques.

"Estamos preocupados com a situação ao norte de Aleppo e estamos trabalhando para reduzir as tensões com todas as partes", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado americano, John Kirby, em um comunicado.

Exército confirma ataque

O Exército turco confirmou que ter atacado, neste sábado, posições do partido sírio União Democrática (PYD), no norte da Síria, e que também respondeu a disparos das forças do governo de Damasco contra um posto militar turco na região de Hatay, informou a agência estatal de notícias Anatolia.

As forças armadas bombardearam alvos do PYD perto da localidade de Azaz na província síria de Aleppo, disse a agência, citando uma fonte militar.

O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, deu declarações que parecem confirmar os ataques contra os curdos.

"De acordo com as regras de combate, respondemos às forças situadas em Azaz e em seus arredores que supunham uma ameaça", afirmou, também citado pela Anatolia.

Em visita à cidade de Erzincan, no leste do país, Davutoglu se referiu a essas forças - ao que parece, uma alusão ao PYD - como "um grupo terrorista, que é um braço do regime sírio, colaboracionista e cúmplice dos ataques russos contra civis".

"Se for necessário, podemos tomar na Síria as mesmas medidas que tomamos no Iraque e em Qandil", garantiu Davutoglu, ao se referir à campanha do ano passado contra o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) no norte do Iraque.

"Se chegarmos neste extremo, esperamos que nossos amigos e aliados nos apoiem", alertou.

Ancara considera o PYD e seu braço armado, as YPG, como ramos do PKK, que desde 1984 mantém um conflito com o Estado turco.

Com a ajuda da Aviação russa, na última quarta-feira, as milícias do YPG tomaram a cidade e a base de Minnigh, ao norte de Aleppo. Esta pista fica entre duas das principais estradas que levam a Azaz, no norte, partindo de Aleppo. Seu controle permite que os curdos lancem novas operações contra os extremistas mais a leste.

As forças do governo haviam perdido o controle desta base em agosto de 2013, dois anos após o início do conflito interno na Síria, uma guerra que deixou mais de 260.000 mortos.

Possível operação terrestre

O ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, não descartou que seu país e a Arábia Saudita, que se opõem ao regime de Al-Assad, participem de uma operação terrestre na Síria.

"Se houver uma estratégia (contra o grupo Estado Islâmico), então, Turquia e Arábia Saudita poderão entrar em uma operação terrestre", disse o ministro turco, citado pelos jornais Yeni Safak e Haberturk, depois de participar de Conferência em Munique.

Cavusoglu acrescentou que "a Arábia Saudita também enviará aviões para a Turquia" - para a base de Incirlik, especificamente.

Incirlik já é usada pela coalizão dirigida pelos Estados Unidos contra o EI no Iraque e na Síria. Dessa base aérea operam aviões britânicos, franceses e americanos para atacar alvos do EI na Síria.

Tanto Riad quanto Ancara consideram que a saída do presidente sírio é essencial para pôr fim aos cinco anos de guerra civil no país. Nesse sentido, também criticam o apoio de Irã e Rússia a Al-Assad.

Ao ser questionado sobre se a Arábia Saudita poderia enviar tropas para a fronteira turca para cruzar a Síria, Cavusoglu respondeu: "isso é algo que se pode querer, mas não existe qualquer plano".

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