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Conflito obriga governo francês a recorrer a suas reservas de petróleo

O bloqueio das refinarias e depósitos de combustível obrigou o governo a recorrer às reservas há dois dias, informou a União Francesa de Indústrias Petroleiras (Ufip)

Agência France-Presse
postado em 25/05/2016 11:40
A França começou a utilizar suas reservas estratégicas para enfrentar os problemas de abastecimento de combustível em consequência dos protestos contra o projeto de reforma da lei trabalhista, que afetam as refinarias, portos e transportes.

O bloqueio das refinarias e depósitos de combustível obrigou o governo a recorrer às reservas há dois dias, informou a União Francesa de Indústrias Petroleiras (Ufip), um anúncio que pode aumentar a inquietação da opinião pública e intensificar a pressão sobre o governo socialista do presidente François Hollande.

Seis das oito refinarias francesas estão paralisadas, total ou parcialmente, por movimentos de greve e vários depósitos de combustível estão bloqueados por grevistas e manifestantes contrários ao projeto da nova lei trabalhista.

De acordo com o secretário de Estado de Transportes, Alain Vidalies, 20% dos 12 mil postos de gasolina do país enfrentam "dificuldades" de abastecimento. O conflito social, que também afeta os transportes e os portos, pode abalar a produção de energia elétrica, após uma convocação de greve para quinta-feira (26/5) nas centrais nucleares.

O porta-voz do governo, Stéphane Le Foll, descartou no momento a ideia de convocar funcionários das refinarias em greve, medida solicita por vários políticos da oposição de direita para evitar a falta de gasolina.

"O Estado e o governo farão o necessário para liberar um certo número de refinarias ou de reservas para garantir o abastecimento dos franceses", se limitou a afirmar Le Foll.

[SAIBAMAIS]Na madrugada desta quarta-feira (25/5), a polícia atuou para desbloquear um depósito de combustível do norte do país, que havia sido fechado por sindicalistas. Outro depósito em Brest (noroeste) também foi liberado.

Na terça-feira (23/5), a intervenção da polícia contra os grevistas que bloqueavam uma refinaria e um depósito de combustíveis provocou a revolta do sindicato CGT, que anunciou o aumento da mobilização.

Dois dos principais portos franceses, Marselha (sul) e Le Havre (norte), podem aderir ao movimento social. "Depois de cinco ou seis dias, não teremos mais combustível nos aeroportos de Paris", advertiu o prefeito da cidade, Edouard Philippe. O tráfego ferroviário também estava prejudicado nesta quarta-feira.


Mobilização mais forte?
"Enquanto o governo se negar a discutir, há riscos de que a manifestação se amplie", advertiu nesta quarta-feira o líder do CGT, Philippe Martinez. Uma ameaça preocupante tanto para o governo quanto para a Eurocopa, que começa na França em pouco mais de duas semanas.

Segundo uma pesquisa publicada nesta quarta-feira, 61% dos franceses consideram que o governo seria responsável se a Eurocopa fosse perturbada pelos movimentos sociais. Por sua vez, a imprensa francesa estimou que o CGT assume grandes riscos com sua posição de enfrentamento total, enquanto o governo sustenta que o bloqueio é obra de uma minoria que toma o país como refém, e que não tem a intenção de retirar o projeto.

O primeiro-ministro Manuel Valls reiterou nesta quarta-feira ante os deputados franceses que o texto não será retirado e que seu artigo 2, que dá a primazia aos acordos de empresa, uma das medidas mais criticadas da lei, também não será modificado. "O CGT não faz a lei no país", disse Valls, repetindo que o governo não descarta nenhuma opção para impedir o bloqueio das instalações energéticas.

O projeto de uma nova lei trabalhista, contra a qual são organizadas manifestações e greves há mais de dois meses, foi aprovado em primeira leitura sem a votação dos deputados, depois que o governo invocou um artigo da Constituição que permite a adoção de um texto sem debate ou voto parlamentar, exceto quando há uma moção de censura ao governo.

O governo afirma que o projeto pretende dar maior flexibilidade às empresas para lutar contra o desemprego. O texto dá mais poderes às empresas em termos de organização do tempo de trabalho e de demissões.

Os críticos consideram que aumentará a precariedade do mercado de trabalho e que a prioridade concedida à negociação das empresas sobre as negociações com sindicatos significará que a lei não será a mesma para todos os trabalhadores.

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