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Bolívia chocada com assassinato de ministro por mineiros

Após o crime, que chocou o país, os mineiros suspenderam os bloqueios em estradas que mantinham há três dias e que provocaram a morte de dois mineradores e ferimentos em 20 policiais

Agência France-Presse
postado em 26/08/2016 23:04

A tortura e assassinato do vice-ministro do Interior, Rodolfo Illanes, por mineiros que protestam contra o governo, levou o presidente Evo Morales a denunciar uma conspiração política contra seu governo.

Após o crime, que chocou a Bolívia, os mineiros suspenderam os bloqueios em estradas que mantinham há três dias e que provocaram a morte de dois mineradores e ferimentos em 20 policiais.

Illanes, 56 anos, foi sequestrado na quinta-feira quando tentava negociar com os mineiros. Após ser torturado, foi assassinado e teve o corpo jogado em um terreno na localidade de Panduro, à margem da estrada Oruro-La Paz.

"A causa da morte foi derrame cerebral, com traumatismo cerebral e do tórax; além de fratura nas costelas. É uma imagem muito dura, houve uma flagelação", disse o promotor Edwin Blanco.

O camponês Policarpio Mamani revelou ao jornal El Deber que "levaram o corpo até uma estrada perto da minha casa". "Era noite e estava escuro. Os mineiros vieram na frente e os policiais estavam atrás (...). Carregaram o corpo em um cobertor e jogaram lá" (no morro Jach;a Pucara).

Profunda dor

Após se reunir com seus ministros para analisar a situação, o presidente Morales manifestou sua "profunda rejeição com os acontecimentos (...) e a profunda dor que vive o povo boliviano".

Illanes foi declarado "herói defensor dos recursos naturais" e o governo declarou "luto por três dias a nível nacional sem suspensão das atividades".

Seu corpo é velado no palácio presidencial de Quemado, em La Paz.

Illanes foi ao local de um bloqueio de estrada, na altura da cidade de Panduro, para negociar com os mineiros.

"O vice-ministro estava convencido de que diante do conhecimento que tinha com alguns dirigentes poderia persuadi-los e iniciar um diálogo com o governo (...) mas foi interceptado por mineiros e levado para um morro", revelou o ministro do Interior, Carlos Romero.

"Foi humilhado, torturado e espancado até a morte", acrescentou o ministro da Defesa, Reymi Ferreira.

Morales denuncia conspiração

"Nesta mobilização (dos mineiros) há uma conspiração política e não uma reivindicação social para o setor", declarou o presidente em entrevista coletiva na Casa de Governo.

"Sinto que esta conspiração permanente está usando os deficientes, o transporte privado e as cooperativistas" para afetar o governo.

Em uma cerimônia militar posterior, Morales assinalou que o movimento de protesto está ligado a "certos interesses externos de grupos que querem criar instabilidade e uma conspiração".

"Na próxima semana demostraremos como há ingerência não apenas de caráter político interno, mas também externo".

Illanes tentava acalmar os mineiros, que nos últimos dias realizam violentos protestos contra a reforma da lei de cooperativas.

Segundo Carlos Romero, os mineiros, na realidade, tentam conseguir autorização para alugar suas concessões de mineração a empresas privadas ou estrangeiras, o que é expressamente proibido pela Constituição.

Além disso, buscam acumular mais espaços de poder no Executivo, segundo o ministro.

"Os que protestam são cooperativistas comprometidos com transnacionais", denunciou.

A imprensa divulgou o conteúdo de 36 contratos desse tipo firmados pelos mineiros.

Os mineiros, agrupados em cooperativas privadas, tomaram as estradas na segunda-feira, exigindo a libertação de dez detidos sob acusação de atentar contra a vida de policiais e contra bens do Estado. A acusação remete a confrontos esporádicos ocorridos no início de agosto.

Eles também exigem negociar diretamente com Morales, seu aliado político, um documento setorial rejeitado de antemão pelo governo.

Esse coletivo ocupa importantes cargos no Executivo, em uma Superintendência do ramo e no Congresso, onde conta com senadores e deputados.

A possibilidade de iniciar negociações, abertas por gestões da Defensoria do Povo, havia fracassado na quinta-feira, devido às mortes na categoria.

Depois de três dias de confrontos esporádicos com a polícia pelo controle das estradas, no final da tarde de quinta os mineiros haviam acertado com o governo o início de uma negociação para esta sexta, sob a condição de que os bloqueios fossem levantados.

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