postado em 26/09/2016 06:00
Depois de meses de trocas de acusações e ataques, Hillary Clinton e Donald Trump estarão cara a cara pela primeira vez na noite de hoje, em um debate pela tevê. O encontro coincide com o empate nas pesquisas e com os esforços de ambos para superar as altas taxas de rejeição, em uma das disputas presidenciais mais polarizadas das últimas décadas nos Estados Unidos. Com a briga apertada em vários estados estratégicos, os aspirantes à Casa Branca tentam conquistar os indecisos sem dar passos em falso.
Tradicionalmente, o primeiro debate entre os presidenciáveis é o que atrai mais atenção. Ao longo dos anos, cientistas políticos observaram que, nas pesquisas, o impacto gerado pelo confronto costuma ser da ordem de três pontos percentuais. Em uma eleição acirrada, como a deste ano, a menor oscilação pode ser decisiva. As sondagens mostram indefinição em ao menos 13 estados.
Um deles é a Carolina do Norte, onde Trump supera Hillary por 43% a 41%. Os distúrbios que se seguiram à morte de mais um negro durante abordagem policial, questões relativas à segurança pública e impasses raciais devem ser observadas com atenção pelo eleitorado local. Nova pesquisa nacional divulgada ontem pelo Washington Post/ABC aponta Trump e Hillary empatados com 46% das intenções de voto.
Robert Denton, professor de comunicação política do Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia (Virginia Tech), observa que a noção de vitória em um debate é relativa, mas que um candidato pode sair perdedor. Ele considera que o que está em jogo é a capacidade de persuadir eleitores cujo voto ainda não foi definido, ou os que não estão muito seguros da escolha.
Embora a expectativa seja de audiência maior do que em anos anteriores, Denton observa que apenas um terço dos americanos aptos a votar costuma assistir aos debates presidenciais. Por isso, o julgamento da imprensa tem peso especial. ;A maior influência sobre os indecisos vem do retrato que a mídia fará sobre o debate;, pondera. ;E, se você está genuinamente indeciso, os debates podem ter um impacto poderoso.;
O analista destaca que esse tipo de eleitor costuma observar características que o convençam de que um candidato tem as competências para ser presidente. ;Ronald Reagan teve de provar que servia para o cargo, em 1980, e Bill Clinton mostrou que sabia o que era viver com um orçamento apertado quando mostrou conhecer o preço de um galão de leite, em 1992;, recorda.
Denton aponta como outro fator importante a capacidade de transmitir confiança e transparência, ponto fraco tanto de Hillary, quanto de Trump. A democrata amarga taxa de rejeição de 54%, enquanto o rival é desaprovado por 58% dos americanos.
Cautela
Com imagens tão frágeis, qualquer gafe pode arruinar os esforços de um candidato e tornar-se prato cheio para o concorrente. Para Samuel Nelson, diretor do centro de debates da Cornell University, Trump é o mais vulnerável nesse quesito. ;Hillary ocupou vários cargos e, provavelmente, sabe tudo de que precisa. Trump é uma incógnita;, diz.
A democrata tem a vantagem de já ter concorrido em outras eleições. Além de estudar questões relativas às políticas federais, a preparação para que a candidata enfrente as várias facetas do polêmico empresário inclui até a consulta a psicólogos que analisam a personalidade do opositor.
Nelson observa que é a primeira vez que os dois candidatos são figuras tão polarizadoras. ;Isso torna o debate sem precedentes, e o fato de gostar ou não de um deles terá grande influência na mente dos eleitores;, avalia.
Para Denton, Hillary terá de se mostrar confiante, mas precisa ;humanizar; sua imagem. ;Ela precisa ativar a base eleitoral e falar para os jovens, as mulheres trabalhadoras e as minorias;, acrescenta. ;Trump precisa, desesperadamente, aumentar a base republicana.;
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