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Rodrigo Rato ante a justiça espanhola por desvio de fundos

Segundo a promotoria, Rato manteve em 2010 "o sistema corrupto" estabelecido por seu antecessor à frente do Caja Madrid, Miguel Blesa, e depois o reproduziu no Bankia

Agência France-Presse
postado em 26/09/2016 14:48
San Fernando de Henares, Espanha - O ex-diretor-gerente do FMI Rodrigo Rato se sentou nesta segunda-feira no banco dos réus na Espanha por dirigir em sua breve atuação como banqueiro um "sistema corrupto" de desvio de fundos.

[SAIBAMAIS]Ao chegar ao tribunal em San Fernando de Henares, a leste de Madri, Rato foi recebido a gritos de "ladrão" e "fraudador" por vários manifestantes que perderam suas economias em produtos tóxicos recomendados pela entidade que dirigiu, Bankia.



Rato, ex-ministro da Economia de 67 anos, entrou com uma pasta na mão e sem dizer nada no anexo da Audiência Nacional, a máxima instância penal espanhola, onde será realizado o julgamento contra ele e outros 64 acusados até dezembro.

Em um caso conhecido na Espanha como o dos "cartões black", Rato é acusado junto a outros 64 ex-diretores do banco Caja Madrid e de sua entidade sucessora Bankia, que surgiu em 2011 da fusão de sete caixas de poupança.

São acusados de "apropriação indevida" de mais de 12 milhões de euros entre 2003 e 2012, mediante o uso de cartões bancários opacos com os quais financiaram sem limite nem controle fiscal grandes gastos pessoais.

A publicação dos detalhes destes gastos - joias, bolsas Louis Vuitton, festas em boates, viagens - provocou revolta em uma Espanha submetida a uma política de austeridade após o início da crise econômica em 2008.

Rato, outrora estrela do Partido Popular (PP), atualmente no poder, foi ministro da Economia do conservador José María Aznar de 1996 a 2004, e dirigiu o Fundo Monetário Internacional (FMI) desse ano até 2007.

Sua carreira como banqueiro durou apenas dois anos, de 2010 a 2012, mas desembocou no pior escândalo bancário da história do país. A entrada na bolsa do Bankia foi um autêntico desastre, e em 2011 teve que ser nacionalizado e precipitou um resgate europeu do setor bancário espanhol por mais de 41 bilhões de euros.

Segundo a promotoria, Rato manteve em 2010 "o sistema corrupto" estabelecido por seu antecessor à frente do Caja Madrid, Miguel Blesa, e depois o reproduziu no Bankia.

Rato é acusado de ter gasto em dois anos 99.000 euros, que reembolsou antes do julgamento. A promotoria pede contra ele quatro anos e meio de prisão e o reembolso de 2,6 milhões de euros, montante total dos gastos dos "cartões black" por ele e pelos demais acusados.

Também no banco dos réus destacam-se inúmeros membros do Partido Popular, do qual Rato foi expulso no fim de 2014, e personalidades de sindicatos e partidos de esquerda. Um representante do partido Esquerda Unida, por exemplo, é acusado de ter gasto 456.000 euros com seu "cartão black".

A promotoria pede seis anos de prisão contra Blesa, ex-companheiro de estudos de Aznar, nomeado à frente do Caja Madrid.

Rato é processado em mais dois casos: um por suposta fraude na saída da bolsa do Bankia, que não teria informado devidamente sua condição financeira, e outro por suposta lavagem de dinheiro através da compra de um hotel em Berlim.

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