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Por unanimidade, congresso colombiano aprova acordo de paz com as Farc

O acordo permitirá que membros da guerrilha assumam cargos políticos. Em contrapartida, os rebeldes aceitaram entregar bens, como forma de compensar perdas de vítimas

postado em 01/12/2016 07:56

Bogotá, Colômbia - Com a aprovação na quarta-feira à noite pelo Congresso da Colômbia do acordo de paz entre o governo e a guerrilha das Farc, renegociado após o fracasso do acordo original em um plebiscito, o país enfrenta agora o desafio de implementar o pacto.

Senado da Colômbia começou, nesta terça (29/11), a debater acordo de paz para o fim de um conflito de meio século contra os rebeldes das FARC

Para falar do início da próxima etapa, repleta de dificuldades segundo os analistas, representantes do governo de Juan Manuel Santos devem conceder uma entrevista coletiva nesta quinta-feira. O Congresso, onde o governo deve apresentar nas próximas horas o projeto de lei de anistia dos guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), será mais uma vez o cenário chave da fase de implementação.

O acordo de paz, estabelecido entre as partes há uma semana depois de incluir propostas da oposição ao pacto original, que foi rejeitado em um plebiscito em 2 de outubro, foi aprovado em definitivo na quarta-feira à noite pelo Congresso. A maioria do governo no Senado e na Câmara votou, na terça-feira e quarta-feira, respectivamente, a favor de referendar o acordo que pretende acabar com um conflito armado de mais de meio século.

"Gratidão ao Congresso pelo histórico respaldo à esperança de paz dos colombianos", escreveu no Twitter o presidente Santos, vencedor do Nobel da Paz por seus esforços para acabar com a guerra interna.
[SAIBAMAIS]

A oposição, liderada pelo ex-presidente e atual senador Álvaro Uribe, optou por não participar nas votações, pois considera que o Congresso "não pode suplantar" a decisão tomada nas urnas pelos colombianos. Mas, além da oposição ao modo de aprovar o acordo, os uribistas rejeitaram também o pacto em geral, porque acreditam que permite a "impunidade total" e dá elegibilidade política a guerrilheiros culpados de crimes atrozes antes que cumpram suas penas.

Surgidas de um levante camponês em 1964 e com 5.765 combatentes atualmente, as Farc são a guerrilha mais antiga da América Latina. Esta é a quarta vez que se tenta um processo de paz com o governo colombiano, após os fracassos em diálogos com os presidentes Belisario Betancur (1982-1986), César Gaviria (1990-1994) e Andrés Pastrana (1998-2002).

A decisão do governo e das Farc de referendar o acordo renegociado no Congresso tem relação, segundo as partes, com a fragilidade do cessar-fogo bilateral em vigor desde o fim de agosto.

A urgência para referendar o pacto revisado buscava superar a incerteza provocada pelo limbo em que entrou o processo de paz após o plebiscito, em especial depois que o cessar-fogo foi perturbado pela morte de dois guerrilheiros das Farc há algumas semanas em supostos combates com o exército e, mais recentemente, por uma série de homicídios e atentados contra líderes sociais no sul e oeste do país.

Os analistas destacam os desafios do acordo, não apenas na área política. Eles citam o contexto difícil para a segurança política do acordo e também para a implementação em si, em termos da capacidade do Estado.

O conflito armado colombiano, do qual também participam outras guerrilhas, grupos paramilitares e agentes estatais, já deixou ao menos 260.000 mortos, 60.000 desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados em mais de meio século.

Por France Presse

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