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Fidel Castro volta ao berço de sua revolução para último adeus

A caravana que leva a urna de cedro coberta com a bandeira cubana chegou à Santiago

postado em 03/12/2016 19:54

Cinzas de Fidel chega a Santiago, em Cuba

As cinzas de Fidel Castro cruzaram Cuba neste sábado (03/12) e chegaram a seu destino final, Santiago, berço da revolução, onde uma multidão fervorosa lhe oferece a última homenagem antes de seu enterro, neste domingo.

A caravana que leva a urna de cedro coberta com a bandeira cubana chegou à cidade depois do meio-dia. Uma multidão emocionada acompanha o cortejo, que partiu na última quarta-feira de Havana.

"Eu sou Fidel", entoavam cubanos quase em transe. Niria Rosales, uma ex-combatente de 77 anos que exibe uma medalha no peito e um bracelete do movimento rebelde 26 de Julho, fundado por Fidel, descreve seu encontro com o líder máximo como um milagre.

"Eu estava em Serra com ele. Colocou as mãos aqui e colocou meu nome de guerra", conta, tocando nos ombros.
[SAIBAMAIS]
Os restos de Fidel percorreram boa parte da ilha, no sentindo inverso da rota que o líder da Revolução seguiu em 1959, antes de chegar a sua última parada.

O presidente Raúl Castro, que assumiu o poder quando o irmão Fidel ficou doente, em 2006, encerrará os atos de homenagem com um discurso à noite.

Os restos do "Comandante" serão enterrados em uma cerimônia privada no domingo no cemitério de Santa Ifigênia de Santiago, onde jaz o herói da independência nacional, José Martí.

Serão concluídos, assim, os nove dias de luto nacional, enquanto muitos se perguntam sobre o rumo que terá a ilha sem seu líder mais influente.

Sem se afastar do regime de partido único, Raúl Castro, que deixará o poder em fevereiro de 2018, realiza uma lenta abertura ao trabalho privado e investimento estrangeiro.

O funeral será realizado sem a presença de câmeras da imprensa estrangeira. O cemitério está fechado há dias, e operários trabalham para finalizar os preparativos da cerimônia.

"Saberemos tomar conta dele e montar guarda como se deve", diz, com orgulho, Margarita Aguilera, que, aos 54 anos, dirige um estabelecimento municipal de distribuição de tabaco.

Para ela, Fidel "foi o pai de todos os cubanos e de todos os desamparados do mundo".

;Foi ideia dele;

Enediel Rodriguez, 50 anos, prepara uma sala de TV na qual curiosos poderão acompanhar o cortejo.

"Repousa em Santiago de Cuba porque Martí é nosso herói nacional e porque foi ideia dele repousar ao seu lado", explica Enediel enquanto ajusta o bracelete do 26 de Julho, com fundo vermelho e preto, em referência ao movimento criado por Fidel Castro após a invasão fracassada do Quartel Moncada, em Santiago de Cuba, em 1953.

O grande fracasso desta missão suicida conduzida pelos irmãos Castro e na qual participaram outros 121 combatentes inexperientes foi o ato inicial da revolução cubana. A urna com as cinzas de Fidel fará uma parada na fortaleza neste sábado.

Três anos depois do ataque, em 30 de novembro de 1956, o herói local Frank País dirigia uma revolta armada destinada a apoiar o desembarque na região do iate Granma, que transportava a partir do México os irmãos Castro e o argentino Ernesto "Che" Guevara.

A insurreição de Frank País fracassou, o líder revolucionário foi assassinado pela polícia e os passageiros do Granma fugiram para as montanhas vizinhas de Sierra Maestra, de onde lançaram uma guerra de guerrilhas, que se estendeu por 25 meses. No dia 1; de janeiro de 1959, Fidel anunciou a partir de Santiago a vitória da revolução.

Na sexta-feira (02/12), foi lembrado em Cuba o 60; aniversário do desembarque do Granma na praia Las Coloradas, 220 km a oeste de Santiago.

Em Havana, Matanzas, Cárdenas, Cienfuegos, Santa Clara, Sancti Spíritus, Camagüey, Las Tunas, Holguín, Bayamo, centenas de milhares de simpatizantes permaneceram nos acostamentos das estradas para se despedir do líder revolucionário.

A maioria dos cubanos foram incitados, ao longo desta semana, a jurar que darão continuidade ao legado socialista do homem que moldou o destino do país e desafiou a superpotência americana por meio século.

A dispersa dissidência em Cuba evitou se manifestar, por temor de represálias.

Por France Presse

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