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Na Broadway, cenas fortes de "1984" fazem plateia vomitar e desmaiar

Intensidade da peça deixou os dois atores que a protagonizam com lesões

Ana Carolina Fonseca*
postado em 27/06/2017 21:18
Intensidade da peça deixou os dois atores que a protagonizam com lesões
Em poucos dias de estreia em um dspalcos mais famosos do mundo, a produção musical "1984" já é uma polêmica. Baseada no livro de mesmo nome de George Orwell (1949), a história de um futuro distópico tem cenas tão perturbadoras que alguns membros da plateia, em mais de um horário de exibição, passaram mal. Segundo o The New York Times, parte do público vomitou, desmaiou e até brigou entre si depois das cenas mais fortes. A polícia foi chamada e registrou ocorrência, segundo o site The Hollywood Reporter.

Ao Correio, o americano-português morador de Nova York Daniel Quitério, que assistiu ao espetáculo, disse que é plausível algumas pessoas terem reações fortes. "Achei a peça incrivelmente intensa e perturbadora, tanto pelas técnicas de contar a história - o uso incrível da iluminação e do som para criar uma atmosfera sombria - quanto pela violência simulada, mas realista", conta. Quitério também acredita que o impacto de 1984 na Broadway está na semelhança que muitos americanos vêem entre a obra e o "clima político atual" nos Estados Unidos.
De acordo com a crítica internacional, as cenas de tortura, tiradas direto da obra original, contam com luzes piscantes e sons estridentes. "As interrogações de Winston na segunda metade da peça são explícitas o suficiente para beirarem ;tortura pornô;".

Olivia Wilde, a atriz que interpreta Julia, afirmou à The Hollywood Reporter não estar surpresa com as reações fortes. "Essa experiência é única e imersiva", pontua. A atriz, famosa por interpretar Remy Hadley no seriado House, quebrou o cóccix e deslocou a costela durante as apresentações prévias de 1984. O outro protagonista, Tom Sturridge (Winston), também não saiu ileso - quebrou o nariz em uma das exibições.

Um dos diretores do musical, Robert Icke, afirma que a platéia tem o direito de sair durante o espetáculo, mas argumenta que "se a peça é a parte mais perturbadora do seu dia, então você não está lendo as manchetes." O outro diretor, Duncan Macmillan, assegura que a intenção não é chocar as pessoas, mas diz que o que acontece no espetáculo também ocorre "em algum lugar do mundo: as pessoas estão sendo detidas sem julgamento, torturadas e executadas."

Segundo a organização, há seguranças posicionados no teatro para garantir que os ânimos não saiam do controle. Crianças com menos de 13 não podem assistir à peça.

No início do ano, o livro 1984 teve uma grande ascensão na lista de mais vendidos. Isso aconteceu quando a conselheira de Donald Trump Trump Kellyanne Conway descreveu as mentiras ditas pelo secretário de imprensa como "fatos alternativos", o que imediatamente gerou comparações com a obra de Orwell.

São vários os pontos de semelhança entre o livro e o ano de 2017, ao menos de acordo com vários admiradores da obra: o governo está sempre ouvindo; filmes mostram refugiados morrendo no mar; aparelhos eletrônicos monitoram todas as casas; e a verdade é o que o governo diz que é a verdade.

O herói do livro, Winston Smith, trabalha para o Ministério da Verdade, onde diariamente corrige e retrata notícias publicadas anteriormente com os novos dados que o governo quer divulgar, independente da veracidade. Por isso, muitos acreditam que George Orwell previu, em seu livro escrito na década de 1940, a era da "pós-verdade" e os "fatos alternativos" de Trump.
*Estagiária sob supervisão de Ana Letícia Leão.

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