Politica

Entrevista: João Paulo Rodrigues

Um dos primeiros alvos da comissão parlamentar de inquérito, líder do MST nega temer a convocação dos parlamentares

postado em 26/10/2009 08:50
Um dos primeiros alvos da comissão parlamentar de inquérito, líder do MST nega temer a convocação dos parlamentaresNesta terça-feira (27/10), líderes do governo e da oposição tentarão definir os parlamentares responsáveis pela presidência e a relatoria da CPI do MST. Antes mesmo da definição da chapa, os dois lados concordam em um ponto: a convocação de nomes para prestar esclarecimentos à comissão deve começar pelos representantes dos movimentos sociais. Coordenador nacional há nove anos do MST, o líder João Paulo Rodrigues disse não temer a terceira CPI sobre questão agrária em menos de cinco anos. Em conversa com o Correio, ele acusou a oposição de usar as investigações como manobra para frear a discussão sobre os novo índices de produtividade. Afirmou ainda que, já que foi criada, a comissão deve servir para ajudar a transformar em realidade a reforma agrária no país. A seguir os principais trechos da entrevista:

Na linha de frente da CPI

Laranjal
;O fato do laranjal entra numa situação de confronto dos ruralistas contra o governo, contra o Incra e contra o MST. É verdade que pode ter havido excesso na ocupação, mas, nas verdade, a ação foi contra a lentidão do governo em obter àquelas terras públicas da União que estão nas mãos de uma empresa privada há mais de 10 anos. É importante ter claro que o episódio das laranjas se fosse em outra conjuntura não teria a mesma repercussão como teve após o anúncio da atualização dos índices de produtividade.;

CPI
(A CPI) coloca um bode na sala. Porque o setor não quer discutir produtividade. Apesar do censo do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrar que os assentamentos são produtivos ele não quer discutir modelos agrícolas e aí coloca uma terceira CPI para alterar o debate. O MST não tem nenhum problema em fazer o debate com a sociedade.

Varredura
A CPI será importante desde que possamos discutir o financiamento do agronegócio, o desmatamento provocado pela produção agrícola, a quantidade de uso de agrotóxicos utilizada pelo setor, o regime de escravidão nas fazendas patronais, sim. Se eles (a oposição) toparem, a gente não tem problema nenhum em discutir modelos de assentamento e o modelo agrícola do país.

Legalização
De forma alguma (o MST pensa em se legalizar judicialmente). A Constituição nos assegura o direito e a liberdade de organização sem essa necessidade. Isso não é centro da nossa luta.

Críticas
A forma como foi tratada a mobilização das laranjas criou, de fato, uma situação em que muitos apoiadores do MST tiveram posição muito crítica. Agora, nós fizemos todo um trabalho de investigação interna e chegamos à conclusão de que o estrago da forma como apareceu na mídia não foi provocado pelo movimento. Ali, foi montado um cenário para ser fotografado e filmado logo após a saída dos integrantes. Agora, se de fato a opinião pública acha que houve excesso na forma do protesto do corte da laranja, nós pedimos desculpa, não temos problema em fazer autocrítica.

Apoios
(A CPI) é um terreno que o MST não domina porque não temos deputados nossos lá, mas estamos confiantes de que o Congresso não vai querer se prestar a criminalizar o movimento e transformá-lo em inimigo na nação. Acredito que o Congresso tem mais assuntos de importância no país como a criminalidade no Rio de Janeiro, por exemplo.

Eleições
O MST não tem candidato a presidente. Preservamos a autonomia em relação às eleições e devemos discutir os temas da reforma agrária com todos os partidos de esquerda e aqueles que se mostrarem interessados. Mas, um candidato específico a gente ainda não vislumbra isso.

Petistas
Não é verdade (que o MST participou de discussões sobre programa de governo de Dilma). A atividade foi apenas um convite do PT, mas, em momento algum discutimos eleições. Foram apenas falas sobre as ações do presidente Lula durante o seu mandato.

[SAIBAMAIS]Marina Silva
Ainda não temos avaliação sobre algum apoio a ela, apesar de ser uma amiga do movimento. Esse tema (eleições) o MST só vai discutir a partir de março, abril do ano que vem. Até lá o que vamos fazer é nos defender das perseguições políticas e esdrúxulas ao MST.

Denúncias
Nós vamos adotar uma postura de denunciar essa CPI em todos os fóruns internacionais em que tivermos acesso. Inclusive, na próxima semana (dia 2), vamos à sede da Organização Internacional do Trabalho (OIT) junto com as centrais brasileiras entregar um documento de denúncias sobre essa perseguição em cima das nossas ações. Também vamos aproveitar o passeio para passar no parlamento europeu e, quem sabe, em alguma comissão de questões sociais da ONU.É um absurdo que o MST tenha, em tão pouco tempo, três CPIs investigando tudo e mais um pouco do que fazemos.


"Se de fato a opinião pública acha que houve excesso na forma do protesto do corte da laranja, nós pedimos desculpa"

"A Constituição nos assegura o direito e a liberdade de organização sem essa necessidade (de legalização)"

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