Politica

Foco voltado para os evangélicos

Em ato político no templo da Assembleia de Deus, na 910 Sul, Dilma tentará conquistar os votos dos fiéis, cobiçados também por Serra e Marina

Ivan Iunes
postado em 24/07/2010 09:12
A candidata à Presidência da República Dilma Rousseff (PT) testará o discurso religioso hoje para tentar avançar sobre uma parcela do eleitorado estimada em 34 milhões de pessoas. Com as pesquisas de opinião indicando uma disputa cada vez mais polarizada entre a petista e José Serra (PSDB), as duas campanhas direcionaram o arsenal político nas últimas semanas para conseguir o apoio do maior número possível de instituições evangélicas. A equipe de Dilma nomeou até um representante informal para atuar junto ao segmento: o pastor da Assembleia de Deus e deputado federal Manoel Ferreira (PR-RJ). Para rivalizar com a liderança religiosa, o ninho tucano tenta estreitar laços com José Wellington Bezerra da Costa, outro pastor da Assembleia.

Assim que subir ao púlpito do principal templo da Assembleia de Deus em Brasília, na 910 Sul, Dilma deve fazer um discurso escapista às principais controvérsias que o plano de governo petista tem com os religiosos. A ideia é escapar do que todos estrategistas consideram um campo minado. Durante a semana, o bispo de Guarulhos (SP), Luiz Gonzaga Bergonzini, criticou publicamente o posicionamento da candidata em questões como a descriminalização da maconha, a união homoafetiva e o aborto.

O plano traçado por Ferreira e Dilma, que ontem cumpriu agenda com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Pernambuco, para dobrar os evangélicos é empurrar esses espinhos para o Legislativo. ;Nós já tivemos entendimentos prévios e a ministra concordou que esses temas devem ser resolvidos pelo Congresso Nacional e não pelo Palácio do Planalto. Não discriminamos ninguém, mas queremos ter a liberdade de dizer que nós não concordamos com a maioria dessas propostas;, afirma Ferreira. A expectativa do articulador político de Dilma é de que 70% das igrejas evangélicas estejam representadas no encontro de hoje. ;Estamos preocupados em buscar os outros segmentos das neopentecostais. Nosso segmento é um dos mais disputados porque temos fiéis muito bem domesticados e orientados;, garante.

Outra corrente

O maior embate de Ferreira, contudo, se dará dentro do próprio ninho religioso. Presidente da Convenção Nacional das Assembleias de Deus, o pastor trava uma queda de braço contra Wellington, chefe de outra corrente da igreja, a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, que deve anunciar apoio a Serra. ;Somos procurados quase que diariamente, tanto pelo pessoal do Serra quanto pelo da Dilma, mas ainda não temos uma decisão. Entre os fiéis, a Marina tem sido escolhida por muitos, exatamente por ter o discurso mais religioso das eleições;, aponta o pastor Lélis Trajano, da Convenção Geral.

A entidade só aguardaria a formalização de um encontro de conselheiros para anunciar o apoio ao tucano. ;A Convenção Geral vai apoiar a gente, o acerto está certo. Essa agenda religiosa da Dilma é inútil, o público evangélico não vai de Dilma, vai de Serra. Nossa única ameaça é a Marina(1), por pertencer aos quadros da Assembleia;, analisa o coordenador de campanha do PSDB, Sérgio Guerra. Para tentar reverter essa desvantagem, Ferreira dedicou as últimas semanas ao contato com as principais representações evangélicas do país, atrás do apoio declarado a Dilma.

1 - Equilíbrio

Evangélica, Marina se converteu há 13 anos, quando passou a frequentar reuniões da Assembleia de Deus na Asa Sul. Com discurso pautado no ambientalismo, a candidata tem tentado o equilíbrio ao falar sobre religião. Não quer perder votos dos religiosos, nem dos ambientalistas ; tradicionalmente ligados a questões próprias dos direitos individuais. Marina declarou ser contra o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em um governo verde, contudo, garante que deixaria a decisão para a população, por plebiscito.

O número
34 milhões
Tamanho do eleitorado evangélico em todo o país, o que representa 25% do total de votos: 135 milhões de eleitores


60 cidades
Total de municípios que terão a votação biométrica em outubro, com a identificação de eleitores por meio da impressão digital

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