Politica

Palloci e Temer atuaram pela fácil vitória de Marco Maia

Foi preciso conter a rebeldia da base em torno da candidatura governista

Ivan Iunes
postado em 02/02/2011 08:38
O Palácio do Planalto deu uma demonstração de força e não poupou esforços para influenciar na eleição de Marco Maia (PT-RS) como presidente da Câmara dos Deputados. Capitaneada pelo vice-presidente Michel Temer e pelo ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, a força tarefa começou no início do ano. As ações promovidas pela dupla incluíram o enquadramento e ameaças a aliados, além do adiamento de questões polêmicas urgentes.

Ao primeiro sinal de dificuldades no relacionamento com uma parcela dos parlamentares aliados, o Planalto decidiu adotar a tática do morde e assopra. Quando o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (RN), reclamou publicamente da divisão de cargos na Esplanada, Temer e Palocci trabalharam para tranquilizar e, ao mesmo tempo, enquadrar o parlamentar. Primeiro, disseram que as nomeações seriam adiadas, mas garantiram a Alves voz nas decisões de alguns postos importantes. Depois, pediram a ele que submergisse. O líder assentiu e só voltou a estrilar anteontem, quando o partido o reconduziu à liderança.

Controlado o PMDB, o Planalto varreu para depois da eleição na Câmara qualquer decisão polêmica. E havia várias na lista de espera. A primeira delas são os cortes no orçamento, que provavelmente atingirão as emendas parlamentares. ;O governo realmente estuda liberar uma folga no Orçamento cortando parte dos recursos destinados às emendas parlamentares, mas isso não influenciaria na eleição da Câmara, apenas trará insatisfações pontuais;, analisou o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP).

Expulsão
Depois de varrer possíveis focos de insurreição, o Planalto trabalhou para desidratar as candidaturas rivais a Maia. Depois de serem pressionados pelo governo federal, especialmente no quesito nomeações, o PCdoB, de Aldo Rebelo (SP), e o PSB, de Júlio Delgado (MG), convenceram os deputados a desistir da disputa. O único sobrevivente acabou sendo Sandro Mabel (PR-GO), mas que está ameaçado publicamente de expulsão pelo próprio partido. ;Recebi meus companheiros de partido que disseram que o Executivo pressionou o meu partido e que eu deveria desistir da candidatura, caso contrário seria expulso;, reclamou Mabel.

Ao final das eleições na Câmara, a dupla Temer-Palocci confirmou a tendência verificada desde a campanha eleitoral do ano passado. O principal papel de ambos no governo de Dilma Rousseff será o de promover a articulação entre Executivo e Legislativo.


Discurso de Dilma

Na mensagem que entregará pessoalmente aos parlamentares hoje, por conta do início do ano Legislativo, Dilma Rousseff deve pedir colaboração aos deputados e senadores para a formação de um pacto pela erradicação da miséria ; proposta de campanha da presidente. A carta não terá um teor de cobrança, mas um apelo por cooperação entre Executivo e Legislativo para cumprir a meta estabelecida.

A intenção de Dilma é acalmar a base governista, especialmente diante do provável cancelamento de emendas parlamentares já empenhadas, mas que ainda não foram processadas. A medida é tida como essencial para abrir uma brecha no Orçamento de forma a cumprir as metas fiscais do governo sem a necessidade de cortar investimentos, especialmente os do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A medida será ainda mais prudente depois que o Palácio do Planalto entrou pesado nas articulações para a eleição de Marco Maia (PT-RS) na Presidência da Câmara dos Deputados.

A presidente também pedirá aos deputados e senadores auxílio para manter a inflação sobre controle e a aprovação de um salário mínimo que não prejudique as contas públicas. Dilma anunciou que pretende manter a remuneração base em R$ 545, mas as pressões das centrais sindicais por um benefício de até R$ 580 não estão descartadas. No Congresso, o principal ponto de discórdia entre parlamentares e o Executivo permanece sendo o cancelamento das emendas parlamentares.

Ao se desvincular temporariamente do cargo para tomar posse como deputado federal, o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, antecipou que a estratégia atual do Planalto é a de pacificar o Congresso, em especial a Câmara. ;A questão do cancelamento de algumas emendas é algo apenas em estudo, mas a discussão é precipitada. A equipe econômica nem sequer definiu onde serão feitos os cortes necessários na economia;, afirmou. (II)

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