Politica

Queda de eleitores jovens no RJ é sinal de alerta, diz pesquisador

Proporcionalmente, número de jovens eleitores de 16 e 17 anos diminuiu 50%

postado em 12/08/2014 17:19
A redução à metade do número de eleitores jovens no Rio de Janeiro, divulgada pelo Tribunal Regional Eleitoral do estado (TRE-RJ), acompanhou a tendência nacional destas eleições e significa um sinal de alerta para a democracia brasileira, segundo avaliou, em entrevista à Agência Brasil, o cientista político Júlio Aurélio Vianna Lopes, da Fundação Casa de Rui Barbosa.

De acordo com dados divulgados pelo TRE-RJ, o número de eleitores aptos a votar no próximo dia 5 de outubro no estado, em todas as faixas etárias, evoluiu 2% em comparação à eleição de 2012, atingindo 12.141.145 pessoas. No entanto, entre os jovens de 16 e 17 anos, cujo voto é facultativo, houve queda de quase 50% em termos proporcionais, nesse período. Os eleitores dessa faixa etária somam 75.487, o correspondente a 0,52% do total do eleitorado, enquanto em 2012 o número era 117.988 (alcançando 0,99% do total).

[SAIBAMAIS]O levantamento do TRE-RJ se baseia em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e segue a tendência encontrada no restante do país. De acordo com o TSE, o número de eleitores jovens com voto facultativo também diminuiu em todo o Brasil, passando de 2.913.789 em 2012 (2,07% do total) para 1.638.751 em 2014 (1,15%).

Júlio Vianna Lopes disse que, como se trata de voto facultativo, a análise deve considerar que o fator principal na evolução desse tipo de voto é sempre a motivação do eleitor. ;A rigor, o que há é a menor disponibilidade dos jovens que receberam o direito do voto facultativo;. Isso acende um sinal de alerta, destacou.

Combinando esse dado com o fato de que, nos movimentos populares ocorridos em junho do ano passado, a ampla maioria eram formada de jovens de 14 anos até 30 anos de idade (mais de 80%), o cientista observa que há um descolamento dos cidadãos mais jovens da democracia brasileira. ;É grave, mas isso não indica que esse segmento da população esteja sendo galvanizado por orientações políticas autoritárias. Não se trata de nostálgicos da ditadura ou de neonazistas;, avaliou.

O cientista político indicou que o sistema democrático brasileiro não tem sido atraente para os eleitores, em especial os que estão na faixa dos 16 e 17 anos. ;Isso está comprovado, porque há um afastamento do sistema democrático formal e um fortalecimento de formas alternativas de participação política, como a ocupação de ruas;.

Lopes destacou que o ideal é que ocorressem as duas coisas: a democracia direta, revigorada nas ruas, com o fortalecimento do canal de participação representativa. ;Esse é o ideal que devemos buscar;. Ele esclareceu que esse é um processo que está ocorrendo no mundo inteiro. ;Tem algo de estrutural nisso;. Segundo ele, os regimes democráticos sólidos têm se tornado objeto de críticas de segmentos ativos de suas populações, que entendem que a democracia tem de ter uma nova forma de funcionar.

Lopes acredita que o fortalecimento da ética na política é um caminho promissor. ;Eu aposto nisso, que a crise atual da representação política tem como ingrediente fundamental da sua superação o fortalecimento de parâmetros éticos. Quanto mais, melhor. A gente já teve a [Lei da] Ficha Limpa, mas precisa haver outras formas de fortalecimento de parâmetros éticos.;

Para o cientista, desde 1994, tem havido no Brasil reformas constitucionais que considera "lentas, pontuais e tímidas" e incapazes de atender à demanda dos jovens. ;A gente precisa de uma reforma política ampla, geral e irrestrita. Enquanto não se entender que essa é a principal reforma institucional que o país precisa, não vai haver um sistema político que consiga estabelecer uma afinidade efetiva com o conjunto da população, especialmente com os segmentos mais jovens, que vão ser os futuros eleitores;, argumentou.



A estudante Vitória Ávila, 16 anos, não acredita em mudanças no cenário político no Brasil. ;Debato muito com as pessoas, mas não tenho esperança em relação aos governos do nosso país e do nosso estado;. Ela não quis nem mesmo tirar o título de eleitor. ;Vou esperar quando for obrigatório.;

Jéssica Rayane Melo da Silva, 17 anos, diferentemente, está entusiasmada para votar na eleição de outubro. ;Eu acredito, e sempre debato isso na escola, com meus amigos, que a gente pode mudar e que o caminho é esse. É não desistir, é continuar lutando e tentar contagiar o maior número de pessoas possível, porque isso faz a diferença;, disse.

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