Politica

Relatório final da Comissão da Verdade apresenta novas vítimas da ditadura

O documento, que será apresentado em 10 de dezembro, contará com a descoberta de pelo menos 59 outros presos que morreram ou desapareceram durante o regime militar

Daniela Garcia
postado em 14/11/2014 09:48

Thereza Ferraz presta depoimento sobre Odair (no alto)

O mistério do desaparecimento do despachante Odair José Brunocilla, 30 anos, em Santos (SP), em 1978, durante o regime militar (1964-1985) é um dos casos que serão revelados pelo relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV). O documento, que será apresentado em 10 de dezembro, contará com a descoberta de outros presos que morreram ou desapareceram enquanto estavam sob a tutela das forças de repressão da época. De acordo com o coordenador da CNV, Pedro Dallari, a lista com nomes de vítimas identificadas pelo Estado brasileiro será ampliada.

Casado e pai de três filhos, Odair desapareceu em 6 de dezembro de 1978, em circunstâncias desconhecidas até hoje. Amiga da família da vítima, a psicóloga Thereza Ferraz, 73 anos, afirma que o despachante virou alvo do sistema de repressão pois ajudava com a documentação de militantes contrários ao regime, que desejavam fugir para o Chile e Argentina. Brunocilla também cooperou com os despachos de perseguidos políticos que vinham do exterior. ;Ele fazia o trabalho dele. Não era militante;, afirma.
[SAIBAMAIS]
Além de Odair, pelo menos 59 nomes serão incluídos na lista de mortos e desaparecidos políticos durante o período, com a publicação do relatório da CNV. Como a Secretaria de Direitos Humanos reconhece 362 pessoas, o total de vítimas deve subir para 421. Pedro Dallari afirma, contudo, que o número pode ainda crescer, porque não foi concluído o volume que irá tratar dos perfis das vítimas. ;Esses números são só especulação. Ainda não fechamos a lista;, disse ao Correio.


De acordo com o coordenador, o relatório contará três partes. Na primeira, será tratado o contexto geral do regime militar. Depois, haverá textos independentes de temas como militares perseguidos e repressão contra indígenas e camponeses. E a última será dedicada a perfis de todas as vítimas, que foram averiguadas em mais de dois anos de trabalhos da CNV. O documento também contará com uma relação de nomes de pessoas que cometeram graves violações de direitos humanos durante a ditadura militar.

Mistério
Para o filho caçula de Odair, Roberto José Brunocilla, 37 anos, qualquer informação sobre a morte do pai será um alento. Ele conta que a mãe, falecida há três anos, não tratava do assunto com a família. ;Ela se tornou alcoólatra depois disso (desaparecimento de Odair), ficou deprimida. Não falava por medo;, disse. Thereza diz que Vitória Ortega Brunocilla, mãe de Odair, procurou, por vários anos, informações do filho, mas não teve sucesso. Em carta de 28 de setembro de 1980, a avó de Roberto afirma a Ordem dos Advogados do Brasil, que o contratou defensor que recusou o trabalho, porque ;há envolvimento de elementos de alto escalão;. Segundo relatos de amigos do despachante, Odair teria sido sequestrado e torturado pela Polícia Federal e seu corpo teria sido jogado no mar.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação