Politica

Em entrevista exclusiva, ministro da Defesa de Dilma aposta em renovação

Paulo de Tarso Lyra, Leonardo Cavalcanti
postado em 14/06/2015 08:10

Considerado um dos homens fortes do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, não se omite ao afirmar que o PT precisa esperar os resultados do ajuste fiscal para criticar a política econômica do governo. Afirma que, em economia, as coisas levam tempo para acontecer, mas quem é da base tem que apoiar. ;Quem é oposição vive do microfone. Quem é situação vive da realização. Você tem que torcer (para) que dê certo. Dando certo, todo mundo bate palma;, afirmou ele, em entrevista exclusiva ao Correio.

Incisivo e conciliador ao mesmo tempo, defende a atuação do vice-presidente Michel Temer na coordenação política do governo. ;O que eu queria? Aliviar as tensões? Aliviaram? Então foi um bom resultado;. Afirma que o atual presidente da Câmara tem assumido um protagonismo político e colocado matérias importantes para votar, mesmo que isso desagrade o governo. ;Se o governo quiser ganhar, tem que garantir sua maioria;.

Crítico, Wagner se preocupa com a atual fragmentação partidária, dizendo que o Congresso caminha para ter 513 partidos políticos, com cada deputado sendo dono do próprio mandato, o que inviabiliza a democracia. Especulado como um dos candidatos do PT ao Planalto em 2018, Wagner se esquiva, já que o ex-presidente Lula é o nome mais citado. Na Bahia, contudo, ele próprio apostou na renovação ao escolher o chefe da Casa Civil Rui Costa (52 anos) para concorrer com Paulo Souto (72). Confira a seguir os principais trechos da entrevista.


O governo já definiu o que fazer com a mudança das regras do Fator Previdenciário?

Não se bateu ainda o martelo. Se for para o populismo, não veta. Se for para ter fatura política imediata, joga para a galera. Se você for perguntar para a oposição, em off, ela vai dizer que é suicídio, porque ela sabe que é. É só fazer conta. Quem já foi governo sabe que tem que ter um equilíbrio, senão, daqui a 40, 50 anos, vai acontecer como na Europa, cortando metade da aposentadoria de todo mundo, senão quebra.

O ajuste ainda pesará muito no mau relacionamento entre o governo e o PT?
Uns acham que é aperto demais, outros acham que é aperto de menos. Uns acham que o 1,2% (meta de superavit primário) é exagerado. São as opiniões que, felizmente, todo mundo tem. Na hora que a gente colher o resultado, no fim do ano ou no ano que vem, se der certo, vão dizer que ela é gênia. Se o que ela previu der errado, vão dizer: viu o que nós dissemos? Economia não tem essa previsibilidade toda.

O ajuste está no ritmo certo?
Ela está fazendo o que acredita, o que acha necessário na economia. Ela optou por um caminho. Eu insisto em dizer que quem optou foi ela. O Levy (Joaquim Levy, ministro da Fazenda) é o operador de uma política. Uma vez, o Meirelles (Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central) disse uma coisa que eu guardei: a gente vai medir as coisas pelo resultado. Ninguém sabe se eu estou certo ou errado hoje. Vai saber só amanhã. Quando você faz um movimento na economia, tem um tempo para percorrer. Mas é óbvio que existe dentro do PT uma insatisfação.

E ansiedade, porque a eleição está ali na frente.

A eleição presidencial é daqui a três anos.

Mas os petistas estão vendo as eleições municipais.
Eu não acho que as eleições sejam esses vasos comunicantes que muitos acreditam ser. Acho que as eleições têm características próprias, a nacional e a municipal.

Mas, para essa eleição municipal, temos um PT muito desgastado.
Existe um desgaste, que, na minha opinião, não é por conta da economia, mas dos escândalos. Isso pesou. O pecado do pregador é mais sentido do que o pecado do pecador. Mas acho besteira apostar no fim. Política não tem espaço vazio e eu não vejo, pelo menos por enquanto, uma agremiação partidária que ocupe o espaço que o PT ocupou ao longo do tempo.

O que vai pesar na eleição presidencial?

As pessoas vão continuar apostando no que der na economia. Se em 2017, 2018, a gente estiver colhendo frutos da prosperidade e da esperança, o quadro será totalmente diferente. O desgaste se cura com o tempo, não tem solução mágica. Isso foi muito bombardeado, foi martelado (a questão ética). Não vou pedir à oposição que tenha solidariedade. Você pega um erro do adversário, você bate.

Por que, então, o governo não se posicionou durante o debate da reforma política? Não foi um erro estratégico?

Foi uma questão de correlação de forças. A gente tentou conversar, mas estava sem aglutinação, estávamos sem protagonismo.

Quem é o maior adversário do PT hoje? O próprio PT?
Continua sendo o PSDB. Não acho que o PT é o maior adversário dele próprio.

E do governo? É o presidente da Câmara, Eduardo Cunha?

O Eduardo Cunha está fazendo um jogo de ter protagonismo como presidente da Câmara.

Atrapalha o governo?
Atrapalha quando você não consegue fazer o entendimento e ajuda quando você consegue fazer o entendimento. Ele é um presidente de Câmara diferente de outros, porque ele quer jogar um papel de protagonista.

Está certo ou errado?
Certo, desde que ele não queira se transformar em um bunker de oposição.

Ele está ocupando um espaço que o governo deveria estar ocupando?
Ele também sofreu derrotas em coisas que ele considerava importantes (o distritão). Ali é uma casa de iguais. Ele é eleito presidente por seus pares. Ele está fazendo o jogo dele. Até onde vai esse protagonismo, eu não sei. Ele está fazendo uma coisa boa, está colocando matérias para votar, o que era uma reclamação de todo mundo.

Mas não tem atropelado as coisas?

Atropela porque a casa se acostumou a dar todo o tempo da vida para chegar a um consenso. E acho que ali é uma casa de minoria e maioria. Você busca o consenso; não deu, você vota. Não acho ruim que ele acelere a pauta. Se o governo quiser ganhar, tem que garantir sua maioria.

O que, em tese, quando foi eleito, em outubro, o novo governo tinha.

Mudou o jogo lá dentro. Se continuar como está, vai mudar para pior. Estamos caminhando para ter 513 partidos políticos. E cada deputado é dono do seu mandato.

Como se resolve isso?

Não sei se resolve mais. Estamos em uma marcha batida de desagregação da democracia, na minha opinião. Você conhece alguma democracia hoje que funcione sem partido político? E qual o partido hoje tem controle sobre seus filiados? Nem o meu.

Por que acontece isso?

Você tem um voto quase individualizado. Você está fazendo uma composição de Câmara que você está individualizando o poder. Como negociar com 513 deputados?

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