Politica

O ritmo da política, do MP e das ruas

O pedido de prisão do ex-presidente Lula tende a jogar combustível numa questão que parecia resolvida pelo Palácio do Planalto: a não participação de militantes petistas nas manifestações de domingo. Como pano de fundo, a fragilidade dos argumentos do Ministério Público, levantada pela própria oposição

Leonardo Cavalcanti
postado em 11/03/2016 11:30
O pedido de prisão do ex-presidente Lula tende a jogar combustível numa questão que parecia resolvida pelo Palácio do Planalto: a não participação de militantes petistas nas manifestações de domingo. Como pano de fundo, a fragilidade dos argumentos do Ministério Público, levantada pela própria oposição



O ritmo da política, do MP e das ruas


Personagens do mundo político ; que não acompanham o ritmo das investigações da Lava-Jato e da Justiça ; acreditam que o pedido de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a três dias das manifestações de domingo pode incendiar as ruas. E, assim, pedem prudência. Apesar de a velocidade dos acontecimentos dos últimos dias trazer poucas certezas sobre a montagem de qualquer cenário até o próximo domingo, os riscos aumentam. E é possível avaliar que os ânimos de oposicionistas e governistas nas ruas podem se elevar à quinta potência depois da ação do Ministério Público de São Paulo contra o ex-mandatário do país, independentemente da fragilidade dos argumentos dos promotores.

Quanto à fragilidade de tais argumentos, uma nota do líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB), dá a senha para a diferença dos ritmos entre a política e, no caso específico, o Ministério Público de São Paulo: ;Não estão presentes os fundamentos que autorizam o pedido de prisão, até porque o Ministério Público Federal e a Polícia Federal fizeram buscas e apreensões muito recentemente buscando provas. Vivemos um momento incomum na vida nacional. É preciso ter prudência;. A partir de agora, o pedido de prisão de Lula deixa o MP, a Justiça ; e o mundinho da política de Brasília ; e ganha as ruas. E aqui é onde está o temor, principalmente com um eventual encontro das manifestações do fim de semana.

Até as 16h de ontem ; antes do anúncio do Ministério Público sobre a prisão de Lula ;, havia um certo consenso sobre o risco das manifestações, caso parte do PT insistisse em instigar a militância a ir às ruas no domingo, no mesmo momento dos oposicionistas ao governo. É que, de todas as ideias do Partido dos Trabalhadores nos últimos dias, a mais arriscada era tentar estimular correligionários a saírem de casa em defesa de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva naquela data. Vá lá que não era bem o partido o responsável pela ação. O próprio Palácio do Planalto e a Central Única dos Trabalhadores já haviam se declarado contrários ao ato.

O problema é que, independentemente da convocação oficial, a conta sempre cairia no comando da Esplanada; em última análise não teria sido capaz de demover os manifestantes, entre eles alguns caciques regionais. O argumento não era um ato de censura aos apoiadores de Lula e de Dilma. Não era esse o jogo, afinal cada um deve lançar mão da estratégia que parece mais adequada, seja um militante governista ou um oposicionista. E até porque as ruas serão inevitavelmente o termômetro mais eficiente do humor do país. O que estava em jogo era o PT e os apoiadores do Planalto pagarem de incitadores de badernas ou mesmo violência. No atual estágio de enfraquecimento da legenda, seria o que faltava.

A estratégia de parte dos petistas de saírem às ruas no domingo partia da percepção de que o movimento contra o Planalto ganhou força com os últimos episódios da Lava-Jato. Unia-se a isso a falta de perspectiva de melhora econômica no país a curto prazo. A insatisfação é inquestionável, como avaliam os próprios interlocutores de Dilma e de Lula. Por óbvio, as manifestações de domingo nas capitais do país trarão a dimensão do problema para o governo. Se os atos vinham perdendo força da metade do ano passado para o fim de 2015, a chave parecia ter mudado de lado. Mesmo assim parecia que o Planalto estava conseguindo convencer a militância a ficar em casa. Mesmo sem confronto, avaliava o Planalto, a comparação entre as manifestações poderia levar o governo a perder de lavada. Mas tudo isso mudou com pedido de prisão de Lula.

Aqui, um detalhe. Ao contrário das ações da Lava-Jato, que, na maioria das vezes, pegam o governo de surpresa, levando aos petistas a saírem com estratégias de última hora para reverter estragos, a manifestação de domingo tem dia e hora para ocorrer. Mesmo assim o Planalto não conseguia apresentar uma medida para reduzir danos. Restava esperar o tamanho do barulho. Tudo isso, entretanto, não vale mais. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, convocou uma vigília desde ontem em apoio a Lula. Como será domingo? Bem, agora é aguardar as próximas cenas.

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