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Cunha entrega o impeachment e pode receber 'anistia' em troca

Deputados dão início a movimento para esquecer o processo de Eduardo Cunha no Conselho de Ética, como prêmio pelo impeachment de Dilma Rousseff

Eduardo Militão, Rosana Hessel
postado em 18/04/2016 07:17
Deputados dão início a movimento para esquecer o processo de Eduardo Cunha no Conselho de Ética, como prêmio pelo impeachment de Dilma Rousseff
Um movimento de deputados contentes com a aprovação da continuidade do processo de impeachment de Dilma Rousseff estuda fazer uma espécie de anistia em agradecimento ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que permitiu o início do andamento da denúncia por crime de responsabilidade.

De acordo com o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), ;essa grande maioria; dos votos à cassação da petista seria favorável a ignorar as denúncias de corrupção, lavagem de dinheiro e falsa declaração aos colegas de Congresso. Ele diz que há um entendimento de que Cunha foi fundamental para o avanço do processo.

O presidente da Câmara responde a inquéritos no Supremo Tribunal Federal e já é réu sob acusação de receber US$ 5 milhões de propina de lobista de estaleiro que obteve um contrato de US$ 1,2 bilhão com a Petrobras. Alvo de um processo no Conselho de Ética, Cunha pode ter o mandato cassado pelo plenário, situação em que perderia o foro privilegiado e estaria sob risco de ser preso pelo juiz da Lava-Jato no Paraná, Sérgio Moro, assim como já aconteceu com três ex-parlamentares.



[SAIBAMAIS]Serraglio disse que a hipótese é discutida nos corredores da Câmara. Não seria uma anistia formal, mas apenas uma espécie de ;esquecimento do caso;. ;Acho que daqui a um mês, dois meses, ninguém vai querer saber de mais nada;, avaliou.

Adversário de Cunha, o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) disse que soube da mesma informação por meio de mensagens de celular que acabaram vazando na internet. Para Alessandro Molon (Rede-RJ), o peemedebista seria ;premiado; com a blindagem por conseguir aprovar a cassação de Dilma. Integrante da tropa de choque do peemedebista, Paulinho da Força (PDT-SP) diz que, sem a ação do presidente da Câmara, ;não teria o impeachment;. Para ele, muitos deputados passarão a ver ;com maior simpatia; a ideia de não punir Cunha. Ele ainda não tem uma conta de quantos colegas apoiariam essa atitude. ;Não dá para fazer essa conta ainda;, afirmou.

Serraglio disse que não sabe se apoiaria essa iniciativa. ;Não vou amaciar, mas eu sou muito pragmático. Tem que fazer uma avaliação de expectativa de resultados.;

O deputado Milton Monti (PR-SP) não acredita que Cunha será poupado. Segundo ele, a mesma pressão social do voto aberto para aprovar o impeachment de Dilma vai recair sobre a Câmara caso os parlamentares resolvam não punir o presidente da Casa. De acordo com Monti, qualquer presidente, menos um do PT, abriria o processo de impeachment porque a economia e a articulação política da petista estavam muito desgastadas. ;Isso não melhora a situação do Cunha;, conclui.

Um alto integrante do governo federal e interlocutor de movimentos sociais entende que é possível pressionar o Congresso com a ajuda até de defensores do impeachment de Dilma. Ele destaca que, nos movimentos anti-PT, existem os que são contra Cunha e até mesmo contra o PSDB.

Vitorioso


Para o cientista político David Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pode ser considerado o vitorioso dessa votação. ;Ele seria o grande vencedor, mas por pouco tempo. Tudo indica que ele deve cair. Provavelmente ele vai renunciar à presidência da Câmara para tentar salvar o mandato;, afirmou. No entanto, Fleischer reconhece que, como um grande conhecedor do regimento da Casa, soube desempenhar o papel com muita habilidade. ;Ele atuou bem o modelo e está no ápice do cargo;, completou.

O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), diz que ;dois terços da Casa votando contra Dilma não é vingança de Cunha;. Segundo ele, Cunha não terá condições de continuar na escala sucessória. ;O deputado não poderia assumir a presidência porque ele tem que renunciar. Ele já é réu. Aí o presidente do Senado assumiria e, se ele não tiver condição, assumiria o presidente do STF;, destacou. ;Assim que o vice-presidente Temer for o novo presidente, Cunha não será mais presidente da Câmara. Isso está garantido;, pontuou.

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