Politica

Dilma Rousseff diz, em entrevista, que país tem "veio golpista adormecido"

Ela destacou que a crise atual está acontecendo pelo fato de a eleição de 2014 ter sido vencida por uma margem estreita, de pouco mais de 3 milhões de votos

postado em 19/04/2016 12:46
Ela destacou que a crise atual está acontecendo pelo fato de a eleição de 2014 ter sido vencida por uma margem estreita, de pouco mais de 3 milhões de votos
Em entrevista coletiva concedida a correspondentes internacionais nesta terça-feira (19/04), a presidente Dilma Rousseff disse que o Brasil tem um ;veio golpista adormecido;. A jornais estrangeiros, a mandatária afirmou não ter cometido crime de responsabilidade, se defendeu de acusações de corrupção e lançou críticas ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, réu na Lava-Jato, e ao vice-presidente da República, Michel Temer. Segundo ela, os que "estão golpeando estão vendendo terreno na lua".

;O Brasil tem um veio golpista adormecido;, afirmou a mandatária. Ela fez a colocação ao dizer ter certeza de que não houve um único presidente no país que não tenha sido alvo de pedidos de impeachment entregues à Câmara dos Deputados desde a redemocratização.

Segundo ela, o impeachment ;se tornou um instrumento sistematicamente usado contra presidentes eleitos;, desde o governo Getúlio Vargas.Dilma não mencionou que em 1992 o PT, à época na oposição, apoiou o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Posteriormente, também pediu o impedimento do tucano Fernando Henrique Cardoso.

À imprensa internacional, Dilma voltou a ressaltar que o processo de impeachment é previsto na Constituição, mas que é necessário ter crime de responsabilidade para ele ser válido, o que não ocorre com ela. A presidente ainda chamou de "lastimável" o argumento de parlamentares que votaram a favor do impeachment de que houve o corte de "10 milhões" de empregos. A petista disse que isso não é argumento para o impedimento e ainda fez uma correção, dizendo que foram 2,6 milhões de cargos.

Cunha e Temer: "terreno na lua"

Adotando discurso anterior, a presidente ressaltou o que chamou de ;pecado original; do processo, o que, segundo Dilma, consiste no aceite do pedido por Cunha em retaliação a integrantes do PT, que se recusaram a apoiá-lo no Conselho de Ética. Para Dilma, Cunha agiu dentro da teoria do ;quanto pior, melhor; e isso reforça o caráter golpista do ato. ;Esse processo teve início por um desvio de poder, uma vingança, registrada nos dias que antecederam a aceitação do pedido na Câmara;, disse. "Os meus julgadores, especialmente o presidente da Câmara, têm um retrospecto que não o abona para ser o juiz de nada. Abona para ser réu", continuou.

Dilma disse que junto com Cunha, Temer também age para chegar ao poder de forma ;indireta;. A presidente indicou também que o processo resulta de uma incoformidade de opositores sobre o resultado. "Acho que a conspiração se dá pelo fato de que a única forma de chegarem ao poder no Brasil é utilizando de métodos, transformando e ocultando fatos. Esse processo é um meio de eleição indireta, já que não venceria de outra forma;, afirmou.

Em resposta a um jornalista alemão, Dilma reforçou que o PT criou programas sociais e tirou brasileiros da miséria e indicou que certas iniciativas podem acabar em um governo Temer. "Acredito que os que estão golpeando estão atendendo a só um lado do país e vendendo terreno na lua;, disse.

Pedalada não é crime

Sobre as chamadas pedaladas fiscais, que consistiram no atraso no pagamento a bancos públicos para custear programas sociais, Dilma disse que não havia impedimento à prática. A presidente alegou que o Tribunal de Contas da União (TCU) estabeleceu novas regras ao ato em outubro, em discordância com o que o governo havia feito, mas que elas só poderiam ser aplicadas dali para frente não para trás. ;Valendo meu processo, não sobra um governo do passado sem as mesmas características do meu. E poucos governos da Federação;, disse Dilma.

A mandatária também se defendeu de ter praticado crime ao assinar decretos sem a autorização do Congresso Nacional. ;Estou sendo objeto, e aí começa a grande injustiça, de meias verdades;, afirma. ;Pode ocorrer divergência política. Mas a divergência pura e simples não pode ser usada como fundamento do impeachment. Eu me sinto injustiçada e acho grave é que tentam sempre diminuir este fato, essa exigência;, alegou.

Corrupção veio à luz

Sobre acusações de corrupção, Dilma disse ainda não existir nenhuma investigação aberta contra ela. Questionada ao fim se não desconfiava das práticas ilícitas que ocorriam à sua volta, Dilma ressaltou que no governo dela e de Luiz Inácio Lula da Silva, foi quando os escândalos vieram à tona porque houve investigações sem qualquer controle do governo. Afiirmou ainda não saber do que ocorria, porque a corrupção ocorre "às escuras". ; Ela (a corrupção) foi descoberta, revelada e colocada à luz agora. Antes, o procurador-geral da República era chamado de engavetador-geral da República;, disse.

Bolsonaro e Ustra

A presidente foi questionada sobre o que achou do voto do deputado federal Jair Bolsonora (PP-RJ), que dedicou ao general Carlos Alberto Brilhante Ustra o posição favorável ao impeachment. "Eu acho lamentável. Eu fui presa nos 70. De fato, conheci bem esse senhor ao qual ele se refere, foi um dos maiores torturadores do Brasil. Recai sobre ele não só acusação de tortura, mas de morte. É só ler os papéis da Comissão da Verdade e outros relatos. Lastimo que esse momento tenha dado abertura à intolerância ao ódio ou outro tipo de fala. A aventura golspista levou a uma situação que não vivíamos no Brasil, que é a de raiva, ódio, perseguição", respondeu, com a voz embargada.

Jogos Olímpicos

Dilma ainda disse que o Brasil será capaz de ser anfitrião de um dos melhores jogos olímpicos já feitos e que há estrutura para eles ocorrerem. ;Eu tenho certeza que nós temos uma base muito sólida que permite que sejamos um dos grandes players globais. (...) Hoje, estão todas as estruturas montadas. (...) Espero não ganhar só nas quadras, mas fora delas. Fizemos obras que transformaram o Rio. Tenho certeza de que serão os melhores Jogos Olímpicos desse país e do mundo."

População enganada na campanha

Dilma disse não ter enganado a população na campanha presidencial em 2014, e justificou o discurso à época e mudança dele com base em transformações na economia mundial que não poderia prever. A presidente é acusada de ter mascarado a crise. A petista diz que não tem como dizer que "voltaria atrás" na campanha. ;Eu acho que eu não enganei ninguém. Dizem que eu tinha de saber se o preço do petróleo ia cair em 2014, que o preço do minério de ferro ia despencar, nenhuma consultoria sabia. Se eu sabia que o Brasil ia sofrer a maior seca no sudeste, nenhum dos órgãos de previsão tinham esta indicação.;

Questões de gênero

Questionada, Dilma disse haver um componente de machismo no processo que corre contra ela. ;Tem misturado nisso tudo um grau de grande preconceito com uma mulher. Tem atitudes comigo que não teriam contra um homem;, avaliou.

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